Les Horribles Cernettes

Em 1992, a internet dava os primeiros passos. Por exemplo, havia e-mail, mas não havia ainda uma internet per se, não havia uma web para consultarmos informações.

No CERN (que descobre partículas elementares como o Bosão de Higgs), Tim Berners-Lee estava a tentar construir um sistema de hipertexto. Não tinha noção que iria dar a revolucionária internet que utilizamos agora diariamente, mas achou que iria ser um desenvolvimento engraçado (quiçá até alguém fora do CERN pudesse utilizar). Desenvolveu uma coisa “engraçada” chamada “browser”. E, 20 anos depois, quem não conhece o Internet Explorer, o Mozilla Firefox ou o Google Chrome?

Nessa altura, há 20 anos atrás, existia uma banda de sátira às girls bands, chamada As Horríveis Cernettes.
Sendo uma sátira, não eram lá muito populares, mas eram populares entre os nerds do CERN. E porquê? Porque essa banda feminina era composta por profissionais do CERN e por namoradas de técnicos que lá trabalhavam. Aliás, Les Horribles Cernettes tinham por sigla LHC (Large Hadron Collider). E ainda mais uma ligação ao CERN: o “manager” e compositor das músicas desta banda era Silvano de Gennaro, que na sua vida durante o dia era engenheiro no CERN.

A 18 de Julho de 1992, Les Horribles Cernettes actuaram no Hardronic Music Festival, um festival de música no CERN que se realiza anualmente.
O “manager” Silvano de Gennaro aproveitou para tirar esta foto (em cima) da banda no final da sua actuação nesse festival.
Tim Berners-Lee pediu ao Silvano que lhe emprestasse essa fotografia porque queria fazer umas experiências com ela: queria testar essa coisa nova que ele tinha criado em hipertexto, uma coisa chamada “browser” que lhe permitia “navegar em WWW”.
Com um “scanner”, a foto passou para um computador. e a seguir para uma página de internet.

Les Horribles Cernettes tornaram-se assim na primeira banda musical com página na internet (incluída na página de actividades musicais do CERN).
E foi desta forma que a primeira imagem foi parar à web.

Silvano nem sequer percebeu o alcance disto. Pergunta ele ao Tim: “Mas porque será que as pessoas dentro do CERN vão querer ver uma imagem da banda? Não faz sentido! É uma perda de tempo”. Ao que o Tim respondeu: “Pode ser que alguém pense que é divertido”.
E assim nasceu a internet que todos adoramos, carregada de informações e imagens.

Eventualmente um vídeoclip delas também entrou pela web dentro.
E foi gravado onde? No LHC obviamente 😉

E têm algumas canções também bastante representativas do sítio a que estavam ligadas. Vejam alguns títulos das canções: “Azoto líquido”, “Surfar na Web”, “O meu amor é um Prémio Nobel”, etc.

Quando vos perguntarem para que serve o CERN? Porque raio se anda dezenas de anos e a gastar milhões de euros a procurar partículas invisíveis que 99% da população nem sabe que elas existem?
Já podem responder duas coisas:
– quando vais ao hospital, as máquinas lá utilizam as descobertas do CERN. Sem essas descobertas, morria-se mais facilmente.
– sempre que utilizas a internet, deves essa utilização em grande medida às descobertas (e “divertimentos”) do CERN.

O astroPT é um projecto que não existiria sem internet. Obrigado CERN !

8 comentários

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    • Dinis Ribeiro on 01/08/2012 at 22:04
    • Responder

    Hummm… Mas que pequeno “ataque” de nostalgia que acabo de ter… relativamente á tal “era”antes da Internet, ou melhor, antes da WWW.

    Posso confirmar que já haviam muitos BBS nos anos oitenta http://pt.wikipedia.org/wiki/Bulletin_board_system e o primeiro a que acedi foi por telefone, em 1984 a partir do meu segundo computador: http://en.wikipedia.org/wiki/Commodore_SX-64

    Não eram BBS’s assim tão “das cavernas” como isso. E em Paris muita gente usava o Videotex / Minitel http://en.wikipedia.org/wiki/Minitel

    O meu primeiro computador foi um http://pt.wikipedia.org/wiki/Sinclair_ZX81 para o qual escrevia programas em BASIC http://en.wikipedia.org/wiki/Sinclair_BASIC em 1982.

    Lembro-me de mandar o meu primeiro e-mail em 1985 a partir do Peter T. Flawn Academic Center em Austin a partir duns terminais com o fundo negro e as letras verdes brilhantes, que ficavam do lado esquerdo da entrada principal.

    Nessa altura fazia parte da UTSEDS – University of Texas Students for the Exploration and Development of Space e usávamos UNIX numas grandes workstations brancas.

