Misteriosos visitantes nas noites de Fevereiro

A Terra tem estado a receber visitas inesperadas durante todo o mês de Fevereiro. Durante as últimas semanas, grandes rochas espaciais têm colidido com a atmosfera terrestre, produzindo bolas de fogo particularmente brilhantes. Só nos EUA foram registados cerca de 6 destes fenómenos. A mais mediática foi sem dúvida a espectacular bola de fogo que no dia 1 de Fevereiro surpreendeu várias centenas de pessoas na região central do Texas.
Não é o número de bólides que tem sido invulgar neste mês. De facto, não se registou qualquer alteração significativa na frequência destes fenómenos durante todo o mês de Fevereiro. Na verdade, estes objectos têm-se destacado pela sua aparência, velocidade e trajectória. “Estas bolas de fogo atingem o topo da atmosfera com velocidades inferiores a 15 km.s-1, desaceleram rapidamente, e mantêm alguma integridade até 50 km acima da superfície terrestre”, explicou ao Science@NASA Peter Brown, professor de Física da University of Western Ontario e especialista em meteoros.
Até agora, as câmaras do All-Sky Fireball Network registaram em território norte-americano cerca de meia dúzia de bolas de fogo com características semelhantes. Todas foram produzidas por grandes meteoróides, com dimensões que variam entre as dezenas de centímetros até ao tamanho de um autocarro.
A determinação das respectivas órbitas revelou algo surpreendente. “Partem todas da Cintura de Asteróides, mas não de um único ponto” explica Bill Cooke do Meteoroid Environment Office. “Não existe uma origem comum para estes objectos, o que é algo intrigante.”

Sumário dos dados obtidos pelo sistema de vigilância do All-Sky Fireball Network para uma das invulgares bolas de fogo observadas este mês.
Crédito: NASA.

Não é a primeira vez que tais objectos fazem a sua aparição na Terra. Desde a década de 60, astrónomos amadores têm testemunhado um crescente número de bolas de fogo muito brilhantes penetrando fundo na atmosfera nas noites frias de Fevereiro. Nos anos 90, o astrónomo Ian Holliday analisou fotografias de centenas de bólides obtidas nas duas décadas anteriores. Holliday concluiu que deve existir um fluxo de meteoróides a intersectar a órbita da Terra nesta altura do ano. Os seus resultados possuem, no entanto, grandes incertezas estatísticas, pelo que permanecem controversos.
Espera-se que as imagens obtidas pela rede de câmaras do All-Sky Fireball Network possam esclarecer em breve este interessante enigma. Até lá espreitem o céu nas próximas noites. Quem sabe? Talvez assistam à chegada de mais um destes misteriosos visitantes do espaço.

5 comentários

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  1. Compreendo isso perfeitamente, mas não fazia ideia que esse facto fosse visível a olho nú. Às vezes nem consigo ver Betlegeuse da cor que deve ser, por isso não esperava ser capaz de distinguir a diferença de cor da fricção de um meteoro a olho nú. Ora aqui está mais um motivo para andar de olhos postos lá em cima 😉 Obrigado, já aprendi uma coisa interessante :).

  2. Ontem, enquanto esperava que Marte estivesse alto o suficiente para o observar, por volta das 10 da noite, olhava para Orionte com binóculos e, algures na linha entre Alnitak e Saiph, vi um clarão laranja súbito. Esperei que se repetisse, pois poderia ser facilmente um helicópetro ou avião. Não se repetiu. Sendo que não notei nenhum arrasto (como uma vulgar estrela cadente), que tipo de objecto poderia ser? Sou novato nesta coisa de observação do céu e não sei perceber este tipo de sinais 🙂

    1. Olá Nuno

      Deves ter observado uma estrela cadente. Nem todas deixam um rasto óbvio.

        • Nuno Fragoso on 23/02/2012 at 15:26

        OK, obrigado 🙂 Como normalmente as vejo como luz branca, e sei que há outros fenómenos com outras características, achei curioso que esta fosse laranja.

      1. A cor dos meteoros está relacionada com a composição química dos meteoróides. O calor gerado pela fricção com a atmosfera provoca a excitação dos átomos metálicos do meteoróide e das moléculas dos gases atmosféricos, produzindo a emissão de luz em diferentes cores. É o predomínio de um ou outro elemento que acaba por produzir as variações de tonalidade. Por exemplo, meteoróides ricos em sódio tendem a emitir luz alaranjada.

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