In Time (Sem Tempo – O Preço do Amanhã) é um filme com uma premissa extremamente interessante.
No futuro próximo (2169), a velhice será evitada: o gene do envelhecimento será travado.
As pessoas vão parar de envelhecer aos 25 anos – vão viver sempre com 25 anos.
Para evitar população a mais, a sociedade inventa um esquema capitalista: aos 25 anos, as pessoas têm somente mais 1 ano para viver.
Se quiserem viver mais que 1 ano, a alternativa é irem comprando mais tempo.
Assim, a moeda de troca (o dinheiro) é o tempo de vida que temos.
A renda de casa, a conta da luz, o almoço, etc, paga-se tudo em tempo de vida.
Os ricos são quase imortais, podendo viver praticamente para sempre.
Em vários casos, têm mais de 1000 anos de vida para viver.
Em alguns casos, têm 1 milhão de anos guardados no cofre.
Estes ricos, os que têm mais tempo de vida (por herança, por negócios, etc), são obrigados a isolarem-se para não serem roubados/mortos.
Aliás, existem Zonas de Tempo.
Para se passar de uma Zona de Tempo para outra, tem que se pagar Tempo de vida na fronteira. Para passar para a zona mais rica, é preciso pagar 1 ano de vida.
Os muito ricos vivem, assim, à parte do resto da sociedade – aqueles que só têm algumas horas de vida e todos os dias têm que trabalhar para terem mais horas de vida.
Provavelmente no futuro – com o desenvolvimento da engenharia genética – é mesmo isto que teremos: não $$$, mas sim tempo de vida para comprar… e teremos que trabalhar para ganhá-lo.
Vai haver também quem roube esse tempo de outros e quem mate pessoas para ficar com o seu tempo restante de vida.
Ou seja, o sistema capitalista mantém-se, a luta por deter o controlo/poder continua, as conspirações perduram, a desconfiança é exacerbada, os roubos persistem, e os assassinatos sucedem-se.
Curiosamente, roubos e assassinatos são quase sinónimos, já que se rouba o tempo de vida das pessoas, levando-os à morte.
A luta pela sobrevivência é, literalmente, uma situação de vida ou de morte.
No braço, eles têm o relógio com o tempo que lhes resta para viver.
O número diz: os anos, as semanas, os dias, as horas, os minutos, e os segundos que faltam para a morte.
Na imagem em cima, por exemplo, a pessoa tem 116 anos, 39 semanas, 3 dias, 23 horas, 58 minutos, e 38 segundos para viver.
Sinceramente, não entendo o porquê da inclusão das “semanas”. Não faz sentido.
Os números estão escritos nos braços de forma semelhante aos campos de concentração nazis.
Isto pode querer dizer que eles estão marcados para morrer.
Não só as pessoas estão presas aos números, ao seu relógio biológico, mas esta prisão irá seguramente levá-los à morte (quando os números chegarem a zero).
Existem algumas expressões engraçadas que se baseiam nas nossas expressões do dia-a-dia.
Por exemplo:
Vir de uma família rica: certa pessoa “comes from money”.
Passa a ser: certa pessoa “comes from time”.
Os empréstimos de dinheiro, passam a ser “empréstimos de tempo”.
Uma das cenas mais poderosas do filme é quando a personagem de Justin Timberlake corre para a sua mãe (a personagem de Olivia Wilde) para salvá-la, e ela morre mesmo no segundo anterior a se tocarem.
No resto do filme, a personagem de Justin Timberlake vai vingar a morte da mãe, tentando acabar com os ricos e com o sistema capitalista.
É bastante interessante não se conseguir distinguir quem são os avós, os pais, os filhos ou os netos, porque são todos da mesma idade: 25 anos.
Quando olhamos para uma jovem, nunca sabemos se ela tem mesmo 25 anos ou 30 anos ou 350 anos…
Também muito interessante é verificar que quem tem pouco tempo, corre, anda depressa, e faz as coisas (como comer) de forma rápida.
Quem é rico, é lento a fazer as coisas.
O comportamento pessoal muda, de acordo com o tempo que se tem de vida.
