A evolução enquanto facto não é o Modelo Evolutivo. O Modelo Evolutivo é o que explica o facto das formas de vida evoluirem. Este texto procura dar a conhecer um pouco das duas coisas. É longo e espero que valha a pena.
A Teoria da Evolução é uma das teorias mais importantes alguma vez estabelecida. Que Darwin a tenha elaborado sem conhecimentos alguns de genética é para mim motivo de espanto. Que ela tenha sido aceite pela comunidade científica da época, com os naturais detractores e após extensos debates, é certo, é uma prova de que as melhores ideias prevalecem. Também elas sujeitadas às mesmas regras da evolução. A própria Teoria da Evolução evolui, e os evolucionistas nem sequer gostam que lhes chamem Darwinistas. Neo-Darwinismo é melhor. Mas Sintese Evolutiva Moderna é a denominação correcta. Inclui diversas areas cientificas. Mas começou tudo com Darwin…
Não se pense porém que Darwin desenvolveu a teoria absolutamente sozinho ou isoladamente. O mérito é praticamente todo dele, o que quero dizer com isto é que ideias sobre evolução já tinham sido expressas antes e durante a sua investigação. De facto a primeira apresentação da teoria é feita em autoria conjunta com Alfred Russel Wallace com quem Darwin trocou correspondência. As teorias de um e de outro evoluíram separadamente, mas Darwin ao aperceber-se que Wallace tinha chegado praticamente aonde ele chegou, compreendeu que tinha chegado a hora em que tinha de publicar (aconselhado por Lyell). No entanto não queria fazer nada de moralmente reprovável e com a ajuda de dois amigos optou-se por uma publicação conjunta. Darwin estava sob grande stress por causa de um filho doente e foram na realidade os seus amigos Lyell e Hooke, ambos cientistas, que organizaram uma breve apresentação a que nem Darwin nem Wallace foram. Darwin ficou depois pressionado para completar o livro “Sobre a origem das espécies”, onde finalmente fez uma apresentação exaustiva e detalhada da sua teoria. O livro foi um enorme sucesso de vendas pois era e é acessível a todos. Lyell e Hooke (sobretudo Hooke), foram também o apoio de Darwin enquanto desenvolvia as suas ideias e mais tarde, depois da publicação do livro, grandes defensores da Teoria da Evolução.
O que terá permitido a Darwin compreender como as espécies evoluíam foi o estudo exaustivo e sistemático da biodiversidade, a que as suas viagens ajudaram, sem que isso o distraísse da ideia, que ele tinha, de haver uma origem comum. Percebeu como havia uma gradação lenta de espécie para espécie, com pequenas alterações a fazer a diferença. Alterações essas que estavam muitas vezes a um passo das observadas entre indivíduos da mesma população. A teoria de Malthus que dizia que a população humana ao ritmo de crescimento a que seguia iria morrer sem alimentação suficiente que a sustentasse foi o gatilho para desenvolver o tema da selecção natural. Quando os alimentos escassearem, terá pensado, os mais adaptados sobrevivem, e deixam descendência que se lhes assemelha.
A generalização desta ideia a outros tipos de pressões e condições, (como selecção sexual, predação, resistência a doenças) servia como motor evolutivo. Factores como o isolamento geográfico que ele também já tinha verificado, ajudavam a separar linhagens evolutivas. Faltava no entanto explicar como surgia o leque de variantes de onde a natureza extraia os mais aptos. Ou seja, de onde tinha vindo uma variedade tão grande entre os indivíduos da mesma espécie que permitia ao longo do tempo dar origem a uma mesma espécie. Essa variação, como ele propôs, deve-se grandemente ao acaso, mas só com os conhecimentos trazidos pela genética é que o mecanismo se começou a compreender. Darwin morreu em 1882 e a experiência que mostrou que o DNA podia transportar informação genética realizou-se em 1928. Só em 1953 Watson e Crick apresentavam a estrutura de dupla hélice do DNA hoje em dia aceite. No entanto o coração da teoria estava completo.
A genética é de resto o grande suporte da teoria da evolução nos dias de hoje. A genética explica como a informação passa de geração em geração e como se podem dar pequenas alterações nos genes que dão origem a características novas: – as mutações. É o acumulo de mutações geração após geração que dá origem a diversidade e à evolução das espécies.