    Noto que se vê nos videos o parecem ser alguns computadores CRAY-1
    Ver: http://en.wikipedia.org/wiki/Cray-1

    Em 1987 ainda em Austin, matriculei-me numa “cadeira” opcional que era “Introduction to Research” (Credit / No Credit) e o meu trabalho consistia em usar um editor http://en.wikipedia.org/wiki/Unicos para editar linhas de código (uma a uma) dum programa de astrofísica do departamento de Astronomia. Ainda me lembro que o objectivo era efectuar um cálculo do diâmetro do universo. Eu recebia aqueles enormes print-outs brancos com as folhas dobradas pelo picotado, http://en.wikipedia.org/wiki/Continuous_stationery e lia cuidadosamente as alterações a efectuar que estavam escritas com um marcador vermelho. Em seguida, sózinho num cubículo no RLM ( Robert Lee Moore Hall ) usando um modem, ligava-me a um CRAY-1 da Boeing que estava em Seattle, e introduzia as alterações.

    Embora o editor fosse (mesmo) muito lento, quando fazia o programa correr, ainda me lembro como era “fantástico” pois o CRAY-1 embora estando “tão longe” era muitíssimo rápido (para essa época) a mostrar os resultados no écran. Fazia impressão! Depois entregava os resultados em print-outs e recebia novas correcções para introduzir. Embora o trabalho fosse muito semelhante a um simples “passar á máquina” de textos manuscritos, (neste caso linhas de código) foi algo de muito interessante que permitiu que me familiarizasse superficialmente com essa área de investigação, tendo tido a nota de “Credit”.

    De 83 a 87 usei vários computadores que existiam nessa época, passado por programas em FORTRAN http://en.wikipedia.org/wiki/Fortran usando pilhas de cartões que me lembravam muito um brinquedo que tive em criança ( http://www.mullocksauctions.co.uk/lot-17680-computacar_by_mettoy_programmatic_plastic_sports_car_in.html )

    Lembro-me que era em frente ao WRW (W. R. Woolrich Laboratories) que ficavam esses “computadores” antigos com as suas pilhas de cartões (punchcards) http://en.wikipedia.org/wiki/Punched_card .

    Por fim lembro-me de ver e tocar num rato dum Macintosh 128k pela primeira vez na minha vida em 1984, numa loja de computadores que ficava off-campus onde a Congress Avenue se cruzava com (talvez) a 8th Street.
    .
    A pertir daí, foi o computador que mais usei. Nessa época, a ideia de uma Desktop http://en.wikipedia.org/wiki/Desktop_metaphor era uma grande novidade!

    Muita gente (sobretudo os mais conservadores) detestava e ridicularizava a noção duma “desktop”. Achavam que era “muito pouco profissional”.

    Lembro-me da frescura do ar condicionado no computation center (muito mais pequeno do que é agora) no cruzamento da Speedway e da 24th Street, e de que era relativamente frequente surgirem estes ícones nos Macs: http://en.wikipedia.org/wiki/Bomb_(symbol) “Sorry a system error occured”.

    Muita gente “menos jovem” no Texas nessa época era muito ambivalente perante os Macintosh, e diziam que eram “pouco fiáveis”, sendo (no fundo) meros “brinquedos”, e que, muito em breve, a “moda” ia passar e que essa empresa seria (de certeza) ou comprada pela Microsoft, ou então que certamente que iria á falência num par de anos.

    Para concluir esta associação de ideias nostálgica, comento que me acabo de lembrar que nos anos 60 e 70 quando a TV em Portugal ainda era a preto e branco, de vez em quando aparecia um cartaz de cartão com letras brancas que dizia : Pedimos desculpa por esta interrupção. O programa segue dentro de momentos”.

  1. You only love your collider…
    Lindo!

  2. As CERNettes nem são assim tão horríveis. Os físicos até tinham bom gosto 😀

  3. Carlos, poste o link para vermos o festival? Se é que alguém vai filmar, ou melhor, pede pro José filmar para nós? 😛

  4. Para os portugueses que estão por aqui em Genebra, o festival irá decorrer no sábado.
    Apareçam

  5. Fui apanhado de surpresa. Tinha a ideia que a internet já existia no CERN desde adécada de 60 e que a mesma estava ligada à rede Norte Americana de dados que servia a investigação cientifica e o governo Norte Americano, para descentralização e partilha da informação no território da confederação dos estados.
    Acredito que não existia browser e que a transacção de dados deveria ser ao estilo “BBS das cavernas”, mas tinha esse conceito como o “blue print” da rede global.

  6. O segundo clipe dedicarei ao meu futuro marido, Peter Higgs. LOL
    Adorei essa reportagem, é a minha preferida, até agora!!!! 🙂 🙂 🙂 🙂

  1. […] Leiam a história completa, no nosso artigo, aqui. […]

  2. […] repetição, não, processo da ciência, Minuto da Física, IceCube). High School Teachers 2012. Les Horribles Cernettes. Mundo das Partículas: átomo, eletrão, protão, neutrão, fotão, bosão, fermião, […]

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