As pessoas sabem exactamente quando vão morrer, com uma precisão ao minuto e ao segundo.
Quando está a faltar o tempo, este conhecimento é aterrorizante…
Foi curioso quando a personagem de Olivia Wilde tentou regatear com o condutor do autocarro.
Ela também pediu a outros transeuntes que lhe dessem uns minutos de tempo (uma esmola, como se fosse dinheiro) e ninguém a quis ajudar, virando-lhe as costas.
Em termos de gestão populacional, como toda a gente pode ter 25 anos indefinidamente, irá existir seguramente excesso de população rapidamente.
Para controlar o crescimento populacional, o governo sobe os preços das coisas e sobe os impostos. Como se paga com tempo de vida, mais pessoas morrem.
Existem até empréstimos de tempo, com juros sempre a aumentarem. Com juros elevadíssimos, é normal rapidamente as pessoas ficarem sem tempo (e falecerem).
O filme está cheio de críticas sociais.
Por exemplo, o capitalismo actual é fortemente criticado.
O pedido de esmola, com toda a gente a recusar, é também uma crítica social ao que o “normal cidadão” faz aos mais necessitados.
As pessoas não quererem olhar, estarem insensíveis aos que morrem porque não foram ajudados, é também uma crítica aos tempos actuais.
Também achei interessante a referência no filme ao facto dos pobres morrerem mas os ricos também não desfrutarem a vida.
Os ricos não vivem, só sobrevivem; já que não se divertem, nunca fazem nenhuma “tolice”, nada corajoso, nada arriscado, porque têm medo de morrerem. Por exemplo, apesar de viverem na praia, os ricos não nadam no mar, porque têm medo de se afogarem.
Não gostei da má utilização do conceito de Darwinismo.
Compreendo que se fala em Darwinismo social, mas para mim é um erro impôr termos científicos a experiências sociais.
À ciência o que é da ciência. Uma coisa é conhecimento científico objectivo; outra coisa são experiências sociais. Misturá-las é enganar as pessoas.
Até entendo que, no filme, o propósito tenha sido a crítica social, no entanto parece-me que promove a ideia que o Darwinismo (a ciência) é algo que se deve combater e evitar – e se assim fôr, é absolutamente errado.
4 comentários
Passar directamente para o formulário dos comentários,
Este filme é de um realizador que fez um dos mais interessantes filmes de FCque vi,o fabuloso GATTACCA,com Ethan Hawke e Ulla Thurmann
Esse é um dos meus filmes favoritos! 😉
Mais uma razão para ver, cast: Olivia Wilde, Johnny Galecki do TBBT, Cillian Murphy do Batman Begins. Este filme parece-me ser bastante interessante, de certeza que vou ver ao cinema 😀
Os bancos do tempo já existem hoje em dia… talvez numa outra lógica, (por enquanto).
Bancos de tempo cada vez mais usados contra a solidão
http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1324230
O modelo de Banco de Tempo inspirou-se na filosofia dos bancos de tempo que apareceram em Itália no início da década de 90. Não há troca directa de serviços: o tempo prestado por um membro é-lhe retribuído por qualquer outro membro. http://www.bancodetempo.net/index.php?option=com_content&view=frontpage&Itemid=1
Time banking is a pattern of reciprocal service exchange that uses units of time as currency. http://en.wikipedia.org/wiki/Time_banking
In economics, a time-based currency is an alternative currency where the unit of exchange is the man-hour. http://en.wikipedia.org/wiki/Time-based_currency
Será que mencionam a actual investigação sobre os telómeros http://pt.wikipedia.org/wiki/Tel%C3%B4mero neste novo filme?
Não li este livro: http://en.wikipedia.org/wiki/Logan's_Run
Mas vi e gostei deste filme, ( Fuga do Século XXIII – Logan’s Run http://en.wikipedia.org/wiki/Logan%27s_Run_(film) embora o design gráfico dos “life-clocks” agora pareça um bocado http://en.wikipedia.org/wiki/Kitch e uma boa parte dos efeitos especiais (não todos) tenham perdido muito do seu “futurismo” e “modernismo” ao longo dos anos…