Futurismo em Titã

Por: Jonatas A. Silva

Titanauta

Estive lendo sobre Titã e sua natureza, desde muito tempo, em que me interessei por esse astro e o elegi meu favorito entre os mundos do sistema solar. E, em minha humilde concepção, ouso imaginá-lo mais “acessível” que Marte, se desconsiderar a enorme distância a percorrer.

O primeiro motivo em que penso é a pressão atmosférica ambiente. Ao contrário dos Lunautas e Marcianautas do futuro, os Titanautas estarão em um mundo com uma pressão atmosférica quase igual à da Terra (uns 50% maior, ainda bem suportável), e isso pode lhes dar a opção de trajes mais leves e bases mais seguras, pois não precisarão de sistemas tão sofisticados de pressurização. Os trajes pressurizados que usam no espaço, na Lua e em Marte deixam o astronauta desajeitado e com mobilidade mínima. Os próprios o descrevem como “tentar trabalhar com uma bola de praia entre os braços”. Mas eles têm que ser assim para que nossos sistemas vitais se mantenham num ambiente atmosférico e pressurizado que simule o da Terra. Já os trajes colados e estilosos dos filmes e ilustrações são apenas um sonho distante, mas que em Titã seriam bem mais simples, já que o ambiente proporciona uma atmosfera assim. A única necessidade é o isolamento térmico e a respiração.

O segundo motivo tem a ver com as vantagens em relação a Marte: a radiação é muito menor, nada de micro poeira mortal por toda a parte e um clima muito mais ameno, sem as perigosas tempestades de areia.
Ao contrário de mundos como Marte, Lua e Vênus, até um rasgão acidental em seu traje não seria imediatamente letal, creio que haveria preciosos minutos suficientes para encontrar abrigo em sua base ou veículo e se reparar rapidamente. Não tenho certeza, mas acho que seria assim porque a atmosfera Titânica é rica em Nitrogênio e um pouco de Metano, gases já conhecidos nossos aqui da atmosfera da Terra. Lá, a nossa única preocupação latente seria o frio, onde a água vira um gelo duro feito rocha. Mas isso é padrão em Marte também.

Voar para cobrir grandes terrenos em Titã e aterrissar onde for interessante seria uma prática corriqueira. A gravidade é quase a mesma da nossa Lua e a atmosfera é densa. Um homem com um par de asas poderia levantar voo apenas batendo os braços, mas o mais interessante seria o balonismo. Os astronautas voariam em um balão através das nuvens de gás natural ao sabor dos ventos de Titã sobre as áreas dos lagos de hidrocarbonetos, aterrando a cada área interessante a ser pesquisada no solo. Explorar Titã seria uma atividade interessante também à espeleologia. Dados indicam formações criovulcâncias (vulcões de gelo que expelem uma mistura de água e amônia das entranhas do planeta) que devem formar vastos sistemas de cavernas. Considerando os últimos dados sobre possibilidades de um oceano global sob a crosta planetária, Titã deve voltar a levantar questões biológicas. Essa atividade vulcânica e as cavernas internas tornariam essa pesquisa um verdadeiro safari atrás de fontes hidrotermais, claro, aqui já estou mais dentro da especulação do que dos dados conhecidos.

Uma pergunta que me fazem quando mostro esse mundo incrível aos amigos, e eu também já me fiz, seria sobre uma forma de vida alternativa que viva nesse ambiente, com corpos adaptados ao frio e usando o metano líquido e seus ciclos em Titã, da mesma forma que usamos a água e seus ciclos aqui na Terra. Não há nada de errado em especular os titaneses bebedores de metano, mas quando estudamos química desenvolvemos uma visão mais cética, embora igualmente fascinante, do Universo e seus potencias biológicos. O fato é que metano não se compara à água, principalmente por em relação à ela ser um péssimo solvente de substâncias químicas. Razão pela qual a abundância de água fora determinante ao surgimento da vida aqui na Terra.

A vida pra mim é uma continuidade da química. O universo começou quimicamente simples, só havia Hidrogênio. Aí a nucleossíntese estelar começou toda a alquimia cósmica que dá origem à diversidade de elementos químicos que conhecemos, razão pela qual o astrônomo americano Carl Sagan nos chamou de “poeira das estrelas”. De resto, a química continuou “evoluindo”, formando combinações entre os elementos originais em Nebulosas e Planetas. Nascem assim as substâncias, Água, Metano, Amônia, etc. O resto da história é bioquímica pré-biótica, compostos e energia formando sistemas cada vez mais complexos, evoluindo em lugares propícios do Universo, como a Terra.

Se o segredo é mesmo química e energia, ambiente, tudo isso aponta vários lugares no cosmos, até no sistema solar, seja nas nuvens de Júpiter ou nos oceanos da Europa. Conhecemos a vida que evoluiu na Terra, por essa razão procuramos lugares parecidos. Desses, Titã é o mais estranho e exótico, mas não o menos potencial. Ainda assim, suas formações pré-bióticas o tornam interessante mesmo que a vida não se desenvolva nele, então, mesmo assim continuará um laboratório natural entre nossos favoritos.

