Depois da notícia desta semana, em que a Power Balance foi mais uma vez multada, é caso para dizer que os iões negativos não fazem nada bem ao karma. Mas a Power Balance não foi a primeira nem há-de ser a última a vender bugigangas, a um preço inflacionado, que se propõem a melhorar a condição física e até a curar doenças crónicas. Trata-se na verdade de um fenómeno cíclico, pois quando a população já se esqueceu da fraude anterior, os vendedores da banha de cobra voltam com o mesmo produto, apenas com ligeiras alterações no aspecto e no marketing. Ainda se lembram das pulseiras Tucson que prometiam tirar todas as dores? Continuam a ser vendidas um pouco por todo o mundo, o design é que é mais variado.

De acordo com a pseudociência, a torre deveria estar a direito.
Mas porque é que tanta gente caiu no conto do vigário?
Quem possui o mínimo de bases científicas, imediatamente chegou à conclusão de que o mecanismo de funcionamento anunciado pela empresa é um disparate pegado, um amontoado de expressões mais ou menos científicas que juntas não fazem qualquer sentido, mas que para os leigos parecem impressionantes e conferem credibilidade ao produto. Num post anterior eu até expliquei como inventar a nossa própria pseudociência de uma forma bastante semelhante.
Mas o que levou também muita gente a acreditar que as pulseiras funcionavam de verdade foi uma série de testes que se propunham a testar o equilíbrio, força e flexibilidade dos utilizadores. Quando o teste terminava, as pessoas facilmente ficavam convencidas de que a pulseira possuía de facto um efeito real sobre o corpo humano.
O que se passa aqui?
O problema começa logo com o controlo utilizado no teste. As pessoas pensam que é mais do que suficiente fazerem o teste sem a pulseira e depois com a pulseira, mas na realidade não é. Existem fenómenos importantes que vão afectar tanto a percepção do utilizador como de quem realiza o teste e que este controlo não consegue eliminar.
Relativamente ao utilizador, nunca se deve subestimar o poder da sugestão, o chamado efeito placebo. Existe uma distorção da percepção do utilizador, que resulta das suas expectativas em relação à pulseira. E nem é preciso acreditar genuinamente na pulseira, basta ter uma centelha de esperança de que possa funcionar.
Já quem realiza o teste pode, consciente ou inconscientemente, alterar a maneira como este é executado de forma a obter os resultados pretendidos, nomeadamente na força aplicada e no seu ângulo. Mesmo excluindo a hipótese de fraude que certamente ocorreu nalguns casos, a verdade é que toda a gente gosta de ver a sua teoria comprovada. Se não forem tomados alguns cuidados, isso acaba por provocar vieses que distorcem o resultado do teste.
É de salientar ainda que estes testes não são invenção da Power Balance, existem praticantes de uma terapia alternativa chamada Cinesiologia Aplicada que utilizam testes muito semelhantes. O resultado acaba por ser idêntico ao de quem experimenta a pulseira, os pacientes ficam impressionados com o teste e a única explicação que encontram é que o terapeuta fez realmente qualquer coisa ao seu corpo. Podem ver nos vídeos que se seguem a explicação do truque por detrás destes testes.
Então como deve ser efectuado o teste às pulseiras?
De uma forma geral:
- É necessário utilizar uma pulseira falsa como controlo, isto é, sem o holograma que alegadamente lhe confere as qualidades;
- A informação sobre quais são as pulseiras falsas e as pulseiras genuínas deve ser ocultada tanto dos utilizadores como de quem vai realizar o teste, é o chamado ensaio duplamente cego. Isto evita simultaneamente a fraude consciente e os vieses que mencionei anteriormente;
- As pulseiras devem ser distribuídas a um grupo de pessoas e quem vai realizar o teste tem de determinar quais possuem a pulseira genuína. Se o holograma tiver de facto algum efeito, então quem realiza o teste deverá ser capaz de identificar os utilizadores da pulseira genuína mais vezes do que o esperado pelo acaso.
Podem ver isto na prática no próximo vídeo. São utilizados cartões em vez de pulseiras mas o resultado é o mesmo, pois o fabricante afirma que basta ter o holograma perto do corpo para este funcionar.
Este procedimento pode ser facilmente adaptado para testar outras formas de pseudociência. E da próxima vez que aparecer uma pulseira, anel, ou pendente quântico já sabem como os testar devidamente. Não se deixem enganar pelos truques dos vendedores da banha de cobra.
2 comentários
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Adorei a imagem da Torre Inclinada de Pisa
Author
Já não há engenharia holística ou feng shui que a ajude
[…] performances (chama-se a isto: placebo). Lembram-se da vigarice das pulseiras quânticas ou pulseiras do equilíbrio? Passado um ano, ou 4 anos, mudam de opinião. Porquê? Porque o conhecimento científico não é […]