Foram encontradas pela primeira vez galáxias escuras – uma fase inicial da formação de galáxias prevista pela teoria mas que até agora nunca tinha sido observada.
Estes objetos são essencialmente galáxias ricas em gás mas sem estrelas.
Utilizando o Very Large Telescope do ESO, uma equipa internacional detectou estes objetos evasivos ao observá-los a brilhar devido a estarem a ser iluminados por um quasar.
As galáxias escuras são galáxias pequenas ricas em gás do Universo primordial, muito pouco eficazes em formar estrelas. São previstas pelas teorias de formação de galáxias e pensa-se que são os blocos constituintes das atuais galáxias brilhantes ricas em estrelas. Os astrónomos pensam que estes objetos devem ter alimentado as galáxias maiores com o gás que posteriormente deu origem às estrelas que existem atualmente.
Uma vez que são essencialmente desprovidas de estrelas, estas galáxias escuras não emitem muita radiação, o que as torna muito difíceis de detectar. Durante anos, os astrónomos tentaram desenvolver novas técnicas para confirmar a existência destas galáxias. Pequenos decréscimos em absorção nos espectros de fontes luminosas de fundo apontavam para a sua existência. No entanto, este novo estudo marca a primeira vez que estes objetos foram vistos diretamente.
“A nossa aproximação ao problema de detectar uma galáxia escura foi simplesmente a de a iluminar com uma luz brilhante,” explica Simon Lilly (ETH Zurich, Suíça), co-autor do artigo científico que descreve o resultado. “Procurámos o brilho fluorescente do gás em galáxias escuras quando estas são iluminadas pela radiação ultravioleta de um quasar próximo muito brilhante. A radiação do quasar ilumina as galáxias escuras num processo semelhante ao das lâmpadas ultravioletas que iluminam as roupas brancas numa discoteca.”
(…)
“Depois de vários anos de tentativas para detectar a emissão fluorescente das galáxias escuras, os nossos resultados demonstram o potencial deste método para descobrir e estudar estes fascinantes objetos previamente invisíveis,” diz Sebastiano Cantalupo (Universidade da Califórnia, Santa Cruz), autor principal do estudo.
A equipa detectou quase 100 objetos gasosos que se situam num raio de alguns milhões de anos-luz do quasar. Depois de uma análise detalhada com o intuito de excluir objetos nos quais a emissão possa estar a vir de formação estelar interna nas galáxias, em vez da radiação do quasar, o número de objetos chegou a 12. São as identificações mais convincentes até à data de galáxias escuras no Universo primordial.
Os astrónomos conseguiram determinar também algumas das propriedades das galáxias escuras. Estimam que a massa do gás nestes objetos seja de cerca de um milhar de milhão de vezes a do Sol, típica de galáxias de pequena massa ricas em gás, existentes no Universo primordial. A equipa conseguiu também estimar que a eficiência da formação estelar é suprimida de um factor maior que 100 relativamente a galáxias típicas com formação estelar encontradas em fases semelhantes na história cósmica.
“As nossas observações com o VLT mostram evidências da existência de nuvens escuras compactas e isoladas. Com este estudo demos um importante passo em frente no sentido de revelar e compreender as fases iniciais da formação de galáxias e de como as galáxias adquirem o seu gás”, conclui Sebastiano Cantalupo.
(…)
Leiam o artigo original completo, na página do ESO.
17 comentários
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Valeu Carlos pela explicação . Realmente é um caminho árduo a se percorrer, tal como a interprise rs.
Interessante Carlos esta tua explicação. Mas para pessoas leigas como eu e muitos por ai, fica-se imaginando o que seria a fronteira do Universo ? Por isto que coloquei o questionamento acima,ou seja, a idéia de ciclo tão comum ao observarmos os fenomenos naturais. E partindo da idéia de uma física quantica poderia se ver o Universo como uma “máquina” a depurar sua propria energia cósmica qua cada vez mais tornando se sútil. Outra curiosidade que tenho é na questão de saber de no processo do Big bang se poderia ser um processo, não uniforme, tentando te explicar rsrs.Bom, seria imaginar que o Universo tem processo diferentes, seria como num determinado local é envolvido por uma “matéria” mais sutil, em outras partes por uma matéria mais grosseira.Seria como afirmar que existem partes no Universo que ainda estão nascendo e em outras já passaram por um processo tão dinamico que se tornaram praticamente invisíveis ao nosso olhar humano. Espero que eu tenha explicado o meu raciocinio rsrs.