Titã: Satélite Planetário de Saturno – Saturno VI
Diâmetro: 5.150 km
Dia sideral – rotação síncrona: 15,8 dias
Gravidade Equatorial: 14% da terrestre (menor que a da Lua)
Massa: 180% da massa lunar
Pressão Atmosférica: 1,5 atm

8 comentários

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  1. qual a origem de titã ??

    • Eduardo Harguindeguy on 31/01/2013 at 13:14
    • Responder

    Ola Jonatas! Parabens pelo artigo, gostei muito.
    Sou um curioso sobre todos estes aspectos uma vez mandei uma carta a NASA perguntando como uma atmosfera de 0,03 atm de Marte poderia levantar nuvens de poeira a 30km de altura. Bom o cara me respondeu q era poeria muito fina. Perguntei tb para onde foi toda a agua q aparentemente corria por Marte , e não soube me responder.

    Como vejo q vc e como eu te pegunto:

    1.- Ja vi no forum diversas vezes postado um absurdo como q a atmosfera de um planeta pode se “esvair ” no espaço (como um balão de criança na Terra q vai perdendo gas) Isto no meu entender não e possivel, para qualquer coisa sair do campo gravitacional de um planeta, tem q atingir uma velocidade de escape (no caso da Terra 11 km/s) No caso dos meteoritos marcianos achados na Antartica foi alguma catastrofe tipo choque de um meteoro q projetou as rocas fora do campo gravitacional de Mate. Voce concorda comigo?

    2.- Acho muito curioso as mudanças na atmosfera marciana. Para onde foram todos os gases q garantiam no passado uma pressão atm. maior, q permitia a existencia de agua liquida? Quanto CO2 congelado ha nos polos de Marte? Se ele sublimasse quanto subiria a pressão atm.? Para onde foi a água??

    Grande abraço
    Eduardo

    1. Marte não tem massa suficiente que lhe permitisse reter a atmosfera por muito tempo 😉

    2. É interessante notar que Titã, com uma gravidade menor que a metade da gravidade de Marte, retém uma atmosfera muito maior – ligeiramente maior até que a da Terra, inclusive. Vênus, por sua vez, é do tamanho da Terra, no entanto prende uma atmosfera quase cem vezes mais pesada que a nossa. Como isso pode ser possível?
      Bom, temos que partir da história e da composição das atmosferas planetárias. Titã está longe do Sol,e por vezes até protegido da radiação nos períodos em que fica dentro da magnetosfera de Saturno. Sua atmosfera é saturada de Nitrogênio, com nuvens de metano e mais alguns hidrocarbonetos. Longe do Sol, os processos atmosféricos sofrem menos com as perdas causadas pelo vento solar, aí até mesmo corpos do tamanho da Lua conseguem ter atmosfera, por origens muitas vezes inusitadas (na lua jupiteriana Io, por exemplo, a atmosfera é produzida pelos monstruosos vulcões em atividade), em Enceladus, uma lua de Saturno sete vezes menor que a nossa (tão pequena que caberia dentro do Estado de Mato Grosso), a atmosfera é produzida constantemente por intensos géiseres que lançam matéria ao espaço, e perdida constantemente pela gravidade ínfima dessa luasinha. O resultado é um dos anéis de Saturno!
      Bom, isso ajuda a entender o sucesso atmosférico de Titã. O caso de Marte é mais complexo. Não sou um grande historiador planetário, mas penso que para entender a perda de Marte temos que estudar mais alguns anos, eu pessoalmente creio que a Perda do Campo magnético tenha sido o principal agravante de tudo, a radiação pode ter evaporado os oceanos e uma vez que vulcões imensos estavam ativos, a radiação maior do Sol quebrou as moléculas desse vapor de água, o Oxigênio em parte se misturou com o Carbono vulcânico – dando a Marte a atual atmosfera de CO – e o Hidrogênio, altamente volátil, escapou para o espaço, um processo comum e constante, o H é leve o suficiente para escapar com facilidade de planetas menores, se não estiver misturado numa molécula com outro elemento mais pesado ou estiver relativamente perto do Sol.
      A ciência busca entender os detalhes do Processo, pesquisadores e geólogos planetários ainda se debruçaram por anos na questão Marciana. Esse vídeo aqui é bom, embora curtinho: http://moonville.com.br/nasa-explica-como-marte-perdeu-a-sua-atmosfera-video/foz-iguacu/camboriu/dicas-de-viagens

      Abraços.

      1. Excelente explicação, Jonatas. 😀

        De facto, as primeiras análises aos gases atmosféricos realizadas em Marte pelo Curiosity sugerem que a atmosfera marciana sofreu uma contínua erosão desde a sua formação, provavelmente, devido ao desaparecimento prematuro da magnetosfera marciana, e consequente exposição da atmosfera ao vento solar.

      2. Excelente explicação 🙂

        Só acrescento o período temporal 😉
        Titã ainda tem tempo para mudanças 😀

  2. Obrigado. 🙂

  3. Ótimo artigo, Jonatas.

    😉

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