Desmistificar o Bosão de Higgs

É frequente ouvir dizer que o bosão de Higgs é o responsável pelo facto das partículas terem massa. Cada tipo de partícula interage com uma intensidade diferente com o bosão. As que não interagem viajam à velocidade da luz e têm massa 0. As que interagem pouco têm massas pequenas e vice-versa para as partículas mais maciças. No entanto, o bosão é apenas responsável pela massa das partículas elementares como os leptões e os quarks. Poderia pensar-se então que a massa de uma partícula não elementar, por exemplo um protão ou um neutrão, é simplesmente a soma das suas partículas constituintes. No entanto, medições experimentais mostram claramente que, por exemplo, os dois quarks “up” e o quark “down” que formam um protão contribuem apenas com uma massa total de 11 MeV/c2 para a massa total observada do protão de 938 MeV/c2. Dito de outra forma, os quarks que formam um protão contribuem com menos de 2% para a sua massa ! De onde vêm então os restantes 98% ?

A energia total do protão é a soma das energias associadas à massa dos quarks que o compõem (os 11 MeV/c2), da energia cinética total dos quarks e da energia potêncial devida à força que os une. E massa é equivalente a energia pela famosa equação de Einstein. Ora, os quarks movimentam-se no interior do protão a velocidades relativísticas pelo que a sua energia cinética total é muito elevada. Por outro lado, a força nuclear forte que une os quarks e que é transmitida por bosões de massa zero denominados de gluões é fortíssima, pelo que a energia potêncial dos quarks é também muito elevada e positiva. De facto, a força nuclear forte tem propriedades estranhas pois parece ser muito fraca quando os quarks estão muito próximos e cresce rapidamente de intensidade à medida que estes se afastam. Podem imaginar este efeito da força como um elástico a unir os quarks. Quando estão muito próximos o elástico tem muita folga e praticamente não exerce força; quando os afastamos o elástico estica e não permite que os dois se afastem para além de uma distância limite. A intensidade da força forte no interior do protão é tão elevada que os gluões trocados entre os quarks “up” e “down” estão constantemente a estimular o vácuo e a criar pares quark-antiquark virtuais de vários tipos que contribuem para a energia do protão. A imagem seguinte mostra um diagrama do interior de um protão com os quarks “up” e “down” que o compõem e os gluões, representados por correntes, que momentaneamente se transformam em pares quark-antiquark.


(Crédito: webspace.utexas.edu/cokerwr/www/Talk/pmass.html)

Em resumo, a maior parte da massa do protão provém da energia cinética dos quarks e da energia de ligação da força nuclear forte. O mesmo se aplica ao neutrão que é composto por dois quarks “down” e um “up”. Como os núcleos atómicos são de longe a componente mais maciça dos átomos, podemos dizer que a maioria da massa dos corpos macroscópicos (como nós!) é proveniente não das massa das partículas elementares que os constituem mas antes da energia cinética dos quarks e da energia de ligação proporcionada pela força nuclear forte.

2 comentários

  1. Dr. Luís Lopes

    Achei o sua explicação muito boa, bem como o esquema.
    No entanto como já estudei o átomo há quarenta anos,e não era conhecido interior do protão naquela altura, agora dava- me jeito que indicasse as etiquetas com as devidas correspondências para poder compreender melhor.
    Obrigada e desculpe o meu pedido.
    Maria da Graça Sousa

  2. Para quem não está habituado a conceitos tão “esotéricos” é muito dificil assimilar estas explicações!
    Mais uma vez conhece-se as interacções, mas o que na realidade as provoca é que parece território desconhecido!
    É como entender realmente o que é a carga eléctrica!
    É como entender o que provoca o magnetismo; o spin? E se o fôr, qual a forma da
    “particula” e “forma” do spin para que tal aconteça como o é detectado?
    Neste nomento tenho o “buraco da fechadura” tapado por uma chave do outro lado!
    Não consigo ver alguma coisa!
    Na realidade nunca consegui,tirando uns momentos com mais luz na dita fechadura, mas sem se “vêr” o que se passa no outro lado! Mas existia uma réstia de esperança!
    De qualquer forma, obrigado pelo artigo Luis Lopes!

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