(Representação artística da Super-Terra Kepler-22b. Crédito: NASA/Ames/JPL-Caltech)
Terminou há pouco a conferência de imprensa da equipa da missão Kepler. Bill Borucki e Natalie Batalha apresentaram uma actualização das estatísticas dos candidatos planetários descobertos pela missão e anunciaram a descoberta e confirmação de mais um planeta notável, o Kepler-22b. Trata-se da primeira Super-Terra descoberta dentro da zona habitável de uma estrela semelhante ao Sol !
Vamos então por partes, começando pelo Kepler-22b. A estrela hospedeira, Kepler-22 (também KOI-087), tem tipo espectral G, semelhante ao Sol, relativamente ao qual é ligeiramente menos maciça, menos quente e mais pequena. Situa-se a uma distância de 600 anos-luz. O planeta é uma Super-Terra com um raio 2.4 vezes maior do que o da Terra e um período orbital de 289 dias. Os cientistas ainda não sabem a composição do planeta pois a sua massa ainda não é conhecida com precisão. Há vários cenários possíveis. O Kepler-22b poderá ser maioritariamente metálico, uma espécie de Super-Mercúrio, maioritariamente rochoso, mais parecido com a Terra em ponto grande, ou mesmo um “planeta de água”, coberto por um oceano gigantesco e profundo. Bill Borucki, o responsável científico pela missão, disse “A sorte favoreceu-nos na detecção deste planeta […] O primeiro trânsito foi detectado apenas 3 dias após termos iniciado observações com o Kepler. O terceiro trânsito, que garante que o candidato é um planeta, foi observado em finais de 2010”. Note-se que a detecção de um trânsito cria um novo candidato a planeta. A detecção de um segundo trânsito permite calcular o período orbital. Um terceiro trânsito exactamente um período depois confirma a natureza planetária do trânsito com um elevado grau de confiança. Os trânsitos do Kepler-22b têm uma duração de 7.4 horas.
(A zona habitável da estrela Kepler-22 e a órbita do Kepler-22b, com parte do Sistema Solar como referência. Crédito: NASA/Ames/JPL-Caltech)
A equipa actualizou também o número de candidatos planetários descobertos até ao momento, elevando o número total para 2326, um aumento de cerca de 89% (mais 1094) relativamente aos números da última análise do género apresentada em Fevereiro de 2011. Destes planetas, 207 são aproximadamente do tamanho da Terra, 680 são Super-Terras, 1181 são do tamanho de Neptuno, 203 são do tamanho de Júpiter e 55 são maiores do que o gigante do Sistema Solar. Estes candidatos foram detectados com base na análise de dados recolhidos desde Maio de 2009 até Setembro de 2010 e demonstra definitivamente que os planetas de pequena dimensão, do tipo terrestre, são muito abundantes na nossa galáxia. O número de planetas com o tamanho da Terra e de Super-Terras aumentou mais de 200% e 140%, respectivamente, desde a análise de Fevereiro de 2011. Existem 48 candidatos que se encontram nas zonas habitáveis das respectivas estrelas hospedeiras e que serão sem dúvida seguidos com grande interesse pela equipa da missão. Destes, o Kepler-22b foi o primeiro a ser confirmado pela equipa.
Podem ver a notícia aqui.
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ADOREI essas novidades, acho que Kepler 22b é um bom candidato a vida inteligente e principalmente vida simples (bactérias por exemplo).
olá,ótima colocação,muito bem resaltada,não imaginaríamos chegar a lua e la fomos nós,tudo é possível,dese que aja um bom empenho,estudo,vontade e coragem,estamos ai,para mais uma estupenda descoberta,e as descobertas tem que serem aprofundadas,quem sabe pode lá ter os mesmos fatores climáticos.fenomenos naturais,água,natureza,VIDA!,PARABÉNS AO SER HUMANO,PARABÉNS A VC POR UMA ÓTIMA COLOCAÇÃO.
Gostava de reforçar a questão colocada pelo meu homónimo mais acima 🙂
Isto é, sendo que detectar trânsitos destes é quase como acertar no totoloto (e por isso se observam quantidades enormes de estrelas, para aumentar a taxa de sucesso), é de todo impossível (actualmente) detectar planetas de outra forma?
Obrigado e continuem o excelente trabalho!
Existem cerca de 10 métodos de detecção de exoplanetas:
http://en.wikipedia.org/wiki/Methods_of_detecting_extrasolar_planets
Doppler teve grande sucesso inicial, assim como astrometria de que se falava muito.
Actualmente, muito por “culpa” da missão Kepler, fala-se muito do sucesso do método dos transitos.
À medida que se for descobrindo mais e desenvolvendo melhores técnicas, outros métodos aparecerão 😉
Penso que é uma questão de ciclos 😉
abraços
Obrigado!
Já agora mais uma questão: há algum método que seja claramente mais bem sucedido que os demais? 🙂
Doppler teve grande sucesso inicial, assim como astrometria de que se falava muito.
Actualmente, muito por “culpa” da missão Kepler, fala-se muito do sucesso do método dos transitos.
Parece-me sem duvida este ser o melhor sucedido actualmente… 😉
No futuro, serão certamente outros 😉
Author
Daqui por alguns anos, poucos provavelmente, poderemos analizar as assinaturas espectrais que estes planetas deixam nos espectros das suas estrelas hospedeiras quando transitam. Se detectarmos um gás com o oxigénio ou o ozono isso implica algum processo extra na atmosfera que os produz. O oxigénio e o ozono reagem muito rapidamente com outras moleculas e em circunstancias normais desaparecem rapidamente numa atmosfera planetária. O nosso vem da fotossíntese. Essa seria uma indicação de vida alienígena ou pelo menos algo estranho.
