Na passada 6ª-Feira, dia 14 de Outubro, juntámos um pequeno grupo de amigos do AstroPT, para levarmos as nossas crianças a uma sessão de Astronomia junto ao mar, na praia.
Estava um luar radioso, o que tem vantagens e desvantagens, mas para nós o importante era estarmos juntos, e desfrutarmos duma noite que mais parecia dum clima subtropical.
Depois dum belo jantar, era hora de marcharmos, que a Lua já nascera, Júpiter fazia-lhe companhia, e o entusiasmo crescia.
Vieram a Lara, a Nuria, o Lucas, a Inês, a Isabel, o Rafael, o João, a Sofia, o Nuno e a Cristina. Um grande grupo.
Estava maré baixa, com notável amplitude, e havia que habituar os olhos a um mundo que afinal, por causa das luzes da iluminação pública, parece sempre afastado de nós: o mundo dos Astros.
O equipamento era notável, cada qual tinha um par de olhos cheios de curiosidade, e, para mais, a Associação de Bombeiros Voluntários da nossa querida Aldeia emprestara-nos um magnífico par de binóculos.
Lá fomos então, bem equipados e melhor jantados.
A sessão começou por vermos o luar a bater contra as falésias, ali com mais de cem metros de altitude, e começou com naturais dificuldades. Afinal era de noite, crianças são crianças, e a Lara, que é ainda muito nova, teve um pouco, mas foi só um pouco, de medo das grutas ali existentes.
Lua tal como esta se apresentou a 14 de Outubro de 2011.
Então não faz mal, fomos para o outro lado da praia para não haver cá medos de grutas, e deitámo-nos confortavelmente na areia para iniciarmos as nossas observações.
Já agora, alguém sabe onde fica o Norte?
Mas logo passou uma luz nos céus, um traço certo e vagaroso, e o que seria? Verificávamos a passagem dum satélite artificial.
De seguida, foi o João que quase gritou: um meteorito, que lindo, nunca tinha visto um meteorito. Muito bem João, só que era um meteoro, uma estrela cadente, pois seguiu nos céus, se fosse um meteorito pumba tinha caído na Terra. Quem provoca uns e os outros são os meteróides.
Agora sou eu, disse a Lara, porque é branca a Lua, assim tão branca? Ai ai ai Lara, deve ser por causa da reflexão da Luz do Sol na Lua. Já aprendemos que as estrelas é que emitem luz e os planetas reflectem a luz das estrelas, mas essa pergunta é difícil, e muito boa. Deve ser também por causa da composição cristalina da Lua.
Bem, na verdade estava errado, e podia ter visto que Júpiter também parece branco e é feito de gás, então depois fui ver que é para também aprender. Quando não sabemos não devemos ter vergonha de perguntar, que é para aprendermos, então aqui está a resposta da NASA. Então Lara, já estou a aprender contigo, que grande pergunta. És uma grande compincha da Astronomia!
Alô querida Nasa?
Hello aqui NASA a responder:
“Tenho 3 anos de idade e quero saber porque razão a Lua é branca à noite e amarelada durante o dia, o meu Pai é Astrónomo mas como é um bocadinho tonto não me sabe dizer.
Quando olhas para a Lua durante o dia, os teus olhos vêem o fundo azul do céu, e o teu cérebro pensa que a luz é azul e resolve de que cor é a Lua sob essa coloração do céu. Quando olhas para a Lua à noite, o cérebro tem mais dificuldade já que não tem por onde adivinhar de que cor é a luz. Isto contribui para a diferença da cor aparente.
Outra possibilidade, que decerto também contribui, é que a diferença da cor é devida à luz no céu. Quando olhas para a Lua durante o dia, vês o luar, mais toda a luz do Sol que é dispersa pela atmosfera entre ti e a Lua. À noite, a atmosfera não tem qualquer luz solar para dispersar.”
Olha, outra estrela cadente, um meteoro, já vi dois, disse o João.
Vai daí o Rafael perguntou mas então porque é o Sol assim que se parece encarnado quando se põe?
E parece quase branco quando está lá no alto, no cocuruto. Bem João, também é uma grande pergunta, é por causa da dispersão da luz, a luz bate na atmosfera como uma bola de bilhar, de raspão, e dispersa-se, vão uns pacotinhos de luz para um lado e outros para o outro. Chama-se dispersão de Mie e dispersão de Rayleigh.
Que nomes giros, disse a Sofia, tu sabes tanto. Ó Sofia, nós sabemos já muitas coisas, mas não é assim tanto, temos muito mais para aprender.
Mas é Júpiter ali no alto, então não é Vénus, assim tão brilhante, perguntou o Rafael, e acrescentou; é tão pequenino.
Parece pequenino porque está muito longe Rafael, mas olha bem, o Júpiter é um Planeta gigante.
Crédito Churchill Sciences. Lua, Vénus e Júpiter.
Ah, parece magia, respondeu o Rafael. Pois parece, mas não é, é mesmo de verdade, Sabes, para mim, magia parecem os bonecos que faz o Faraújo, o Mestre Artesão da nossa aldeia, como será que ele tem tanta imaginação? O Lucas riu-se e disse que lá isso também é verdade.
Imagem Com direitos de autor – Artista Faraújo
Gentilmente cedida ao AstroPt
Depois, reparámos que a Inês estava a achar aquilo um bocadinho seca, mas o Nuno, com os seus olhos verdes e cara sorridente, salvou a situação, e exclamou com toda a determinação: vou então explicar a Teoria do Big Bang.
