Durante a sua presença em Rocknest, o Curiosity realizou as suas primeiras medições de gases atmosféricos no interior da cratera Gale com o SAM (Sample Analysis at Mars), um conjunto de três instrumentos de análise química destinados a explorar a química elementar e molecular dos solos e da atmosfera marciana, em busca de compostos relevantes para a vida tal como a conhecemos. Os resultados foram apresentados anteontem numa conferência de imprensa pela equipa responsável pelo SAM, e sugerem que Marte perdeu uma parte significativa da sua atmosfera desde a sua formação. Os indícios estão na relação de isótopos dos diferentes elementos que compõem as moléculas da fina atmosfera do planeta vermelho.
A câmara de medição do espectrómetro laser sintonizável do SAM, um dos instrumentos responsáveis pelas primeiras medições de isótopos dos elementos da atmosfera marciana no interior da cratera Gale.
Crédito: NASA/JPL-Caltech.
Actualmente, a pressão da atmosfera de Marte é 100 vezes inferior à pressão da atmosfera terrestre ao nível do mar. Em Rocknest, o SAM detectou no dióxido de carbono atmosférico um aumento de cerca de 5% nos isótopos mais pesados do elemento carbono, em comparação com estimativas da razão de isótopos presente quando Marte era ainda um planeta muito jovem. Os isótopos mais pesados de árgon também mostraram enriquecimentos semelhantes, um resultado que está de acordo com estimativas anteriores derivadas do estudo de meteoritos marcianos encontrados na Terra. De acordo com os cientistas da missão, a actual razão isotópica dos elementos atmosféricos encontrados em Rocknest sugere a ocorrência de perdas significativas de isótopos mais leves na parte superior da atmosfera de Marte, um forte indício de que uma importante fracção da atmosfera do planeta se perdeu no espaço interplanetário desde a sua formação.
Abundância relativa dos cinco principais gases medidos em Rocknest pelo espectrómetro de massa do SAM em Outubro de 2012.
Crédito: NASA/JPL-Caltech, SAM/GSFC.
O SAM obteve ainda leituras preliminares da abundância atmosférica de metano, as mais precisas alguma vez realizadas em Marte. Difícil de detectar a partir da órbita marciana, devido às suas quantidades vestigiais na atmosfera do planeta, o metano é um gás muito interessante para a missão Curiosity. Na Terra, a sua origem encontra-se ligada tanto a processos biológicos como a fenómenos geológicos. Em Marte, a sua libertação na atmosfera é, aparentemente, heterogénea e sazonal, e não é explicada pela actual ocorrência de processos geológicos como o vulcanismo ou as fontes hidrotermais, pelo que a sua origem biológica não está posta de parte.
As leituras preliminares realizadas em Rocknest mostram uma ausência praticamente completa de metano na cratera Gale, com um valor máximo de algumas partes por milhar de milhão associado a uma incerteza que se sobrepõe ao valor zero. Os cientistas responsáveis pelo SAM recordam, no entanto, que as concentrações atmosféricas de metano podem variar consideravelmente em Marte, pelo que não será surpresa nenhuma o Curiosity encontrar quantidades mais elevadas no decorrer da missão.
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