Kepler Anuncia Descoberta da Primeira Mini-Terra


(Crédito: Stalker, Extrasolar Visions)

A última sensação na “Kepler Conference” é o sistema Kepler-20. De acordo com informação fornecida por Govert Schilling, um conhecido jornalista especializado em astronomia e autor de vários livros, Nick Gautier, um dos cientistas da missão Kepler, anunciou a [AstroPT:mais que] provável descoberta da primeira mini-Terra, um planeta de dimensão ligeiramente inferior à Terra. Segundo Gautier, o planeta faz parte de um sistema quíntuplo e orbita uma estrela hospedeira, designada de Kepler-20 e também KOI-70, muito semelhante ao nosso Sol.

O planeta em causa, designado de KOI-70.04 (-70 refere-se à estrela, -70.01 ao primeiro planeta descoberto por trânsitos, -70.02 ao segundo, etc.), orbita a estrela a uma distância de apenas 9.6 milhões de quilómetros, com um período de 6.1 dias. A sua temperatura superficial deverá ser extremamente elevada, provavelmente na ordem dos 600 graus Celsius. A profundidade dos trânsitos conjugada com o raio da estrela hospedeira permitem deduzir para o planeta um raio de apenas 80 a 90% do raio da Terra.

Todos os planetas do sistema Kepler-20 estão mais próximos da estrela hospedeira do que Mercúrio relativamente ao Sol. Trata-se portanto de um sistema extremamente compacto, semelhante ao Kepler-11, por exemplo. A existência de três dos planetas do sistema foi confirmada por medições directas do seu efeito na velocidade radial da Kepler-20. Para estes planetas foram adoptadas designações oficiais de Kepler-20b, -20c e -20d. Kepler-20b e -20c têm massas de 8.7 e 16.1 vezes a massa da Terra, respectivamente. A massa de Kepler-20d ainda não é conhecida com exactidão mas é certamente inferior a 20.1 vezes a massa da Terra. Os três planetas têm raios entre 1.9 e 3 vezes o da Terra.

A realidade física dos outros dois planetas, que incluem o KOI-70.04, a mini-Terra, é quase certa. É possível que a sua massa seja demasiado pequena para poder produzir um efeito visível na velocidade radial da estrela. Neste caso uma confirmação directa da sua natureza planetária é difícil. Por outro lado, o único fenómeno capaz de mimetizar trânsitos de planetas é um sistema binário com eclipses perfeitamente alinhado com a estrela quando visto da Terra (vejam este post). A existência de *dois* sistemas binários alinhados com a Kepler-20 que produzam os trânsitos dos restantes planetas é extremamente improvável. De facto, a existência de um sistema binário alinhado com um sistema planetário múltiplo é também altamente improvável. Por este motivo, os restantes dois planetas deverão ser reais. Mais observações dos trânsitos, por exemplo no infravermelho com o telescópio Spitzer, poderão aumentar o grau de confiança na sua natureza planetária. Uma confirmação directa poderá mesmo ser possível se tiverem sido detectados desvios nos instantes dos trânsitos (TTV), os quais são provocados pela interacção gravitacional entre os planetas do sistema.

Um outro cientista da missão, François Fressin, tem um artigo sobre estes dois planetas submetido à conceituada revista Nature. Este facto implica que provavelmente a equipa conseguiu, se não confirmar, pelo menos validar os dois planetas. Os três planetas mais maciços do sistema e o KOI-70.04 constavam já da lista de 1235 candidatos do Kepler apresentada no passado mês de Fevereiro. O KOI-70.05 só foi detectado no passado mês de Junho e a única informação disponibilizada é o seu período orbital de 19.6 dias. A equipa da missão está a ser extremamente cautelosa com a informação que revela o que pode indiciar que os artigos submetidos para revisão foram aceites para publicação (algumas editoras impõem este tipo de embargo). Se os planetas tiverem realmente sido confirmados então deverão receber as designações oficiais de Kepler-20e e Kepler-20f. Devemos ter novidades no início do próximo ano.

1 comentário

  1. Que legal!

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