E enquanto a origem das mutações parece ser, como disse, ao acaso, a selecção não é. O produto final da evolução não é um processo ao acaso. É realmente um processo bastante selectivo. E se tivermos em conta a selecção sexual quase podemos pensar em evolução dirigida para um fim pré-determinado. Existe a escolha real por um agente com intenção. De um modo geral o resto da selecção é o que é. Não é ao acaso mas não é com um fim pré-determinado. É tão orientada para um objectivo como uma queda de agua é intencionada para oxigenar o lago. Os que puderam usar esse oxigénio tiveram sorte. Mas não há qualquer evidencia para sugerir que as mutações se deram já a pensar em vir usar essa vantagem mais tarde. As que serviram e deram uma vantagem ficaram, as outras correram o risco de se tornarem obsoletas. O que acontece. A extinção é a regra e não a excepção.
Quanto ao estudo do registo fóssil, continua a ser um bom argumento a favor da evolução e uma boa maneira de começar a explica-la. O que se verifica desde sempre é que em regra encontramos animais mais semelhantes aos actuais nos extractos geológicos mais recentes e animais cada vez mais diferentes dos actuais mas a convergirem para uma origem comum, nos extractos geológicos mais antigos. Repare-se que bastava encontrar um fóssil de cavalo num extracto geológico muito antigo do tempo dos dinossauros para toda a teoria colapsar. Tal nunca aconteceu. Por outro lado faz a previsão verificavel que com o passar do tempo se vão encontrando fosseis transicionais. A sequencia morfológica acompanha fortemente a sequencia reconstruida a partir da ordem dos estratos geológicos e que por sua vez é a mesma da encontrada por datação radiométrica.
Realmente, parece que a primeira pessoa a notar que a maneira como os fósseis apareciam nos estratos geológicos – sempre pela mesma ordem e sem misturas – era incompativel com uma morte simultânea de todas as espécies num dilúvio (ficava tudo misturado ou pelo menos em algum grau), foi Leonardo DaVinci, segundo li num artigo de uma estudiosa dos seus trabalhos. Seja como for, à época de Darwin, este problema era conhecido.
Apesar disto, nos dias de hoje ainda há muita polémica à volta da teoria da evolução. Sobretudo nos Estados Unidos o criacionismo aparece como sendo uma teoria científica alternativa. Num estudo recente, 2 em cada 8 professores admitiram ensinar ambas as teorias simultaneamente. 2 em cada 100 ensina apenas criacionismo ou “intelligent design”. No entanto o mesmo estudo mostra que são os professores com menos formação científica a dar estas teorias como alternativas à evolução. Os tribunais americanos já decretaram sem eficácia que criacionismo e “intelligent design” são religião e não devem ser ensinados nas aulas de ciências.
Os obstáculos apontados à teoria da evolução são de facto os pontos mais difíceis de compreender de uma maneira clara se nos ficarmos apenas pela teoria de Darwin, mas já não é tão dificil se pegarmos no corpo total dos conhecimentos cientificos relacionados com a evolução que temos nos dias de hoje. Darwin reuniu as evidências necessárias para justificar a evolução, e até para deixar as linhas principais bem definidas, mas nós fomos já muito mais além.
O primeiro é problema é relacionado com os aparentes saltos evolutivos, a macro-evolução: como se passa de repteis para aves ou mamíferos – não passa, na realidade eles são produtos modernos da evolução e além disso o processo é gradual e muito lentamente com ocasionais acelerações aqui e ali. O segundo problema é o de aparecimento de orgãos muito especializados como os olhos, em que os criacionistas dizem haver uma “complexidade irredutivel”. Mas não há. O que temos de nos lembrar é que as diversas funções de partes de um orgão não evoluiram uma de cada vez e sim apenas conforme fizeram falta e muito gradualmente.
