Método Científico II – Os Filósofos da Guerra

Em continuação com o post anterior que acaba desta forma:

“No final do século passado um grupo de filósofos e sociólogos travou uma guerra com cientistas. Estes filósofos  descreviam  a ciência como uma ferramenta de repressão e de capitalismo. Voltaram a questionar como as afirmações científicas foram feitas. Além disso a ciência, para eles, não descreve a verdadeira realidade. É uma religião. Prometeram desmistificar as práticas científicas.”

Vou agora apresentar 3 desses filósofos que tentaram da forma mais ou menos correcta definir a ciência.

Para Thomas Kuhn a busca pela verdade objectiva não é o objectivo da ciência. A ciência é um método para resolver problemas com o uso de um sistema de crenças actuais. As crenças foram sendo actualizadas por alguns cientistas.

Para este filósofo a teoria da Relatividade de Einstein tornou-se aceite apenas porque se sobrepôs à teoria de Newton.

Outro filósofo que tentou definir a ciência foi Karl Popper: a ciência é o que se pode provar ser falso, ou seja, é o que pode ser falseado. Já verificámos que a ciência é um processo contínuo de experimentação e de refutação e verificação das próprias hipóteses. Popper afirma que o fundamento científico é a dúvida sistemática.

Esta definição ocorre hoje. Um cientista repete experiências em busca de alguma falha, o que daria uma nova abordagem e soluções, ou em busca de uma verificação, confirmação de resultados. Por este motivo, o que quer que aconteça em ciência é sempre um grande resultado. Alguns físicos do LHC esperam encontrar o Bósão de Higgs, para confirmar as previsões. Outros estão entusiasmados em não o encontrar para, assim, descobrir uma física “nova”. De qualquer forma dois grandes resultados, ou uma verificação das previsões ou uma física nova com tudo o que acarreta.

Já tentámos explicar as diferenças entre o método científico e o método das crenças. Já mostrámos diagramas e já fizemos vários comentários a posts sobre ciência e sobre crenças.

Aqui vou mostrar um diagrama incompleto mas bem explicativo.

Na ciência uma teoria é construída a partir da indução e, assim, deduzem-se novos factos. A indução consiste em propor uma lei como “todos os metais aumentam de volume quando aquecidos”. O problema da indução é que qualquer lei baseada nela requer uma excepção. Na dedução o enunciado “metais aquecidos expandem” é dada como garantida. “o cobre é um metal”. Ao usar a lógica podemos deduzir que o cobre é um metal e, sendo assim, irá expandir quando aquecido. Contudo, não se pode ter a certeza que foram examinados todos os metais. Assim, “a indução abre as portas à falseabilidade”.

Aqui está um diagrama simplificado, adaptado do livro “What This Thing Called Science?”, de como é construída uma teoria científica:

Paul Feyerabend, nos anos 1960 era da ideia de que “tudo vale” em ciência. Para este professor de Berkley “se os cientistas conseguem argumentos por meio das mesmas ferramentas que toda a gente”, então, “a verdade científica não é mais sólida que a verdade dos astrólogos” e de outros pseudo. Assim, todas as abordagens são igualmente válidas.

Como sabemos dizer que bebo água milagrosa para curar a gripe não é igualmente válido a dizer que tomo um anti-viral para curar a gripe. Isto porque há uma explicação por detrás da hipótese científica, enquanto que a explicação pseudo é frágil, ôca e sem nexo.

Fonte: What is Science

Pode fazer o downloar do livro “What This Thing Called Science?” aqui

3 comentários

  1. Lakatos:
    http://en.wikipedia.org/wiki/Imre_Lakatos#Research_programmes

    Basicamente, existe um “core” e ideias à volta (auxiliares), e o que vai mudando normalmente são as ideias à-volta.
    Exemplo: o centro do que é a gravidade não vai mudando, mas vai mudando sim o “cutting edge” do que sabemos sobre a gravidade.
    Newton não ficou falso só por aparecer Einstein. Einstein mudou as coisas “à volta”, para outras situações que Newton nem sequer tinha pensado.

  2. Qual é a ideia de Lakatos? Eu concordo com a ideia de Karl Popper

  3. Este é um excelente livro do Chalmers.
    Um dos melhores no mercado, sobre as “diversas facções” da filosofia da ciência.

    Curiosamente, sigo mais a ideia do Lakatos sobre o processo científico 😉

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