Explica explica, disse a Inês, que então ouviu muito atentamente as explicações dos olhos verdes, perdão, do Nuno. A Inês ficou um bocadinho encarnada como Marte mas o Nuno, que é um jovem cavalheiro muito interessado em Astronomia, também explicou que eles não são namorados e que são sim é muito amigos.
Será que existem estrelas verdes? Presumo que tenha imaginado, vá-se lá saber porquê. São perguntas naturais naquelas idades e nas outras também. Bem, a percepção da cor é um assunto algo complicado, mas sempre se pode dizer que o Sol, a nossa estrela, emite a maior parte da sua luz, melhor, da sua radiação, no Verde, ou no amarelo e no verde, só que nós e os nossos fantásticos olhos vêem nos níveis de energia do amarelo, do branco e até do encarniçado quando o sol se põe. O que é um facto é que esse tema está aberto à discussão e à investigação, pois ainda é um mistério porque, raios, o Sol ainda não tem todas as suas linhas espectrais de absorção identificadas.
E quando se levanta também! Disse logo o João, que se levanta cedo para ir para Escola e está sempre muito atento a estas coisas.
Bem, e afinal, já sabem onde fica o Norte? Na estrela Polar – prosseguiu o Nuno, aquela que parece estar ali – mas hoje não se vê bem por causa da Lua, num papagaio de papel pequenino não longe da Ursa Maior. É na Ursa Menor, e é a estrela que indica o Norte!
Bem, o Nuno foi logo ali promovido a assistente de sessão de astronomia, bem merece pois que se farta de estudar para ser bom aluno. Mas ó Nuno, a estrela Polar é um sistema com várias estrelas.
-uau, que loucura, várias?
Sim, podemos até contar 5, mas como 2 estão muito distantes, há quem diga 3, e repara, é o mesmo fenómeno que faz Júpiter parecer pequenino, já que a principal é uma supergigante, mas está tão longe que a luz das 4 estrelas se mistura nos nossos olhos e parece uma. Olha lá outra vez Júpiter, não vês que parece assim um pouco gordinho? Se olharmos bem com um telescópio podemos até ver 4 satélites que foram descobertos por Galileo.
Como temos estes binóculos, podemos ver agora as montanhas e os mares, ou seja as planícies, da Lua.
Devemos é encostar-mo-nos a uma rocha para isto não tremer, para podermos ver tudo bem.
Não faz mal, vamos para ali para o pé das grutas, disse a Lara.
Também não é preciso ires a correr, disse a sua Mãe.
Agora, bem, agora termina aqui esta pequena história, pois ali naquela correria começou outra história que eu tenho por muito, mas mesmo muito importante. Chama-se fim do medo e confiança em si própria.
Parabéns Lara, Parabéns Lucas, sempre ao pé da sua irmã, e parabéns a todo este fantástico grupo.
—
Agradecimentos: agradecemos todos aos Bombeiros Voluntários de Almoçageme e ao artista plástico Faraújo.
Dedicado à Memória de Maria Berta Ávila de Melo, Directora do meu colégio de instrução primária, o externato O Lar da Criança.
11 comentários
Passar directamente para o formulário dos comentários,
Sabes, para mim, magia parecem os bonecos que faz o Faraújo, o Mestre Artesão da nossa aldeia.:))
Agradeço a toda a gente o grande incentivo que dão, claro, mas lembrem-se duma coisa mais simples, como se lembrou o Sérgio: arranjem um programa semelhante ou até com enquadramento profissional. Digo-vos, por experiência própria, que é um programa que também faz e sabe muito bem aos adultos. :))
Por exemplo:
O anúncio no Astropt
http://www.astropt.org/2011/10/24/astronomia-em-matosinhos/?fb_ref=.Tqf5ww28y4U.like&fb_source=profile_oneline
O programa
http://www.cm-matosinhos.pt/pages/3?event_id=1646
Obrigado
O post está excelente,como não poderia deixar de ser.Grande passeio.
È de enaltecer o trabalho realizado pelo Manel.
O meu agradecimento por incluires a minha obra neste teu trabalho.
Desejo-te todo o Sucesso
Abraço
Faraújo
Imagino o quanto deve ter sido divertido!haahA
Concordo com a Ana: Crianças sortudas!!!
O post é 5*****
Este tem que sair na próxima edição da revista, vou falar com o editor 😉
Excelente post Manel, e que belo programa !
Foi um pedaço de noite muito bem passado sim senhor professor Manel. No início a excitação era tanta, todos falavam ao mesmo tempo… que ninguém se entendia mas depois, todos deitados de costas na areia a olhar para as estrelas…a ouvir aquelas explicações todas, valeu! Parabéns Manel e obrigada!
Boa noite e Obrigado, Maria. A Maria Gouveia fez parte do grupo, e ofereceu um jantar delicioso. Fica aqui o meu agradecimento a ti dedicado. :)))
Obrigada amiguinho mas foi com muito gosto. É verdade, ainda há sorvete…!
Excelente programa, Manel! E uma excelente ideia para um serão com o meu miúdo de 5 anos e os seus amiguinhos. 😛
Também quero ir à praia!!!!! 😀
Que noite espectacular essa!!!!!!!! Que inveja!!!!! Tb quero umas aulinhas de astronomia com o professor Manel!! Crianças sortudas!!! :))))