Escolhi os olhos como exemplo porque já o vi usado na defesa do desenho inteligente e porque posso usar uma ajuda do livro do Richard Dawkins (O Relojoeiro cego) sobre este tema. Não nos é possível encontrar em registo fóssil os precursores primitivos dos olhos, pois são demasiado frágeis, e onde é impossível fazer uma análise funcional. Mas temos a sorte de na natureza viva encontrarmos o órgão visual em diversas fases de complexidade. Na forma mais simples é apenas um detector de fotões capaz de perceber intermitências na incidência de luz. Provavelmente a primeira célula capaz de fazer isto protegeu os indivíduos onde surgiu da sombra de predadores. Existe em alguns seres unicelulares. Por muito rudimentar que fosse permitiu aos seres onde surgiu ter uma ligeira vantagem sobre os outros que não a tinham. Ao contrário do que dizem os criacionistas, há razões para crer que pouco olho é melhor que nenhum.
Mecanismos para captar fotões há muitos na natureza e fora dela, graças à energia que estes transportam. O ciclo da água funciona com fotões. Os fotões aquecem e ionizam moléculas. Não são assim tão subtis! E o Sol tem sido uma fonte inesgotável deles (à nossa escala). Para continuar, não deverá ser então difícil perceber que pequenos acréscimos nesta qualidade, de visão rudimentar, sejam benéficos de geração em geração. Primeiro sem lente, depois com lente simples, depois com mais de uma celula detectora, depois capaz de reconhecer diferentes intensidades, depois frequencias, etc…Gene a gene se faz o olho – de mutação e selecção em mutação e selecção.
O gene é a unidade mais simples que contem informação genética. Um cromossoma tem uma quantidade elevada deles. A reprodução implica a transmissão de pelo menos parte desses genes de geração em geração. Um gene que sofra uma mutação pode codificar uma característica que aumente o sucesso do seu portador.
Richard Dawkins vê mesmo a evolução como a competição entre genes. O melhor gene vai poder trazer uma vantagem primeiro para si próprio, depois ao grupo de genes a que se encontra ligado, depois ao cromossoma que o transporta e ao individuo e por fim à população a que pertence.
Mesmo que essa pequena vantagem seja limiar, se ela existir, com o tempo vai se manifestar. Por varias razões. É de esperar, no nosso exemplo, que esse indivíduo deixe descendência pelo menos tão numerosa como um indivíduo normal, sem essa vantagem. E neste ponto já temos mais de um indivíduo com essa mutação. Este grupo de indivíduos vai ser comparativamente mais bem adaptado que um grupo similar sem esse novo gene. Terá tendencialmente mais hipóteses de deixar por sua vez descendência. E aqui começamos a ver como este novo gene, consequência de uma mutação recente, pode lentamente ocupar o lugar do gene que estava antes no seu lugar.
Aqui importa perceber bem o lentamente. Dos professores que ensinavam criacionismo como teoria científica verificou-se também que uma grande maioria acreditavam que a humanidade tinha surgido nos últimos 10.000 anos. Isso é muito pouco tempo. O fóssil mais antigo de um esqueleto humano tem cerca de 130.000 anos mas estudos com base em genética sugerem que esse valor poderá ser 200.000. Quem não conseguir sequer imaginar o que são 200.000 anos tem que fazer um esforço. A compreensão de números grandes é de facto essencial para compreender a Evolução, quer para imaginar populações a evoluir em vez de um organismo de cada vez (organismos individuais NÂO EVOLUEM) como para compreender a escala de tempo em que as coisas avançam. Aqui o senso comum trabalha contra nós. A nossa visão das coisas é deturpada pela nossa curta longevidade. Adiante.
As mutações, e alterações na informação genética podem não ser apenas referentes a um único gene. Alterações ao nível cromossómico podem verificar-se. São as mutações cromossómicas como delecções, polyplidia, etc. E um cromossoma, tem uma quantidade muito grande de genes. Pensemos nas implicações… Podemos alterar grandes quantidades de informação de uma só vez. Ou pouca se for só para um gene.
Estamos agora na posse de conhecimentos que nos permitem visualizar os seres vivos a evoluir em relação aos seus antepassados, ao longo das centenas de milénio. Não um por um, não é demais repetir, mas como parte de populações em evolução. E sim, acho que deve ser essa a unidade temporal que devemos usar para este exercício mental. Por favor caro leitor, não se acanhe. Tente no entanto não colocar neste contexto a sua própria existência. Vai evitar conflitos internos.
