Que acontecimento é capaz de criar o aparecimento de dois sóis na Terra em 2012, bactérias de arsénio extraterrestres e uma descoberta em Marte para os livros de história?
O encontro entre um jornalista desatento e um cientista com a cabeça no ar.
Lembram-se? O principal investigador da missão Mars Science Laboratory (MSL), o geólogo John P. Grotzinger, deixou escapar em conversa com o jornalista Joe Palca, da NPR, a ideia de que a missão Curiosity fizera uma descoberta para os livros de história. Como Palca é um jornalista veterano e uma pessoa respeitada, ninguém duvidou da veracidade desta declaração.
E assim, nos dias subsequentes, sem qualquer desmentido da NASA ou do próprio Grotzinger, meio mundo ficou a pensar se era desta que a NASA anunciaria a descoberta de provas da existência de vida em Marte (presente ou passada).
Não, não é desta. Foi tudo um grande mal-entendido, informa a Slate e o AstroPT, aqui e aqui.
Quando Grotzinger mencionou a recolha de dados para os livros de história, estava a falar da importância da missão Curiosity como um todo e não de uma descoberta específica. Palca percebeu mal e relatou o que julgou ter ouvido; Grotzinger, distraído e entusiasmado, não se lembrou dos perigos de proferir frases ambíguas diante de um jornalista, por mais sério e digno de confiança que este seja.
Um comunicado do JPL anunciando uma conferência de imprensa para 3 de dezembro, em São Francisco, apressou-se a deitar água na fervura: «Rumores e especulações segundo os quais foram feitas grandes descobertas pela missão nesta fase inicial são incorretos».
E pronto. Um balde de água fria — e aqui na Terra a água não se evapora tão facilmente como em Marte. Agora que a esperança de que o Curiosity fez uma grande descoberta científica se dissolveu, é tempo de entrarem em cena os defensores das teorias da conspiração evocando este episódio como mais uma «prova» de que a NASA esconde bactérias marcianas na Área 51.
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