O recente desaire com o lançamento do satélite ShiJian 11-04 pode ter sido a ponta do iceberg nas difulculdades que ultimamente parecem estar a afectar o programa espacial da China. Numa aparente necessidade de mostrar uma rápida cadência na sua capacidade de executar com eficiência as missões que lhes são confiadas, os especialistas chineses parecem ter descuidado a preparação dos seus lançadores. A situação torna-se mais evidente quando surgem rumores que os problemas já haviam sido detectados, mas aparentemente as soluções implementadas ter-se-ão somente a tapar o problema em vez de o resolverem a fundo.
Mas porquê a necessidade de tão rápida cadência de lançamentos? Será que a China tem a necessidade de mostrar ao mundo que é capaz de estar entre o topo das nações espaciais principalmente numa altura em que os Estados Unidos não terão chegado ao fundo da sua curva descendente? Em minha opinião, penso que não. A China já demonstrou no passado as suas capacidades espaciais e o desenvolvimento do programa espacial tripulado mostra isso mesmo (se bem que tendo por base os conhecimentos e a aprendizagem de muitos anos por parte dos outros competidores).
Para 2011 a China previa levar a cabo cerca de 20 lançamentos orbitais. Tendo efectuado somente dois destes lançamentos até Junho, previa-se uma actividade intensa nos três polígonos espaciais para o segundo semestre do ano e de facto ela estava a acontecer. Com quatro lançamentos em Julho e três lançamentos em Agosto (estando mais dois previstos para este mês), a China parecia lançada para um novo recorde anual no que diz respeito ao seu número de lançamentos orbitais num só ano. Infelizmente, o primeiro desaire com o foguetão Chang Zheng-2C parece ter colocado todo este programa em risco.
Porém, parece que este não é o único problema que terá acontecido nas últimas semanas. A 11 de Agosto a China colocou em órbita para o Paquistão o satélite de comunicações PakSat-1R. A análise dos seus parâmetros orbitais mostra que tanto o satélite como o último estágio do foguetão lançador CZ-3B/E Chang Zhenh-3B/E se encontram ainda numa órbita preliminar mais de dez dias após o lançamento. Com um perigeu perigosamente baixo a 129,1 km de altitude, parece urgente a realização de uma manobra que eleve o satélite para altitudes mais seguras evitando assim os efeitos do atrito atmosférico. No entanto, e convém salientar, o Comando Espacial dos Estados Unidos sempre teve dificuldades em seguir os satélites lançados pela China a caminho da órbita geossíncrona e os parâmetros orbitais recentemente divulgados podem mostrar apenas o estado do satélite após a sua separação e não o seu estado actual.
O recente fracasso espacial da China, e ao contrário do que as autoridades chinesas indicam, levará quase por certo ao adiamento do lançamento do módulo espacial TianGong-1. Nos últimos dias surgiram rumores de que teria sido encontrado um problema com o foguetão lançador CZ-2F/G Chang Zheng-2F/G-T1 e juntamente com os problemas que levaram à desgraça do último lançamento orbital, poderemos assistir ao reformular total dos planos espaciais chineses para 2011. Para um país que pretende afirmar o seu lugar no lucrativo mercado internacional do lançamento de satélites (tendo previsto o lançamento do satélite Eutelsat-W3C em Setembro e do NigComSat-1R em Dezembro), é urgente que a China resolva os problemas de controlo de qualidade no fabrico dos seus lançadores para assim incutir nos mercados a confiança que faça aproximar os potenciais clientes a utilizar os seus lançadores mais baratos e fiáveis.
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