Um outro ponto que é bom abordar, são as mutações neutras, aquelas que não têm vantagem imediata. Essas, não causando prejuízo, vão igualmente acumular-se no longo prazo. Até eventualmente podem vir a dar origem a um conjunto de mutações que são ou boas ou más, existe evidencia disso. Mas o que é interessa agora é que muitas vezes ficam como apenas uma maneira diferente de “dizer” a mesma coisa. Ou porque codificam o mesmo aminoácido, ou porque a proteína final faz a mesma coisa da mesma maneira, etc. É importante referi-las porque elas são uma previsão da teoria – se há mutações é de esperar que as que não dizem nada de nada apareçam silenciosamente nos genomas e por lá se deixem ficar pois a evolução não as vê. Se isto assim é, então é natural que vão existir tantas mais destas mutações neutras entre duas espécies quanto mais afastadas evolutivamente elas tiverem. Isto verifica-se. E permite ainda, juntando ao resto das coisas, saber quando é que foi o nosso ultimo antepassado comum humano pela lado materno, paterno, por onde passou etc.
Sem querer, para já, prolongar ainda mais este assunto, queria apenas referir algumas aplicações surpreendentes do conjunto das teorias evolutivas actuais:
1 – Informática: e algoritmos genéticos, inteligência artificial, teoria dos jogos, etc, etc, etc. Toda a área fica debaixo da designação comum de Computação Evolutiva, que basicamente integra os conceitos da evolução no desenho de programas. Os princípios de diversidade, mutação e selecção são introduzidos no computador que, a seu tempo, trará soluções novas e não directamente programadas pelo homem. Não é de estranhar que uma área de estudo que aqui pertence seja a criatividade artificial. Será que um dia vamos por maquinas a desenharem-se a elas próprias com base em programas evolutivos?
2 – Medicina: Modelo do desenvolvimento de tumores: A ideia que uma massa tumoral representa uma multiplicidade de células mais que uma entidade singular é antiga, e a variedade de formas das células que a constituem é reconhecida como característica de malignidade (pleomorfismo) também à muito tempo, o que é recente é a verificação que essas células correspondem de facto a vários perfiles genéticos. Ou seja, num tumor, existem células que são originadas de diferentes mutações, e com diferentes códigos genéticos. O modo como elas evadem as defesas do organismo (desde o ultrapassar do mecanismo de reparação do DNA) é Evolutivo. Só as células que escapam às defesas anti-cancro e se alimentam bem é que se dividem. Tal como na evolução das espécies tem de haver um acumular de mutações em várias fases para chegar ao cancro. Um exemplo um pouco mórbido mas que mostra a Evolução observável praticamente em tempo real. Estirpes bacterianas resistentes a antibióticos são outro exemplo de evolução em tempo real.
3 – Antropologia e geografia humana: Vou só referir um estudo publicado em que mostrava como era possível através do DNA, colocar com uma margem de erro mínima, um individuo no seu país de origem. O estudo foi feito apenas com descendentes de europeus. Curiosamente o estudo não distinguia eficazmente entre nós e Espanhois, o que interpretei como significando que somos mais parecidos entre nós que outras populações europeias. Não sei se a minha interpretação é correcta, pode ter-se dado o caso de se terem escolhido acidentalmente parâmetros onde não havia diferença e que se poderiam ter escolhido outros onde a distinção seria obvia. De qualquer modo antes de dizerem mal de “nuestros hermanos” lembrem-se que se calhar eles são mesmo “nuestros hermanos”.
4 – Genetica.
5 – Sociologia; Cultura; Psicologia – Os memes; mais pequena unidade funcional de uma ideia comportar-se-ão algo como os genes, sendo que os melhores memes vingam no coletivo da inteligencia humana. Os memes não têm uma forma delimitada constante, mas os genes não. Um conjunto de complexo de memes forma um memeplexo. Uma religião será um exemplo. A teoria da Evolução será outro. Bastante virulento por sinal.
