Deram-me a conhecer este artigo no jornal grátis aqui de Austin.
O caso tem a ver com um assassinato e com o tipo de provas que são aceites em tribunal.
Quando me deram a conhecer o artigo, disseram-me, e eu concordo com a análise, que é um caso onde a literacia científica é importante.
A ciência é extremamente importante nas nossas vidas, incluindo em sítios onde provavelmente nem pensamos nela, como neste caso, em tribunal.
Neste artigo, o que se vê é que em tribunal deram mais valor às “explicações por cenários” (argumento falacioso) do que à ciência, deram mais valor às evidências circunstanciais do que evidências científicas, deram mais valor aos testemunhos do que aos resultados científicos.
Eu não conheço o caso nem sei nada do julgamento. Mas algumas frases são sintomáticas:
“The case renews questions about the intersection of and tension between science and law – how courts and law enforcement professionals view and understand science, and how decisions are made about what kind of science is “good enough” to be deemed more telling or important than other compelling but decidedly nonscientific evidence.”
Dr. Lloyd White, deputy medical examiner: “[I]t is categorically impossible, beyond all reasonable doubt, that Ms. Trotter was killed and her body left at that location by … Swearingen”
Dr. Stephen Pustilnik, the chief medical examiner: “When you have objective forensic evidence and testimonial evidence – which is subjective – [that testimonial evidence] must be questioned and take a backseat to the objective science”
Assistant D.A. Delmore: “I don’t know anything about the science at play in the Swearingen case. The science is mystifying to me.”
Não sei nada do caso, mas a ideia que me dá é que preferem os cenários hipotéticos iniciais, do que a evidência científica.
Faz-me lembrar os “canais em Marte”. Mesmo após se ter provado que eram somente ilusões de óptica, muita gente recusou-se a acreditar que não havia canais, porque continuaram a querer seguir os cenários fantásticos com Marcianos super-avançados. Ou seja, entre os cenários inicialmente propostos e as evidências científicas posteriores, as pessoas preferem os cenários.
Faz-me também lembrar os inúmeros casos de OVNIs: as pessoas preferem dar mais valor aos testemunhos do que às evidências científicas.
Como disse antes, apesar de não ter a ver com astronomia e de eu não perceber do caso, parece-me claro pelo artigo que:
1 – A ciência é cada vez mais importante em todo o lado.
2 – As pessoas, incluindo este tribunal, preferem dar mais valor aos testemunhos para construir lindos cenários, do que às evidências científicas.
7 comentários
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Sei que é difícil de acontecer na vida real (será?), mas pelo menos nos filmes, o mais comum é vermos provas (científicas ou não) serem “fabricadas” pra culpar um inocente…
… Que no final da película consegue dar a volta por cima.
Author
Estive a ver ontem na CNN um caso em que foi fabricado… mas não a ciência.
As evidências circunstanciais foram fabricadas de modo a culpar o suspeito que tinham prendido.
Vários anos depois, com a ajuda da ciência (DNA) foi provado que não tinha sido essa pessoa…
Houve um caso em Portugal de um homem que esteve preso durante anos porque uma miúda (por vingança, pois tinha sido rejeitada por ele) se lembrou de dizer que tinha sido violada por ele. Achas que a falta de evidências da violação contou alguma coisa? O pobre coitado só saiu quando ela finalmente se descaiu e teve de admitir que tinha mentido. E agora quem devolve o tempo perdido? Os testemunhos continuam a valer mais que evidências físicas…
Isso me lembrou um fato ocorrido nos anos 70 (ou começo dos 80.não tenho certeza) sobre um tribunal aqui no Brasil que absolveu um acusado de homicídio, devido a um “médium” (Chico Xavier) ter psicografado uma carta da vítima aonde esta absolvia o acusado. O engraçado é que ninguém lembrou de perguntar para a vítima, via o “médium” quem foi o verdadeiro assassino …
Alexandre,nofilme do Chico este fato é relatado.E no próprio filme é relatado que,o incidente não foi proposital,e sim um acidente.A arma disparou sem querer,por isso o réu foi absolvido.
Recomendo vivamente este filme que é um clássico:
http://en.wikipedia.org/wiki/12_Angry_Men_(1957_film)
Sobre o filme:
Um jovem porto-riquenho é acusado de ter matado o próprio pai e vai a julgamento.
Doze jurados se reúnem para decidir a sentença, com a orientação de que o réu deve ser considerado inocente até que se prove o contrário.
Onze dos jurados, cada um com sua convicção, votam pela condenação.
O jurado número 8, o sr. Davis, é o único que acredita na inocência do jovem e, enquanto tenta convencer os outros a repensarem a sentença, traços de personalidade de cada um dos jurados vão sendo revelados.
Link em Português: http://pt.wikipedia.org/wiki/12_Angry_Men
Um problema grave:
http://en.wikipedia.org/wiki/Forgetting_curve
Quantas injustiças poderiam ter sido evitadas?
http://en.wikipedia.org/wiki/Eyewitness_identification
The Innocence Project has facilitated the exoneration of 214 men who were convicted of crimes they did not commit, as a result of faulty eyewitness evidence.
Sugiro uma vista de olhos á longa lista de “Causes of Eyewitness Error”…
A velha expressão do “Ver para crer” tem (mesmo) muito que se lhe diga…
http://en.wikipedia.org/wiki/Eyewitness_memory
Procuro pessoas interessadas em “Moot Courts”, pois estes “julgamentos simulados” podem ser poderosas ferramentas didáticas, e um modo único de se ir construíndo uma verdadeira “ponte” entre as diversas ciências e o “mundo” do direito e da justiça.
Um exemplo:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Philip_C._Jessup_International_Law_Moot_Court_Competition
Lista completa:
http://en.wikipedia.org/wiki/Moot_court
E sugiro uma atenção “muito especial” a este Moot Court: http://en.wikipedia.org/wiki/Manfred_Lachs
The International Institute of Space Law (IISL) was founded in 1960 as a spin-off from the International Astronautical Federation. http://en.wikipedia.org/wiki/International_Institute_of_Space_Law
Sabes, eu assusto-me com esta “justiça” em que a prova testemunhal é considerada tão relevante. As pessoas mentem, enganam, aldrabam. As pessoas mentem a elas mesmas, enganam-se, aldrabam-se. A mente prega-nos partidas. As ilusões existem em todo o lado.
Por isso, não percebo, mesmo, como é q as provas testemunhais têm tanta relevância… basta uma mentira para condenar um inocente ou ilibar um culpado.