O Ciência Hoje traz um artigo muito bom sobre o trabalho do David Sobral.
“David Sobral está a liderar uma equipa de astronómos na Universidade de Leiden numa investigação que, através de um método inovador, mostra que “as galáxias no Universo inteiro formam cada vez menos estrelas”.”
David Sobral diz: “utilizando melhores telescópios é possível detectar fontes extremamente ténues, cuja luz demorou milhares de milhões de anos a chegar até nós e, por isso, dá-nos a possibilidade de observar galáxias jovens tal como eram há muitos milhares de milhões de anos”. (…) Através da combinação de dois filtros estreitos [em dois telescópios], capazes de identificar riscas espectrais características de galáxias com formação estrelar a uma distância particular no Universo, é agora possível fazer ‘scans’ eliminando incertezas, obtendo uma informação ‘stereo’ e em horas ou uma a duas noites, ao contrário das centenas de noites previamente necessárias. (…) Os nossos resultados mostram de forma inequívoca que a actividade de formação estelar no Universo como um todo tem estado a diminuir desde pelo menos os últimos 11 mil milhões de anos. (…) Os nossos resultados reconciliam, pela primeira vez, a história de formação estelar no Universo com a quantidade de estrelas ‘maduras’ por volume no Universo”.
Ou seja, parece-me que as palavras do David Sobral são excelentes e explicam exactamente o que está a investigar.
Parece-me no entanto que o título dado pela equipa do Ciência Hoje, “Astrónomo mostra que há cada vez menos estrelas no Universo”, é enganador.
E é enganador porque o facto de haver menos estrelas no Universo já se sabia. Estimativas da NASA e da ESA para a nossa Galáxia, dão à volta de 6 novas estrelas todos os anos. Noutras galáxias o número é semelhante, como podem ler aqui. E também se sabe que no passado, em galáxias distantes (no espaço e no tempo) a formação de novas estrelas nas galáxias era muito superior (50, 100, 4000, 4000). Esta forte formação estelar no início é esperada já que actualmente existem muitas mais estrelas menos massivas no Universo, que duram muito mais tempo e morrem menos, e consequentemente leva a menos formação estelar.
Isto é ensinado a alunos de áreas não-científicas no primeiro ano da Universidade, em aulas de astronomia.
Pela entrevista, pelas próprias palavras dele, o que me parece que o David Sobral está a fazer de forma excelente é conseguir métodos mais precisos para medir essa formação estelar em galáxias distantes e alargar esse estudo a muitas mais galáxias.
Essa parece-me ser a verdadeira inovação da investigação. E parece-me que este foi o contexto da investigação que faltou fazer no Ciência Hoje.
1 comentário
Os melhores aliados da ciencia sao os instrumentos e processos cada vez mais inovadores e precisos, para a ciencia nao basta dizer ou acreditar, precisa mostrar. E e’ isto que nos faz ir mais longe. Parabens pelo post Carlos. Gostei como referiste que hoje em dia a precisao e inovacao vao ditar as descobertas do amanha. Cumprimentos