O outro ponto difícil de explicar é a origem da vida. Esta tudo bem, assim se formam as espécies, as familias, etc, mas como apareceram? Embora esteja por definição fora do ambito da teoria da evolução acaba por ser um problema algo relacionado. Por exemplo, uma hipótese que eu penso razoável é que a evolução precede a vida. De facto dois biólogos matemáticos de Harvard, Novak e Ohtsuki, desenharam um modelo onde a variedade de moléculas no chamado “caldo primordial” era tanta que deveria haver reacções químicas permanentemente a acontecer. Terão surgido entre as moléculas pré-bióticas algumas que participavam em reacções que davam origem a elas próprias: a replicação. As que se conseguiam replicar mais eficazmente e rapidamente acabariam por substituir todas as outras. São os conceitos Evolutivos aplicados na explicação do surgimento de moléculas complexas e complexos moleculares. Segundo este modelo o aparecimento finalmente de vida terá também levado ao desaparecimento das moléculas pré-vida que não tinham utilidade. Este modelo parece no entanto que não é muito útil para tentar perceber como seriam essas moléculas, mas existem indicios que seriam percursores de RNA.
A suportar a evolução preceder a vida está também a descrição de estruturas dissipativas, que são focos de organisação expontâneos em sistemas fora do equilibrio, isto é, com muita energia disponível.
Para a constituição do já referido “caldo primordial” existem muitas hipóteses. Embora certamente ainda haja muito por descobrir nesta área, há indícios de que a ciência deverá estar no bom caminho. Moléculas orgânicas têm sido identificadas a aparecer espontaneamente em meios inorgânicos em laboratório, na natureza e até descobertas em análises de meteoritos. Há também quem defenda que a origem da vida foi fora da Terra mas isso para mim esta ainda fora do alcance da ciencia. Para ja parece-me incrivel. Existe no entanto algum consenso no sentido de que toda a vida sobre o nosso planeta tem uma origem comum. A primeira celula viva é a culpada de tudo. E ela surgiu, evolutivamente…
Existe mesmo a teoria de que a formação do Universo possa ser explicada de forma evolutiva. De entre os vários universos possíveis só os mais estáveis evoluíram para albergar vida.
12 comentários
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João e Diana, muito obrigado pelas intervenções, agradeço também as referências que me passaram em relação ao conceito de “memes”.
E parabéns pelo grande trabalho desenvolvido aqui no astro pt 🙂
Tiago, de minha parte, nada a agradecer!
Obrigado por ler e participar na conversa! 😉
Já agora, deixa que “cubra” uma lacuna…
Embora a teoria de Darwin fosse aceite pela comunidade científica quando em vida, após a sua morte e face ao desconhecimento acerca da hereditariedade e genética, foi alvo de muitas críticas e praticamente abandonada.
O que é compreensível, já que não se ajustava às evidencias daquela época. Pensava-se que a hereditariedade criava uma diluição de características, o que era incompatível com a seleção natural como força evolutiva.
Ironicamente, já Mendel tinha publicado o seu trabalho sobre a hereditariedade, mas só anos mais tarde foi conhecido internacionalmente…
A descoberta dos mecanismos hereditários genéticos trouxe realmente luz à proposta de Darwin, completando a teoria com o mecanismo primeiro.
Se bem que é certo que alguns biólogos evolutivos actuais (sobretudo da área da genética) dizem que não são Darwinistas, eu nao percebo o porquê. A Teoria apresentada por Darwin está mais viva que nunca e a genética só lhe trouxe ainda uma maior base de apoio. Infelizmente, e já presenciei isso em primeira mão, há alguns especialistas de genética que sabem muito pouco sobre teoria da evoluçao…
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Olá Tiago.
Creio que é consensual que a humanidade não parou de evoluir mesmo se falarmos só em termos biológicos, ainda morremos de muitos problemas naturais e estamos à mercê de uma sociedade global pouco igualitária (sem querer entrar na politica e filosofia se isso deve ou não ser assim, estou a constatar um facto não a dizer se é mau ou bom – tenho de ter a preocupação de salientar isso por causa dos amigos do “quote-mining”, não por tua causa propriamente). Por outro lado podemos evoluir muito em areas onde dandas havia mais limitações devido à falta de oportunidades e recursos(por exemplo a altura, a inteligencia, etc) – não há neste momento um grande travão para genes de crescimento em muitas sociedade e há um claro previlégio dos mais inteligentes, seja também isso justo ou não. A beleza também está a ter uma importancia que antes não tinha com pessoas bonitas a servirem de exmplo para outras só pelo seu aspecto.
