Texto publicado no jornal O Baluarte de Santa Maria no âmbito do projecto Ciência na Imprensa Regional
Existem três espécies de elefantes no mundo: o elefante-da-savana (Loxodonta africana), o elefante-da-floresta (Loxodonta cyclotis) e o elefante-asiático (Elephas maximus). E como eram aquelas espécies que já desapareceram? Existem muitos fósseis que permitem conhecermos melhor o seu aspecto. Mas, seria o seu comportamento comparável ao dos elefantes actuais? Sabe-se que hoje os elefantes têm uma estrutura social complexa, com segregação sexual e centrada em grupos matriarcais. Há quanto tempo é que este comportamento existe?
O comportamento dos animais extintos é difícil de estudar porque, ao contrário dos seus ossos, carapaças ou concha, não fossiliza. No entanto, algumas pistas muito raras dão-nos, por vezes, a conhecer vislumbres dos hábitos dos animais extintos.
Este é o caso de uma recente descoberta feita num local chamado Mleisa, nos Emirados Árabes Unidos, por uma equipa internacional liderada por Faysal Bibi, hoje a trabalhar na Universidade Humboldt em Berlim. Este paleontólogo e a sua equipa descobriram uma pista com muitas pegadas fossilizadas de Proboscídeos, a família a que pertencem os elefantes.
Porque é que esta descoberta é tão interessante? Porque o número e disposição das pegadas permite-nos inferir muito acerca do comportamento social dos animais que por aquele local passaram há entre 6 a 8 milhões de anos.
O primeiro facto que esta descoberta nos transmite é que as pegadas seriam dos antepassados dos actuais elefantes, que se estima terem divergido há cerca de 6 milhões de anos. Depois, com base no tamanho e espaçamento das pegadas dos pelo menos 13 indivíduos, foi possível estimar o tamanho dos animais, que resulta ser comparável ao dos elefantes africanos.
No que diz respeito ao comportamento, o facto das pistas serem paralelas, indica que os animais estavam a viajar lado a lado, em grupo e, portanto, já teriam alguma estruturação social. Há ainda uma outra pista, de um animal solitário, que se cruza com as demais. Este animal era maior, pelo que os autores especulam que poderia ser um macho. A confirmarem-se as suspeitas de que a manada era constituída por fêmeas (a distribuição de tamanhos sendo similar à das manadas actuais) e que o animal solitário era um macho, isto implica que os elefantes ancestrais já viviam de forma similar à das espécies atuais e, portanto, que o seu sistema social tem uma história bem longa.
Procuram-se, pois, novas pistas de elefantes para continuar a reconstrução da evolução do comportamento social!
Referências:
- Bibi, F. et al. (2012). Early evidence for complex social structure in Proboscidea from a late Miocene trackway site in the United Arab Emirates. Biology Letters DOI 10.1098/rsbl.2011.1185
- In the footsteps of prehistoric elephants
4 comentários
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Adorei! É verdade que muito disto é, ainda, especulado, mas assim é que dá gosto fazer e aprender ciência.
Author
Obrigada, Filipe! 🙂
Sim, quando há tão poucos indícios, é difícil ter certezas e por vezes é necessário especular um pouco. Daí que todos os que se encontrem sejam preciosos e ajudem a ajustar o que já se sabe e também por isso os autores do trabalho têm que ser muito cuidadosos com as medidas que fazem e as conclusões que delas tiram.
Mas a especulação científica cuidadosa também leva a que se procurem mais evidências, para saber mais e melhor.
É mesmo assim a Ciência 😉
Filipe, tem aqui: ( http://rsbl.royalsocietypublishing.org/content/suppl/2012/02/22/rsbl.2011.1185.DC1/rsbl20111185supp2.jpg ) uma fotografia aérea do local. Clica na imagem para aumentar a imagem e ver os vários trilhos.
Obrigado!