E tu, que fizeste hoje pelo Ensino em Portugal?
Este é um “post” que não era para existir, não deveria ter razão alguma para existir. Não é uma notícia, é um acto simples que me disseram ser um exemplo nos dias que correm.
Fui doar, pessoalmente, cerca de 350 livros para a biblioteca do Liceu que serve a Aldeia onde vivo.
Não perguntei pelo ranking do Liceu, e muito menos qualquer questionário destes que estão agora na moda para retratar de forma negativa os alunos.
Até prefiro a palavra Classificação à palavra Ranking e sinceramente, com tanto livro para acartar, nem dispunha de tempo para perguntas parvas.
Perguntei foi à simpática e competente Funcionária da Portaria, onde deveria encostar a tão letrada carrinha que os transportava. Foi mais prático e mais recompensador.
Recompensador porque vi a Bibliotecária do Liceu receber com entusiasmo a doação, recompensador porque notei um Liceu em aulas, a trabalhar, com afinco, com disciplina com empenho e com aprumo.
Até dei comigo a comparar Colégios particulares e Liceus por esse mundo fora. E a dar a justa primazia ao Liceu onde entrava.
Pois este tem os melhores alunos do mundo, pelo simples facto de serem os alunos meus conterrâneos, os alunos do local onde vivo.
Aqui, no Liceu, começam muitas coisas, começa a noção da Ética e da responsabilidade, do jogo em equipa e do desempenho individual. Começa com todos, com o Sr. Director, com as Senhoras Professoras e os Senhores Professores. Com todos os Funcionários escolares, e com os Pais e encarregados de Educação.
Começa por ser a NOSSA Escola e não apenas a Escola do meu filho ou da minha filha, e vive pelo exemplo.
Num país que parece estar a atravessar uma crise de identidade e de auto-estima a recuperação dessa Identidade Nacional e dessa auto-estima também começa ali, naquele Liceu.
Não sou especialista da Educação, não sou professor dum Liceu, não sei quanto esforço estes dão, todos os dias, incluindo nas férias, nos fins-de-semana e nas horas extra para que este Liceu tenha este desempenho magnífico.
Então, como não sei, doei os Livros.
Alguém, tenho a certeza disso, ficará a saber.
Porque, pergunto-me, temos uma comunicação social essencialmente destrutiva do Ensino? Será que os repórteres da manipulação sensacionalista, como estas recentes que me abstenho de reproduzir, dada o nível escatológico das mesmas, não foram ao Liceu?
Serão pseudo repórteres. Não relataram nada da vida do Liceu, não relatam a mínima actividade positiva.
Prefiro então ir agradecendo a quem o merece, aos meus Professores, que me devotaram muito tempo extra para que eu pudesse escrever de forma decente.
Espero que os livros que me ajudaram ajudem outros alunos e alunas e que estes venham a ter amor-próprio no seu país, no seu ensino e na sua comunicação social.
Nunca vi um País sair duma crise, e já vi crises bem mais vincadas do que esta, incluindo uma guerra civil, para saber que nenhum país ultrapassa um mau momento, ou sequer se ultrapassa a si próprio dizendo sistematicamente mal daquilo que até tem de excelente. É óbvio.
Basta atentar nos excelentes resultados que a recente geração de investigadores portugueses, muitos deles e delas ainda a completar o seu percurso académico no Ensino como alunos, obtêm em todo o mundo. São os melhores prémios mundiais que chovem sobre Portugal.
Basta atentar nisso para proclamar bem alto que basta de atentados contra o Ensino!
Nem todos poderão doar nesta medida, tenho bem a noção disso, pois nem eu o posso voltar a fazer tão cedo.
Mas caramba, pois o caso é de caramba, pode-se doar uma atenção, um ramo de flores a uma Professora, um livro a um Professor, um gesto a um Liceu.
Basta uma carta. Ou um simples e-mail, a agradecer ao nosso antigo Liceu. Ou ao actual do nosso bairro na cidade, da nossa Vila, ou que serve a nossa Aldeia.
É a NOSSA Escola, temos essa responsabilidade.
Basta levantar o apoio traseiro da cadeira em vez de ficarmos com o dito cujo na cadeira a ouvir as notícias deturpadas sobre o Ensino afim de se venderem bugigangas nos intervalos da publicidade.
Basta pensar que o Amor-próprio não vinga paralisado, exige acção. Trabalho, como se diz em Física.
E tu, que fizeste hoje pelo Ensino em Portugal?
7 comentários
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Bellissimo gesto. Devo osservare che la vedo molto felice! Sono contenta per Lei. Saluti e buon lavoro……….
Bom dia,
Apenas queria dizer-lhe um bem aja pelo simples facto de me ter proporcionado um momento de leitura bastante agradável, simples, humilde e sincero…
Não sou professora mas trabalho numa escola básica como assistente técnica e assino por baixo em cada uma das suas frases.
Parabéns pelo seu gesto, pois cada vez mais são pessoas como você que dão uma verdadeira lição de vida e de humildade porque o que conta na realidade não é o que cada um faz por si próprio, mas sim o que faz pelos outros!
Manel,
Excelente. Este post deve existir e deve ser divulgado. O teu gesto é um exemplo a seguir. Divulgar esse gesto é a atitude acertada. 🙂
Excelente “post”, belo exemplo, e carinho bem merecido aos milhares de alunos, professores e funcionários que fazem funcionar as nossas escolas. Tempos tristes estes, em que a escola pública é desvalorizada, os alunos humilhados e os professores acusados de indolência.
Manel,
Não terá sido na minha Escola, não terão sido os meus alunos a beneficiar do teu gesto. Mas, todos beneficiamos com este post e possivelmente poderemos todos beneficiar se do teu gesto resultar gente mais instruída.
obrigada
Marília
Tens razão, estava cheio de reticências em publicar este post por achar que poderia soar a bazófia ou a alguém que faz um doação para se fazer notado.
Mas quando uma Professora me incentivou a escrever não hesitei. Afinal este post é-lhes dedicado, estão a defender os alunos e isso enobrece o Professorado.
Também é um facto que muitas pessoas estão hoje a comentar que isto é o que lhes vai na alma, e é apenas um parte pequena.
O Ensino em Portugal tem sido alvo dum bombardeamento de pseudo-reportagens histéricas e decididamente parvas, sempre destrutivas.Já chega!
Perante isso caso insisti-se na modéstia entrava na cobardia.
Abraço e Obrigado.
“Este é um “post” que não era para existir, não deveria ter razão alguma para existir. ”
Pois… não concordo. 😛
Acho uma patetice 🙂 a ideia de “humildade”, que é uma justificação muito portuguesa.
O que faz as pessoas terem medo de divulgar os feitos positivos próprios 😉
E se os exemplos positivos não são divulgados… o que resta?
Restam as notícias da TVI e de outros serviços noticiosos, em que parece que só há desgraças e atitudes negativas.
(eu quando vou a Portugal, e vejo as notícias, fico sempre com a sensação que Portugal é a Líbia ou algo do género… porque parece ser dessa forma que é divulgado na TV)
Daí que defendo que devem ser divulgados todos os feitos positivos… “doa a quem doer”… ou seja, independentemente da pessoa em causa ser humilde ou tenha vergonha e não o queira fazer 😛
Tu fizeste uma cena excelente para a cultura e por isso deve ser divulgado 🙂