Sim Dawkins propos o termo Memes para se referir às ideias por terem um comportamento análogo do gene. No entanto a memética não encontrou ainda um fundamento cientifico sólido, pois apesar de dar algumas explicações interessantes não deu origem a previsões falsificaveis e a um campo de investigação prolifico. Deverás considerar a memética filosofia devida à sua justificação racional. Dennet considera que os memes são como os genes. Ambos são explicados por um modelo de replicadores sob uma selecção. No entanto por exemplo o Stephen Pinker considera que os memes são mais como seres vivos do que propriamente como genes ja que diz que a epidemiologia é mais util para a memética que a genética.
Em relação às melhores ideias prevalecerem, eu defendo isso. Mas não é uma coisa que aconteça de hoje para amanhã. Nem é uma coisa que seja absoluta. A melhor ideia é sempre algo relativo ao que se consegue saber. Houve uma altura em que a religião era uma boa ideia, e Deus uma excelente explicação. Na realidade, apenas desde Darwin as grandes mentes humanas começaram a ser descrentes.
Sim, a lógica e o pensamento cientifico estão a anos-luz da teologia ou mesmo da simples crendice. Mas não a vai substituir do dia para a noite, e enquanto errar for humano, por um lado, e houver tanta injustiça, por outro, não penso que vá sequer acontecer. AS pessaos precisam de algo que lhes dê esperança e a ciencia depende dos homens para oferecer essa esperança. E depois há pessoas para quem simplesmente essa esperança não chega. Os que acreditam racionalmente na religião são cada vez menos entre as elites. E como as elites é que são os ponta de lança… Mas isto é apenas uma versão simplificada do problema. Em suma não penso que a religião vá desaparecer ou que sequer seja uma boa coisa (não sei), mesmo se é obviametne mais fraca como explicação e muito pior em termos de justificação para o que afirma.
Uma questão que sempre me intriga. Nós, seres humanos, ainda estamos passando por um processo de evolução biológica? Digo isso porque, atualmente, as condições de saúde, alimentação, proteção e sobrevivência não dependem tanto do indivíduo em si ou de seu código genético, mas da qualidade da sociedade em que ele vive.
Outra coisa diz respeito aos “memes”. Esse conceito foi uma criação de Dawkins, certo? Gostaria que explicassem mais disso aqui se for possível, claro 🙂
O que me inquieta um pouco nessa história de “memeplexo” é que não necessariamente o melhor conjunto de idéias prevalece numa população. Falo isso porque se assim fosse, nós não teríamos tanta gente a acreditar em visões religiosas do mundo em vez do pensamento científico. Até porque a lógica da ciência, em termos adaptativos parece ser bem mais evoluída do que a pseudo-lógica das religiões. Não é por demais lembrar que muita gente morre ou um dia poderá morrer devido a conflitos de religião e crenças.
Tiago, num outro post, está-se a comentar precisamente essa temática da selecçao natural nos humanos. Deixo aqui o link:
http://www.astropt.org/2012/02/26/os-cavalos-que-encolheram-ou-os-equivocos-sobre-a-evolucao-biologica/#comment-52831
Por um lado, nós, como qualquer outro ser vivo estamos e estaremos sujeitos a pressões selectivas. Que fique bem claro.
No entanto, digamos que andamos a aldrabar um bocadinho o processo, quanto mais não seja pelo uso de anticonceptivos. 🙂
Quanto aos memes, foi Dawkins quem divulgou (e quiçá até deu o nome) aos memes, mas a ideia é de outra pessoa. Ela divulga-a n’O Gene Egoista. Não tenho o livro à mão, mas amanha procuro o nome do autor(a).
Author
Abidos:
Já agora outra coisa. A idade média foram 1000 anos. Se não tivesse existido onde já estariamos nós?
