Buraco Negro com cartolas

Nikodem Poplawsky, um físico teórico da Universidade de Indiana, Estados Unidos, defende a teoria segundo a qual o nosso Universo está dentro de um buraco negro.

Um buraco negro é uma deformação no tecido do Espaço-Tempo causada por um objeto tão massivo e compacto que uma bola de ténis feita desse ‘material’ teria a massa de todo o planeta Terra.

Dos efeitos gravitacionais deste monstrinho das bolachas cósmico absolutamente nada, nem a própria luz, é capaz de escapar – daí o nome.

Para definir as condições existentes no interior de um buraco negro, os físicos usam uma fantástica palavra, singularidade. Existem singularidades de curvatura e singularidades cónicas, mas nem que vivesse 150 anos seria capaz de perceber mais do que isto.

A singularidade também é importante porque o facto de existir implica que as velhas e fiáveis descrições da Teoria da Relatividade Geral podem falhar nessas condições extremas. Se nem o velho Albert Einstein nos pode valer, quem poderá?

Do ponto de vista de um leigo, singularidade também poderá significar «macacos me mordam se eu sei o que é isso» e suspeito que muitos físicos achariam esta definição igualmente adequada, sobretudo quando aplicada ao Big antes de fazer Bang. Aliás, se alguma vez o Universo teve o seu momento Zen deve ter sido por essa altura. Depois foi só agitação…

A teoria segundo a qual vivemos dentro de um buraco negro tem implicações importantes: imaginemos que um viajante de um universo alternativo arranja maneira de sobreviver à entrada no ‘nosso’ buraco negro e se depara com este Universo. Sim, Poplawsky, que tem tanto de físico como de controverso e agoirento, quer convencer-nos de que no interior do buraco negro onde vivemos e do qual jamais poderemos escapar existem, entre outras singularidades, políticos e politiqueiros – o que só abona a favor da plausibilidade da teoria.

Se Poplawsky vivesse em Portugal já teria lançado a teoria há muito mais tempo porque teria sofrido na pele os efeitos de uma ‘descida’. Lembrem-se, os físicos costumam dizer naqueles programas da Discovery que o corpo do astronauta, ao aproximar-se em demasia de um buraco negro, começa a esticar-se, a esticar-se até ao infinito devido aos efeitos de uma gravidade infinita (e já notaram que gravidade rima com austeridade?).

Não sei se vivemos dentro de um buraco negro como diz Poplawsky, mas estamos definitivamente a sofrer os seus efeitos: esticamos, esticamos, esticamos, esticamos, enquanto nos dizem que despedimentos são oportunidades e queixas meras lamechas, enquanto os que trabalham são sacrificados e os corruptos e cultivadores da ignorância prosperam; esticamos, esticamos, esticamos ao ponto de já não sabermos onde está a nossa carteira, porque está cada vez mais longe, sendo devorada como tudo o resto; iremos esticar, esticar, esticar até que a nossa resistência quebre de vez. Einstein, recordem-se, já não nos pode valer.

Felizmente temos Stephen Hawking.

Hawking prevê que até um buraco negro se pode evaporar e desaparecer. Não precisamos de pensar que estamos condenados a esticar até ao infinito. Efeitos quânticos permitem que o buraco emita radiação térmica – a radiação Hawking, justamente – e vá perdendo massa ao longo do processo. Demora tempo, mas acaba por acontecer.

(Já repararam que radiação rima com revolução?)

Créditos: http://www.truca.pt/imagens_material/ze_povinho/ze_povinho.html …… http://meio-crescente.blogspot.com/2012/03/cronicas-10-minutos-viver-o-passado_16.html

Antes de Hawking – corrijam-me se estiver enganado – não passava pela cabeça de ninguém que um buraco negro também viesse a evaporar, encolher e morrer, tal como não nos passa pela cabeça que as singularidades que sempre nos nos governaram e esticaram até ao infinito, esperando retirar-nos substância e densidade, venham a evaporar, encolher e, finalmente, cair.

Depende do Hawking que há em cada um de nós e da vontade de o descobrir, quando for a nossa vez de votar. Stephen Hawking, o cientista da cadeira de rodas condenado à morte desde a adolescência, mantém-se invejavelmente vivo. Só temos de fazer como ele, mantermo-nos vivos e não esticar o pernil diante da televisão e do Facebook.

3 comentários

1 ping

  1. Mais uma vez, excelente artigo, Marco! Ciência e humor perspicaz muito bem colocados. 😉

    Devidamente linkado aos favoritos.

    Só relembrando à todos nós que o Big Bang foi uma “Grande Expansão”. 😉

    Abraços.

    • Graciete Virgínia Rietsch Monteiro Fernandes on 10/07/2012 at 00:02
    • Responder

    Gostei muito deste texto. Os meus parabéns ao autor.
    Penso também que é necessário manter vivo o Hawking que há em nós e nos ajuda a contribuir para que se evapore o buraco negro que nos sufoca.

  2. Excelente post!!
    Abraço

  1. […] Planeta vivo. Sagan. Anãs Brancas. Dentro de Buracos Negros. Buraco Negro de Outro Universo (aqui). Luas. Vida nas luas. Vida em Vénus. Depoimento de um habitante de Titã. Astrónomo Russo. […]

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