Representação artística da chegada da sonda Huygens à superfície de Titã.
Crédito: ESA.
Apesar de terem passado mais de 7 anos sobre a chegada da sonda Huygens à superfície de Titã, os cientistas continuam a extrair dos dados recolhidos pela missão valiosas informações acerca do ambiente titaniano. Recentemente, uma equipa internacional de investigadores reconstruiu o movimento da sonda após o primeiro impacto no solo, ao comparar as leituras de três instrumentos com os resultados obtidos em simulações computorizadas e num teste com um modelo da Huygens desenhado para replicar a alunagem. A análise revelou que a Huygens abriu uma depressão com 12 cm de profundidade no primeiro contacto com a superfície, e que depois ressaltou para uma área plana, deslizando com uma inclinação de 10º na direcção do movimento, ao longo de 30 a 40 cm.
De acordo com os investigadores, a sonda parou de deslizar devido à fricção com a superfície, balançando cinco vezes antes de se imobilizar por completo cerca de 10 segundos após o primeiro contacto. “Um pico nos dados da aceleração sugere que, quando a sonda balançou pela primeira vez, encontrou provavelmente um pequeno seixo saliente 2 cm acima da superfície” afirmou Stefan Schröder do Max Planck Institute for Solar System Research, primeiro autor do artigo onde foram publicados estes novos resultados (ver aqui). O movimento oscilatório da sonda “deverá ter pressionado o seixo contra o solo, o que sugere que a superfície teria a consistência de areia fina e húmida.”
Reconstituição da alunagem da sonda Huygens em Titã a 14 de Janeiro de 2005. Os movimentos foram recriados tendo por base dados recolhidos pelos instrumentos HASI (Huygens Atmospheric Structure Instrument), SSP (Surface Science Package) e DISR (Descent Imager/Spectral Radiometer).
Crédito: ESA/C. Carreau.
A depressão criada pelo impacto inicial da Huygens mostra que o solo era macio e deformável no local da alunagem. No entanto, a superfície deveria ser também dura o suficiente para permitir o movimento oscilatório detectado após a imobilização, um movimento impossível de reproduzir caso o solo fosse lamacento.
A Huygens detectou ainda evidências da formação de uma nuvem de partículas de poeira em seu redor logo após o primeiro contacto com o solo, o que sugere que a superfície se encontrava seca na altura da alunagem. As propriedades ópticas destas partículas são semelhantes às dos aeróssois de compostos orgânicos observados em suspensão na atmosfera titaniana. Este resultado contrasta com outros anteriormente publicados, que revelam a detecção de vapores de metano libertados do solo por contacto com as superfícies quentes da sonda (recordem-se que em Titã chove metano e etano). Na presença destes resultados aparentemente discordantes, Schröder e colegas concluem que, apesar da superfície estar coberta por uma camada de poeira seca, o solo subsuperficial encontrava-se húmido quando a Huygens alunou, o que sugere um episódio recente de seca na região.
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