Planeta em Torno de ν-2 Canis Majoris

O projecto Pan-Pacific Planet Search (PPPS) utiliza o Anglo-Australian Telescope (AAT), de 3.9 metros, para medir a velocidade radial de 170 estrelas sub-gigantes (que abandonaram recentemente a sequência principal, tendo esgotado o hidrogénio no seu núcleo que é agora formado por hélio inerte), ricas em metais e mais brilhantes que magnitude 8. Trata-se de uma extensão para o hemisfério Sul de um projecto iniciado nos observatórios Lick e Keck designado de “retired A stars” (estrelas de tipo A reformadas), liderado por John Johnson. Ambos os projectos têm como objectivo a detecção de planetas em estrelas com massas ligeiramente superiores à do Sol, que na sequência principal correspondem aos tipos espectrais A e F. A ideia é perceber qual a influência da massa da estrela hospedeira na formação de planetas. A escolha de estrelas ricas em metais tem ainda o objectivo de determinar se a forte correlação observada entre a abundância de metais e a existência de planetas nas estrelas de tipo G e K é também observada nestas estrelas mais maciças.

Neste artigo publicado hoje, a equipa do projecto dá conta da descoberta de um planeta em torno de uma estrela facilmente visível a olho nu. Trata-se de ν2 Canis Majoris, também designada de 7 CMa e HD47205, uma estrela gigante situada a 65 anos-luz e que pode ser observada muito próximo da famosa estrela Sirius (α Canis Majoris). Vejam o mapa seguinte com a posição da estrela assinalada.

O planeta agora descoberto tem um período de translação de 763 dias e a sua órbita é uma elipse com excentricidade 0.14. A massa mínima do planeta dada pela técnica da velocidade radial é de 2.6 vezes a massa de Júpiter. Por sua vez, a estrela é uma gigante de tipo espectral K1 com uma massa estimada de 1.5 vezes a do Sol e 60% mais rica em metais. As estrelas mais evoluídas como as sub-gigantes e gigantes por vezes têm pulsações que podem induzir variações na velocidade radial semelhantes às provocadas por planetas. Estas pulsações, no entanto, provocam também ligeiras variações periódicas na luminosidade da estrela. Para aumentar a fiabilidade da descoberta os membros da equipa estudaram as medições do brilho da estrela realizadas há alguns anos pelo observatório astrométrico Hipparcos e verificaram que a estrela não mostrava variabilidade acima de 0.0004 magnitudes. Esta observação fortalece a tese de que as variações observadas na velocidade radial da estrela são de facto devidas a um planeta.

5 comentários

Passar directamente para o formulário dos comentários,

    • duarte josé seabra on 08/11/2011 at 11:15
    • Responder

    Quando eu fico deslumbrado com os posts. do Astro.Pt,e julgo que tal não vai acontecer tão cedo de novo,eis que o deslumbramento recidiva….

    Obrigado a todos.Uma das minhas maiores alegrias,a nível de conhecimento de astronomia,foi saber da existência do primeiro planeta extra solar confirmado,por Mayor e Queloz,foi em 1995.

    Antes tinha se falado de uns planetas à volta de pulsares,creio,mas isso não era confirmado,penso,e eu achava que isso era resultado da “guerra”entre cientistas americanos e europeus,os americanos com o marketing todo por trás.
    Pensava comigo mesmo,quando Sagan faleceu,se ele ainda soube em vida,da existência comprovada de exoplanetas….

    Depois pensei,com os meus botões(que,estranhamente ,com a idade,se vão afastando,juntamente com a dilatação do universo e da barriga…)que era importante mantermos o emaravilhamento….Sagan abriu-nos o céu”real”…

    E de repente,como se costuma dizer”quando o aluno está preparado,aparece o mestre”,ouço e vejo uma notícia da TV sobre um Carlos Oliveira que dava um curso de Astrobiologia e falava disso nos liceus aqui do norte(foi em 2009).

    Não fui ao curso,mas descobri p Astro.Pt.

    ´Depois,descubro que no Astro.Pt,existe um especialista em exoplanetas,que adora o que faz,e que explica tudo de modo à gente aqui da plateia.

    Logo à noite,aqui no Porto,Portugal,se o céu tiver limpo já vou olhar pra perto de Sirius.

    Não preciso de pedir que o Astro.Pt continue a deslumbrar-nos.
    Vocês todos encarregam-se de o fazer diàriamente sem problema nenhum.

    Se soo um pouco excessivo e gongórico,desculpem,mas eu sou mesmo assim.
    Aprecio muito o vosso trabalho.
    Obrigado.

    1. Obrigado pelas palavras 🙂

    2. Obrigado Duarte. Não faltam razões para nos maravilharmos quando olhamos o céu nocturno, mas a ciência ajuda, dá contexto, associa ao espectáculo visual o prazer do conhecimento e dá asas à nossa imaginação.

    • Manel Rosa Martins on 08/11/2011 at 01:22
    • Responder

    Luís, este nosso amigo está a 1.9 (+-0.1) AU’s da gigante K1 anfitrã. É para além, mais frio, do limite exterior da zona habitável, mas ele é um gigante maior do que Júpiter, poderá anunciar um sistema com planetas mais pequenos na zona habitável. E numa estrela que se vê a olho nu junto a Sirius clao que há algo de muito fascinante neste objecto.

    Consultei o paper para os parâmetros do Planeta e este documento para determinar a zona habitável duma estrela de tipo espectral K1.

    http://www.solstation.com/habitable.htm

    Um abraço, mais uma peça de Astronomia espantosa, e mais uma estrela no céu nocturno que também tem Planetas, ou exoplanetas, já que estão fora do nosso sistema solar. :))

    1. Esta é especial, como dizes, por ser visível a olho nú. Podes apontá-la no céu e dizer às pessoas “olhem, tem um planeta”. Há algo de mágico nisto.

      Ab.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.