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Pode não haver fronteira do Universo. Pode ser finito mas ilimitado. Como a Terra 😉
A ideia que o Universo é feito da mesma matéria em todo o lado, e com todos os processos a serem iguais, baseia-se no Princípio da Uniformidade, que é para todos os efeitos um princípio filosófico. Não existem provas científicas disso. Daí a ciência ser um acumular de conhecimento, porque ainda há conhecimento para acumular 😉
O que acha da ideia de existir um movimento “péristáltico” que fizesse que o Universo se expandisse (Big Bang) e se contraísse novamente num ato contínuo e eterno a purificar todo o Universo que se tornaria cada vez mais rarefeito .
Author
Os ciclos de expansão e contracção são uma das filosofias do Universo baseadas em religiosidades orientais.
Se isto acontecesse, nada disto tem a ver com “purificação” e o Universo não se tornaria mais rarefeito.
Neste momento as evidências mostram o contrário. Mostram que o Universo se irá expandir para sempre e terá uma “morte fria” (neste caso sim, a matéria torna-se cada vez mais rarefeita). Nada aponta para um “Big Crunch”.
Carlos,
Causaria alguma “estranheza” a confirmação futura da Teoria do Big Bang e as evidências que apontam para um Big Freeze?
Abraços.
Author
Não entendi…
Porque seria estranho? 😛
Vejo a Teoria do Big Crunch com uma possível explicação do que ocorreu antes da Grande Expansão (Big Bang), pois o Universo voltaria à Singularidade (não sei se estaria correto nesta assertórica).
Penso que a Teoria do Big Freeze colocaria um “mistério” (não-passível da busca científica 😉 ) ainda maior sobre o Tempo Pré-Planck.
Perdão. Não sei se me fiz entender. 😉
Author
“Vejo a Teoria do Big Crunch com uma possível explicação do que ocorreu antes da Grande Expansão (Big Bang), pois o Universo voltaria à Singularidade.”
Pois, aí pode haver 2 cenários:
– pode voltar à singularidade e acabar.
– pode voltar à singularidade e retomar um novo ciclo com um novo Big Bang (que foi a ideia de ciclos que falei em cima).
😉
“Penso que a Teoria do Big Freeze colocaria um “mistério” (não-passível da busca científica 😉 ) ainda maior sobre o Tempo Pré-Planck.”
Porque o mistério seria maior neste caso? 😉
Sinceramente, não me parece 🙂
Parece-me que teoricamente o Big Freeze está mais ou menos bem explicado.
Tanto no Big Freeze como no Big Crunch haverá um ponto a partir do qual, as leis do Universo a que estamos habituados deixam de funcionar… por isso, o mistério para lá do Tempo de Planck seria semelhante ao mistério para lá do Tempo de Cavalcanti 🙂 ehehehehe 🙂
Aliás, pensando se calhar mais um bocadinho agora… se o Universo entrasse em contracção, aí sim teríamos um grande mistério: o que deixou de funcionar, e porque deixou de funcionar, para a gravidade ser raínha? 😉
abraços!
Tinha a convicção que seria um mistério porque pensava que no BIg Freeze não teríamos um “ponto” de Singularidade. Daí a minha “confusão”. hehehe 😉
Mas agora compreendo que, mesmo na expansão infinita, teríamos um ponto em que as Leis da Física não mais se aplicariam. . 😛
Obrigado pela explicação concisa. 😀
Abraços!
Author
São conceitos diferentes 🙂
No Big Freeze, ponto de singularidade poderá não haver.
Mas haverá um “tempo de planck”, ou seja, uma altura a partir da qual as leis actuais se podem deitar ao lixo 😛
Ah, ok Carlos. 😉
Agradeço pela antenção. 🙂
*atenção.
Olá Carlos
Os astrónomos já chegaram a alguma conclusão em relação ao facto destas galáxias terem gás mas não formarem estrelas?
Author
Conclusão em que sentido?
Bem, atendendo a que as estrelas nascem em nebulosas, que são enormes nuvens de gás, estas galáxias têm gás … logo , porque não formam lá estrelas dentro? À partida se são galáxias, são corpos celestes grandes, devem ter gás suficiente para gerar estrelas, digo eu…
Os astronomos avançaram com alguma explicação para o facto destas galáxias não formarem estrelas e em vez disso darem esse gás a outras galáxias?
Como diz o texto, as galáxias recetoras formam estrelas com esse gás…
Para formar estrelas é preciso mais do que gás?
Author
Suponho que lhe faltam nuvens moleculares e alguma poeira… penso eu.