Uma equipa de astrónomos da Universidade de Hamburgo publicou um artigo descrevendo observações da estrela hospedeira do exoplaneta CoRoT-2b, realizadas com o telescópio Chandra, em raios X, e com o telescópio Kueyen do Very Large Telescope (VLT), no visível, que revelam a sua actividade magnética extrema. Os astrónomos notam que um tal nível de actividade é anormal para a idade da estrela e apresentam fortes evidências que apontam para a possibilidade de ser a interacção com o planeta, um Júpiter Quente, que poderá estar na origem desta actividade anormal.
O resultado desta interacção é dramático. A forte actividade magnética da estrela produz raios X em abundância, os quais irradiam o planeta com uma intensidade cerca de 100 mil vezes superior aos raios X que atingem a Terra provenientes do Sol. A intensidade da radiação é tal que parece estar a erodir lentamente o planeta o qual perde gás a um ritmo estimado de 5 milhões de toneladas por segundo !
(A curva de luz da estrela CoRoT-2. A variação no brilho da estrela é evidente e devida ao trânsito de manchas na sua fotosfera, semelhantes às manchas solares, mas de maior dimensão e em maior número. Os trânsitos do planeta são visíveis como linhas verticais que descem abruptamente a partir da curva de luz da estrela. Crédito: missão CoRoT.)
Sebastian Schroeter, um dos autores do artigo, descreve a situação desta forma: “Este planeta está a ser frito pela estrela. O mais estranho é que poderá ser o planeta que está na origem do comportamento anormal da estrela”. As observações no visível e em raios X permitem deduzir uma idade de 100 a 300 milhões de anos para a estrela, o que quer dizer que está plenamente formada, realizando a fusão do hidrogénio em hélio na sequência principal. A estrela, no entanto, apresenta um nível de actividade magnética que é típico de estrelas muito mais jovens.
Stefan Czesla, outro dos autores explica: “Uma vez que o planeta está tão próximo da estrela, é possível que esteja a acelerar a sua rotação, contribuindo para a manutenção dos níveis de actividade magnética anormais observados. Se não fosse pelo planeta, a estrela já teria deixado para trás os elevados níveis de actividade típicos da sua juventude”. De facto, os astrónomos encontraram fortes evidências que suportam esta ideia. CoRoT-2 tem uma estrela companheira, menos luminosa e mais fria, de tipo espectral K tardio, a uma distância de cerca de 1000 unidades astronómicas. Se a actividade da CoRoT-2 fosse de origem intrínseca, devida à sua idade, seria de esperar que a sua estrela companheira fosse também bastante activa. Observações realizadas com o telescópio Chandra apenas detectam a CoRoT-2 em raios X, o que implica que a sua companheira é pouco activa. A presença de um planeta maciço numa órbita tão apertada em torno de CoRoT-2 parece demasiada coincidência.
Os autores especulam ainda sobre o efeito da forte irradiação por raios X na atmosfera do planeta e se esta poderá explicar o seu raio anormalmente grande. Sebastian Schroeter diz: “Não conhecemos todos os efeitos que esta tempestade de raios X poderá ter no planeta, mas é possível que esteja na origem do raio anormalmente grande do CoRoT-2b. Estamos a começar a aprender o que pode acontecer aos exoplanetas nestes ambientes extremos.”
O CoRoT-2b orbita uma estrela anã de tipo espectral G7V que dista do Sol cerca de 880 anos-luz na direcção da constelação da Águia. Como disse, o planeta é um Júpiter Quente muito maciço e inchado, com 3.3 vezes a massa, e 1.4 vezes o raio, do planeta Júpiter. Estima-se que o planeta tenha uma temperatura de equilíbrio de cerca de 1500 Kelvin ! O período orbital é de apenas 1.7 dias e o planeta leva cerca de 125 minutos para completar um trânsito.
Podem ver a notícia original aqui e na página do Telescópio Chandra aqui. A tradução livre das declarações do autores é da minha exclusiva responsabilidade.
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