A imagem acima, obtida com a Advanced Camera for Surveys (ACS) do telescópio Hubble, em 2008, pela equipa de Paul Kalas, tornou-se um dos ícones da astronomia moderna. O pequeno ponto assinalado na imagem, em órbita de Fomalhaut, a estrela Alfa da constelação do Peixe Austral, parecia nessa altura ser um exoplaneta, um dos primeiros a ser fotografados directamente. Nos meses e anos que se seguiram, no entanto, o mistério adensou-se. Apesar de ter sido fotografado de novo pelo Hubble, com a nova Wide Field Camera (WFC3), a órbita deduzida a partir das posições observadas nas imagens era difícil de explicar e incompatível com o bordo bem definido da zona interior do anel de poeiras que circunda Fomalhaut, o qual deveria resultar da influência gravitacional do presumido planeta.
Hoje, uma equipa de astrónomos liderada por Markus Janson da Universidade de Princeton, publicou um artigo que lança ainda mais dúvidas sobre a natureza planetária do objecto fotografado. As imagens originais do Hubble tinham sido realizadas no visível e no infravermelho próximo, entre os 600 e 800 nanometros. A equipa deduziu que, a tratar-se de um planeta gigante ainda em formação (Fomalhaut é uma estrela muito jovem), deveria emitir uma quantidade considerável de radiação no infravermelho e por isso optaram por observar o sistema com o telescópio Spitzer, no comprimento de onda de 4.5 micrometros (4500 nanometros). Para conseguir realizar este feito difícil a equipa teve de inventar uma nova técnica de subtracção de imagens que permitiu aumentar o contraste e a resolução espacial das imagens obtidas pelo Spitzer. O resultado pode ser visto na figura que se segue.
À esquerda vê-se a imagem obtida pelo Spitzer, com a seta 1 marcando o local onde deveria ser detectado o objecto fotografado com o Hubble. À direita, à imagem obtida com o Spitzer foi adicionada artificialmente uma fonte pontual (seta 1 de novo), representando o que deveria ter sido observado pelo Spitzer caso o planeta gigante realmente existisse. A seta 2 aponta para uma fonte de radiação nova, potencialmente interessante, mas cuja natureza não foi possível ainda determinar.
O artigo apresenta um conjunto de possíveis explicações para os resultados obtidos mas é claramente desfavorável à tese de que o objecto detectado com o Hubble é um planeta gigante. Segundo os autores, a explicação mais plausível para as observações consiste na dispersão de luz da estrela na direcção da Terra por uma nuvem de poeira semi-transparente, possivelmente transiente.
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