Curiosamente, em Portugal (na maior parte do território), nós não nos podemos queixar!!! Porque durante grande parte desse tempo (Idade Média), estivémos ocupados pelos Mouros!!! O Califado do Al-Andaluz era na altura um dos centros culturais e cientificos mais avançados da época… depois com as guerras internas, com os Reinos das Taifas… foi ficando cada vez mais parecido com o resto da Europa, mas…
No caso especifico Português, a maior regressão cultural, economica e cientifica, na minha opinião dá-se mais tarde, com a Inquisição, ironicamente num momento praticamente inverso ao resto da Europa, e que ainda hoje, nós sentimos as consequências… Quando se faz a História cientifica comparada entre Portugal e a Europa (mais a Norte!!!) durante a Inquisição, é um cenário desolador… o Darwin teve problemas em ver as suas conclusões aceites, mas em Portugal personagens como o Garcia da Orta foram ignorados durante anos e anos…!!!
Abraços
Author
Abidos:
Ideias sobre a evolução haviam já antes de Darwin andar a investigar no mundo ocidental. Não precisou de it falar com tribos primitivas. O que faz a diferença entre outras afirmações de evolução para a afirmação e publicação de Darwin é a justificação que elas têm. O que faz uma teoria não é o que ela diz, mas sim a justificação dela. Ele pode ter dito ao Darwin que acreditavam que a evolução era a realidade, que isso por si não vale nada.
Depois, embora a evolução não requeira trabalho de laboratório e apenas de campo não me parece impossivel que uma tribo qualquer não possa ter encontrado o suporte para a teoria, mas a dedicação necessária e a sistematização sugere que não é plsusivel numa sociedade pouco organisada e especializada nas funçoes dos seus membros. Darwin teve de ter disponibilidade e oportunidade para reunir tantas provas como reuniu e não tem o mérito da descoberta de todo o suporte da teoria. Algumas coisas ele só juntou as peças.
Por fim outra nota: tem cuidado, isso é apenas um romance. Não é para ser julgado sequer como um trabalho cientifico.
Tenho plena consciência de que um Romance é um Romance nada mais… mas o relativo ‘atraso’ com que Darwin publicou as suas conclusões levou a que tivessem criado várias teorias conspirativas sobre as razões, daquelas que conheço, esta é talvez a mais ‘romântica’!!! Só isso nada mais…
(no livro também é insinuado que Darwin teria ‘roubado’ os dados de outro cientistas, mas isso agora não interessa…)
Abraços
O atraso na publicação é mais que justificado pelo carácter do Darwin, pela sua relação com a esposa e com a própria conjuntura da época.
Mas a existência do “Draft” prova que ele já tinha a teoria “na cabeça” em 1842 (se não me falha a memória). Nesse documento estão todas as partes principais da teoria. Os anos que se seguiram serviram para a consolidar e enriquecer com mais evidências.
Mas, para além disso, Darwin fez muitas outras investigações, algumas pouco ou nada relacionadas com a selecção natural (pelo menos à primeira vista)!
Tantas que seriam impensáveis na vida de um cientista actual, mesmo com os avanços tecnológicos.
O trabalho de Darwin está demasiado bem documentado pelo próprio, nos seus cadernos de notas, para que se ponha em causa a veracidade da autoria.
Foi verdadeiramente um homem fantástico!
Leiam a sua biografia (auto ou a da Janet Browne) 🙂
PS- sempre achei curiosíssimo que ele chamasse de “resumo” à Origem, dizendo que uma obra mais completa deveria ser escrita 🙂
No romance The Darwin Conspiracy (O Pecado de Darwin, em Portugal) de John Darnton, tenho que admitir que fiquei intrigado com a ‘possibilidade’ de Darwin ter chegado ao ‘Sobre as Origens das Espécies’, não pela sua observação, e pela sua dedução, mas sim, pelo contacto pessoal com uma tribo ‘primitiva’ na America do Sul, que oralmente lhe teria transmitido as bases para a Teoria da Evolução… Seria uma grande ironia, que no limite poderia desmentir a própria Teoria da Evolução, já que seria o ‘primitvo’ a ensinar o ‘civilizado’!!!! Mesmo sendo pura especulação, esta história releva outra caracteristica importante na Evolução: A Evolução não é uma ‘linha recta’, existem recuos e avanços, melhorias ou nem por isso… tal como na História do Homem, para existir o Renascimento, teve que existir a Idade das Trevas…!!!
Abraços