Existe uma anedota famosa que nos diz algo deste género:
Foi feita esta pergunta num exame final de Engenharia Química: “O inferno é exotérmico ou endotérmico? Justifique a sua resposta”.
Vários alunos justificaram as suas opiniões baseados na Lei de Boyle ou em alguma variante da mesma. Mas um aluno escreveu o seguinte:
Suponhamos que o inferno existe e é para lá que vão algumas almas. Se as almas existem, devem ter massa e ocupam algum volume. Sabemos também que uma alma que entra no inferno, nunca mais sai de lá, por isso o inferno não tem almas a sair. E, sendo que todas as religiões afirmam que são a religião verdadeira e se não pertencermos a ela e não seguirmos certas regras então vamos para o inferno, isto leva a que invariavelmente todas as almas irão para o inferno (porque pertencem à religião errada e/ou cometem pelo menos um erro num mandamento crucial). Com as taxas de natalidade e mortalidade do jeito que estão, podemos esperar um crescimento exponencial das almas no inferno. Assim, o volume e a massa do inferno estão em constante crescimento. A Lei de Boyle diz que para a temperatura e a pressão no inferno serem as mesmas, a relação entre a massa das almas e o volume do inferno deve ser constante. Existem, então, duas opções:
1) Se o inferno se expandir numa taxa menor do que a taxa com que as almas entram, então a temperatura e a pressão no inferno vão aumentar até ele explodir, portanto EXOTÉRMICO.
2) Se o inferno se expandir numa taxa maior do que a entrada de almas, então a temperatura e a pressão irão baixar até que o inferno se congele, portanto ENDOTÉRMICO.
Se aceitarmos o que a mulher mais bonita da faculdade me disse no primeiro ano – “Só irei pra cama contigo no dia em que o inferno congelar” – e tendo em conta que ainda não obtive sucesso, então a opção 2 não é verdadeira.
Por isso, o inferno é exotérmico. 😀
Agora vejam esta infografia que apareceu na revista científica Applied Optics, em 1972. Ela mostra que, ao contrário da crença popular, utilizando frases da Bíblia prova-se que o Paraíso (525ºC) é mais quente que o Inferno (445ºC): 😀
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Segundo um testemunho que vi no YouTube de uma pessoa que foi arrebatada em espírito ao céu e inferno, o inferno está em constante expansão!
Author
e qualquer disparate dito no youtube… passa a ter credibilidade?
Penso que não. 😉 O complemento fica correto à nível de comentário. Caso fosse afirmado, em algum ponto, que a entropia aumenta o grau de desordem em um sistema, seria mais necessário, como uma forma de simples correção, mera formalidade. Muito dos nossos livros de Física e, voltando ao passado, de Química, vem com o conceito equivocado de que entropia é grau de desordem quando são variáveis que consideramos ou não para equacionar este.
Observemos mais detalhadamente o que nos mostra a equação de transporte de Boltzmann. 😉
Abraços.
Gostei especialmente da ultima parte, a da mulher bonita da faculdade. :- )))))
Apenas um acrescento à este excelente artigo (a anedota está perfeita, uma mescla inteligentíssima de quem a criou entre nosso ramo de trabalho – a Engenharia Química – e um bom e sadio humor:
– Nos trechos “(…) então a temperatura e a pressão no inferno vão aumentar até ele explodir, portanto EXOTÉRMICO.” e “(…) então a temperatura e a pressão irão baixar até que o inferno se congele, portanto ENDOTÉRMICO.”, está a se falar sobre uma função de estado da Termodinâmica denominada Entropia (S), que relaciona a energia térmica em um dado sistema. Se o processo for exotérmico, a variação delta S será positiva; se o processo for endotérmico, a variação delta S será negativa.
Apesar de Entropia e grau de desordem estarem correlacionados, há de relembrarmos 🙂 que não são a mesma coisa. Uma relação curiosa da Entropia é com o experimento conhecido como “Demônio de Maxwell”, bem conhecido por nós durante os bons e velhos tempos do Ensino Médio (ou Secundário). 😉
Abraços.
Author
Excelente complemento 🙂
Pensa que será melhor colocar um complemento no post com os passos intermédios a falar na entropia? 😉
Sempre tive problemas lógicos com as ideias de inferno, paraíso e, consequentemente, imortalidade. Ninguém nunca se preocupa em perceber que uma vida, não necessariamente imortal, mas muito, muito, muito longa, implica num virtual aniquilamento da própria identidade da pessoa?
Compare a noção de mundo de uma criança com a que ela terá aos 50 anos. Você sabe que é a mesma pessoa, ainda que ela aja e pense de uma forma radicalmente diferente. Agora digamos que pela espiritualidade, ou pela medicina, seja possível estender a vida dessa pessoa por mais 999 trilhões de anos [ignoremos a entropia do Universo], não parece meio impossível dizer que após tanto tempo, tantas lembranças, a identidade da pessoa se transforma em uma outra completamente diferente; tão sábia, ou mesmo cansada, que não se identifica com que foi há 999 trilhões de anos?
Parece absurdo imaginar que seria a mesma identidade; e a questão na forma mais simples se diluiria no problema de definir o que constituiria a identidade única e essencial de cada um.
Então alguns diriam que na imortalidade espiritual o tempo não seria o tempo físico e real, seria uma eternidade “diferente”. Boa tentativa, mas não responde, antes complica, o problema de se criar um sentido lógico para uma vida tão longa, com infinitas – já que imortais – experiências e lembranças. E se argumentassem que não haveriam lembranças, ou novas experiências, então não haveria passagem do tempo.
No final a morte se apresenta como uma conclusão inevitável da própria vida. Se não há morte, se o tempo não passa e nos mata no final, então não estamos vivos; somos apenas uma foto que morre…
Ok, minha resposta não foi bem sobre a proposta do post. Tive ataque filosófico não controlado 😀
Mas para não fugir do assunto, minha opinião é a de que o inferno é mais frio porque o paraíso está mais próximo do Sol; já que uma estrela é mais quente que o núcleo de um planeta, certo? =D rsrsrs
Author
Para responder à sua pergunta, o núcleo interno da Terra terá mais de 5.000ºC, enquanto a superfície do Sol, fotosfera, tem uma temperatura de cerca de 3.500ºC.
Por isso, o núcleo da Terra é mais quente 😉
Mas curiosamente, acima da fotosfera, na cromosfera, o Sol é mais quente, com cerca de 20.000ºC.
Por isso, neste caso, sim, o núcleo da Terra é mais frio 😉
abraços!
No paraíso não há sol, simplesmente é Deus que ilumina tudo com a sua glória!
Author
donde vem a iluminação desse deus? É alguma reação nuclear? 😉
[…] Big Bang Theory (análise). Certificado de Existência. Encontrar Namorada. Declaração de Amor. Paraíso mais quente que Inferno. Espargata. Cartoons. Um Sábado Qualquer. Calvin & Hobbes. PHD Comics. Fim de Marte. Novos […]