Já era especulado e agora foi observado. Muita coisa é assim na Astronomia, primeiro especula-se a existência, com ou sem um apoio da matemática, e depois observa-se. Foi assim com a expansão do Universo e foi assim com a existência de planetas orbitando um sistema duplo de estrelas.
A missão Kepler tem por objetivo descobrir planetas extrassolares, e sua acuidade permite observar planetas do tamanho da Terra. Antes da missão, só conseguíamos observar planetas de tamanho e massa comparáveis aos de Júpiter. Kepler é um telescópio espacial, que gira em torno do Sol em uma órbita quase idêntica à da Terra. Em uma de suas descobertas mais interessantes, a missão revelou um planeta orbitando um sistema duplo de estrelas.
Essa observação mostra que, de fato, é possível planetas se formarem em torno de sistemas duplo. E, como a maioria das estrelas em nossa galáxia pertencem a sistemas duplos, saber disso é bastante animador na procura de possíveis planetas habitados.
O planeta, que recebeu o nome de catálogo Kepler-16b, orbita o sistema Kepler-16, e está a cerca de 200 anos-luz de nós. A distância foi inferida por análise de magnitude da estrela mais brilhante.
A descoberta do planeta foi feita observando variações de brilho do sistema, num gráfico que chamamos de Curva de Luz, que mostra variação de brilho em função do tempo. Esse tipo de gráfico é extensamente usado na Astronomia. A figura abaixo mostra a curva de luz de Kepler-16. A estrela mais brilhante é a Estrela A, a menos brilhante é a Estrela B, e o planeta foi chamado de Planeta b – a diferença entre a estrela Kepler-16B e o planeta Kepler-16b é o “b” maiúsculo para a estrela e minúsculo para o planeta. O número 1 no eixo vertical dos gráficos indica o brilho do sistema sem nenhum eclipse ou trânsito. Clique na imagem para vê-la ampliada em outra janela ou aba (dependendo da configuração do seu navegador da internet)
Quando a Estrela B, passa na frente da Estrela A, o brilho do sistema diminui, caindo de 1 para cerca de 0,84, como mostra o primeiro gráfico da parte de baixo da figura. Quando ocorre o inverso, e a Estrela A passa na frente da Estrela B, o brilho cai menos, saindo de 1 para cerca de 0,985 como mostra o segundo dos gráficos, em amarelo. Os trânsitos do planeta nas duas estrelas produzem variações de brilho ainda mais sutis, fazendo o brilho do sistema cair para cerca de 0,987 quando passa na frente da Estrela A, e para cerca de 0,999 quando passa na frente da Estrela B.
O Keple-16b completa uma volta em torno de suas duas estrelas em cerca de 229 dias e é um pouco menor que Júpiter, tendo massa parecida com a de Saturno.
Esse tamanho de planeta é bem superior ao tamanho que a missão Kepler pode identificar, mas essa descoberta é importante por mostrar que existem planetas ao redor de sistemas binários.
Kepler-16b tem sido chamado informalmente pelos astrônomos de Tatooine, o planeta onde cresceu Luke Skywalker e onde nasceu Anakin Skywalker, personagens da saga Guerra nas Estrelas. Num dos filmes da série, é mostrado uma paisagem de Tatooine, durante o dia, com duas grandes estrelas, como dois sóis, no céu.
Ficção científica e ciência andam sempre de mãos dadas!
Para ler mais sobre Kepler-16b, sugiro os seguintes sites:
Matéria no New York Times (em inglês) – http://www.nytimes.com/2011/09/16/science/space/16planet.html?_r=1
Página do site da Missão Kepler sobre Kepler-16 (em inglês) – http://kepler.nasa.gov/Mission/discoveries/kepler16b/
Informativo da NASA sobre Kepler-16b (em inglês) – http://science.nasa.gov/science-news/science-at-nasa/2011/15sep_doublesuns/
Esse post foi também publicado no blog Astronomia.blog.br.
3 comentários
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Já agora, uma pequena dúvida que me surgiu, neste caso não será mais correto chamar uma estrela binária em vez de estrela dupla ou sistema duplo? 😛
Pela ideia que tenho, uma estrela dupla refere-se essencialmente a estrelas que não têm qualquer relação física, mas parecem estar próximas, quando vistas da Terra.
Um sistema binário, na minha opinião, penso que é um sistema em que as estrelas orbitam um centro de massa comum, estando por isso relacionadas fisicamente.
Neste caso trata-se de um sistema binário, certo? 🙂
Abraço!!
Sim, Nuno, esse é um dos casos. Tens razão 😉
O outro caso é histórico: historicamente os cientistas referiam-se a estrelas duplas… depois foi caindo em desuso e agora chama-se estrelas binárias e sistemas múltiplos (+ de 2 estrelas).
Mas sistema duplo não está mal, porque também inclui estes casos… mas entrou em desuso. 😉
Quer dizer, quando digo desuso estou-me a referir aos EUA… o Leandro é do Brasil e não sei se lá o mais correcto será duplo 😉
Uma explicação simples e eficaz que deveria vir nas páginas dos nossos jornais diários em Portugal (no Brasil não sei), se fossemos um país diferente, com pessoas diferentes, que se preocupassem mais com o conhecimento do que com as banalidades que nos levarão à falência.
Parabéns.
[…] românticos sóis no céu porque não existe uma superfície sólida onde apoiar os pés. Sim, o Kepler-16b deve ser um grandalhão gasoso do tipo Saturno e a temperatura (entre 100 e 70 graus celsius […]
[…] Quinteto, Mais 10 + 18 + 50. HD 132563. HD 85512b, HD 10180, HD 40307g, Kepler-10b, Kepler-11, Kepler-16b (Tatooine), Kepler-20e e 20f, Kepler-22b. Kepler-62, Kepler-69. Diamante. 55 Cancri-e de diamante. […]