Que noticia maravilhosa, acho que a questão do totoloto já nem se coloca uma vez que num bocadinho de Universo que o Kepler observa já se detetaram tantos, mas tantos planetas cerca de 2326 dos quais 48 estarão na zona habitável é surpreendente :).
Faço a mesma pergunta que o Tiago, ou seja, será que é possivel com alguma exatidão saber se existe mesmo vida nesse planeta? De que forma?
Bjs a parabéns à missão Kepler ;).
Author
Quando falo em Oxigénio e Ozono, entenda-se, O2 e O3. São duas moléculas diferentes compostas apenas por átomos de oxigénio. O oxigénio na atmosfera terrestre é quase todo O2, com uma fina camada na estratosfera composta por O3 (ozono), formada por exposição do O2 à luz ultravioleta do Sol.
Hello, só uma rápida questão:
Para se detectar um trânsito deste tipo, a órbita do planeta tem de estar alinhada entre a sua estrela e o nosso planeta certo?
Mas as orbitas de todos os planetas estão alinhadas dessa forma? Ou seja, não poderão haver mais planetas nessa estrela cujas órbitas não estejam alinhadas connosco e desta forma não serem detectáveis?
É que se assim for, detectar um planeta extra-solar é quase como acertar no totoloto 🙂
Many thanks, Paulo
Sim, só os que estao “alinhados” de modo a podermos “ver” o tal transito 😉
As possibilidades sao maiores que o totoloto, porque ha muita gente basicamente num plano similar 😉
abraços
Author
Os planetas podem ter órbitas inclinadas relativamente à nossa linha de visão em qualquer ângulo. Dependendo de alguns parâmetros adicionais, só planetas com inclinações de 90 graus (na nossa linha de visão) +- 2 graus é que são detectáveis. Por isso, se escolher uma estrela e tentar encontrar um planeta em trânsito as possibilidades de sucesso são muito pequenas. Por isso o Kepler observa 150 mil estrelas de uma assentada com um câmara gigante. Assim, mesmo com estas probabilidades baixas de sucesso, o número de candidatos chega a mais de 2300.
Descoberta realmente fascinante!!
Mas para o negócio ficar realmente interessante seria preciso saber mais coisas. Pelo que entendi, os pesquisadores ainda não sabem dizer se o planeta é rochoso, gasoso ou composto por um oceano…
Gostaria de saber se existe já alguma tecnologia que permita investigar a existência de elementos químicos na atmosfera desse planeta que possam sugerir vida?
Só lembrando que ele está muito longe…600 anos luz ^^
Author
Olá Tiago,
Em princípio será possível detectar sinais da atmosfera do planeta durante os trânsitos observando o espectro da estrela hospedeira. Uma parte ínfima da luz da estrela é absorvida pelos átomos e moléculas da atmosfera do planeta, introduzindo linhas espectrais no espectro da estrela que não existem fora dos trânsitos. Este tipo de observação já tem sido feito para outros planetas que realizam trânsitos. É o tipo de tarefa para a qual seria ideal um telescópio como o James Webb.
Bem, o Carlos tem toda a razão. Que diria Otzi se lhe dissemos que à sondas no espaço, que se descobrem planetas fora dos sistema solar e outras coisas. Bem, para o Otzi bastava que outro ser humano não o quisesse ver morto para o surpreender. 600 anos luz são o que são e a humanidade tem, espero eu, tempo para resolver esse pequenos detalhes que, seguramente, num futuro próximo, não passarão de anedotas. Temos sempre a possibilidade de chamar a Coronel Carter e o Dr. Mckay para dar uma ajudinha…. Ha, e Ely também 🙂
Luís,
Excelentes notícias! 😀
E tudo isto produto de observações realizadas numa pequeníssima área do céu.
Disseram na CNN cerca de 22ºC.
Tá boa temperatura para a gente 🙂
esse planeta não é gasoso? eu ainda gosto mais de gliese 581 e de gliese 876 para apostar em vida
Author
De acordo com a informação que vi, o mais provável será o planeta ser um mini-neptuno, formado maioritariamente por gelos e com um núcleo rochoso. Com o raio que tem teria de ter uma massa anormalmente elevada para ter uma densidade semelhante à da Terra.
Parabéns, Prof. Luís.
Mais uma vez, o Astropt atento às novidades do mundo científico – e com qualidade, adjetivo que lhe é peculiar…
😉
Abraços.
Boa,Carlos!!
Muito bom!!!
Vamos aguardar por mais noticias e resultados das pesquisas.
Excelente notícia!
Nos próximos anos de certeza serão descobertos e confirmados muitos mais. 🙂
Ahahaha… só quero ver como eles pretendem ir até esse planeta, 600 anos luz…. nunca.
Não percebi.
Está-se a rir de se ter feito uma descoberta cientifica?
Também se ri do computador?
e kem disse ke eles pretendem ir lá? leu isso onde?
e kem lhe disse ke um dia nao chegaremos lá? O mesmo ke lhe disse há 2000 anos atras ke nunca chegariamos à Lua?
Pela relatividade, até é fácil…
abraços
Author
Bolas, nunca tinha pensado nisso… 🙁
Incrível e fantástico, se há missão que justifica plenamente o seu prolongamento é a Missão Kepler.
“…os planetas de pequena dimensão, do tipo terrestre, são muito abundantes na nossa galáxia.”
Isso altera toda a concepção que tínhamos até hoje da nossa Galáxia.
E a que tínhamos da própria Terra.
[…] Leia também o texto de Luis Lopes no Astro-PT: Novidades da Missão Kepler […]
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