O 220º Encontro da American Astronomical Society teve lugar entre os dias 10 e 14 Junho, em Anchorage, no Alaska. A missão Kepler esteve presente em força com várias novidades interessantes. Apesar de parte das sessões poderem ser vistas via Internet, os afazeres profissionais e particulares impediram-me de seguir mais de perto o que se passava. Felizmente, o Govert Schilling estava lá a fazer a cobertura do evento e foi dizendo o que se passava através do Twitter. Vários dos trabalhos apresentados e que vou mencionar em seguida não estão ainda publicados o que explica a paucidade de detalhes nos tweets do Govert Shilling e a dificuldade em encontrar informação adicional na Internet. Aqui vai então o sumo das sessões vergonhosamente adaptado e ligeiramente melhorado dos Tweets do Govert:
1. A missão Kepler tem agora 72 planetas confirmados, (vários em sistemas múltiplos) num total de 2321 candidatos. Cerca de 365 estrelas têm sistemas múltiplos, num total de 896 planetas;
2. A Natalie Batalha anunciou que actualmente o melhor candidato para um planeta com características físicas semelhantes à Terra na zona habitável da estrela hospedeira é o KOI-2124.01. O planeta tem um raio semelhante ao da Terra e um período orbital de 42.3 dias. A estrela hospedeira é mais fria e menos luminosa que o Sol;
3. O Geoff Marcy apresentou uma análise dos planetas confirmados pelo Kepler, para os quais são conhecidas a densidade, massa e dimensões. Os dados apontam para uma transição entre planetas rochosos (de grande densidade, semelhantes à Terra) e planetas formados predominantemente por gelos (de baixa densidade, semelhantes a Neptuno) quando o raio atinge cerca de 1.5 vezes o da Terra;
4. O Jack Lissauer descreveu o sistema Kepler-33 (com 5 planets) como sendo extremamente plano e com uma inclinação orbital próxima dos 90 graus. Aparentemente, durante os trânsitos, todos os planetas do sistema atravessam o disco da estrela segundo a mesma corda (!);
5. O Jason Steffen mencionou outro estudo de candidatos descobertos pelo Kepler que mostra que Terras Quentes e Neptunos Quentes, bem como Júpiteres Mornos (mais distantes das estrelas hospedeiras que os Júpiteres Quentes) existem em sistemas múltiplos. As fracções observadas são de, respectivamente, 30%, 30% e 10%. Notem que o número para Júpiteres Mornos é menor. Os sistemas com Júpiteres Quentes, no entanto, parecem não ter outros planetas. Os Júpiteres Quentes são solitários. Esta observação vem reforçar a ideia de que estes planetas se formam longe das estrelas hospedeiras migrando depois, por interacções com o disco proto-planetário, para uma órbita bem mais interior. Nesse percurso, a sua enorme massa provavelmente captura, ou ejecta para fora do sistema, planetas mais pequenos e em formação no disco;
6. O Andrew Howard mostrou que os Júpiteres Quentes são extremamente raros. De acordo com a amostra do Kepler, são cerca de 1000 vezes menos comuns do que planetas com o tamanho entre a Terra e Neptuno;
7. O Jerome Orosz apresentou uma descoberta interessante: mais um “Sistema Tatooine”, o Kepler-38. É já o quarto descoberto pela missão. O planeta, Kepler-38b, tem um raio de 4.35 vezes o da Terra (é provavelmente um Neptuno) e orbita um sistema binário com um período de 105.6 dias. O sistema binário é formado por uma estrela semelhante ao Sol e uma anã vermelha;
8. O Andrew Howard notou que os dados do Kepler apontam para uma modesta abundância de planetas com tamanhos inferiores a duas vezes o raio da Terra. Este efeito já tinha sido observado numa análise prévia dos resultados, mas a surpresa é que se mantém, apesar de a análise actual usar um conjunto de observações maior, conferindo-lhe mais precisão. Howard refere que o efeito poderá ser devido a uma dificuldade do Kepler em ver esses planetas (e.g. devido a ruído nos dados, etc), mas parece que a equipa está a considerar seriamente a hipótese de ser um efeito real, o que seria muito interessante e contra-intuitivo;
9. O sistema KOI-961 foi renomeado de Kepler-42;
10. O Lars Buchhave apresentou uma análise de mais de 150 sistemas descobertos pelo Kepler que aponta para que a formação de planetas mais pequenos como Terras e Neptunos não dependa tão fortemente da metalicidade da estrela hospedeira com no caso dos gigantes de gás. Isto quer dizer que mesmo estrelas pouco enriquecidas em “metais” poderão formar planetas pequenos com o a Terra. Este resultado vem confirmar estudos realizados por outras equipas, e.g. do Observatório de Genebra, que apontavam já para esse efeito. Podem ler mais sobre isto aqui.
11. Finalmente, o Thomas Barclay referiu que o candidato a exoplaneta mais pequeno detectado pelo Kepler tem o tamanho da Lua (sim, a nossa Lua!) e orbita uma estrela semelhante ao Sol com um período de 15 dias!
3 comentários
Author
Olá !
Ponto 1. Dos candidatos descobertos, o mais pequeno é do tamanho da Lua, segundo o Thomas Barclay. Corpos dessas dimensões são esféricos devido à acção da gravidade própria.
Ponto 8. A amostra de estrelas observada pelo Kepler é mais activa do que as estrelas na vizinhança solar. Isto foi descoberto já no decurso da missão e implica que as estrelas apresentam uma variabilidade fotométrica que dificulta a detecção de planetas pequenos. Os trânsitos destes planetas têm amplitudes muito pequenas e são literalmente obliterados pelas variações de luminosidade devidas à actividade fotosférica da estrela (e.g., oscilações do tipo solar, manchas, granulosidade superficial devida à convecção).
Espero ter esclarecido as dúvidas 😉
Certamente que sim. 😉
Agradeço.
Luís, excelente artigo. 😉
Tenho 2 dúvidas:
– No 1º do artigo, li que existem 72 planetas confirmados e 2321 candidatos à categoria de planeta. Está no meio desses candidatos corpos celestes do tipo Vesta, por exemplo?;
– No 8º ponto do artigo, não compreendi o que seriam e.g. devido a ruído nos dados