Geminídeas: A “Chuva de Estrelas” do Ano!?!?

Uma “bola de fogo” das Geminídeas explode sobre o Deserto Mojave, em 2009. Crédito: Wally Pacholka / AstroPics.com / TWAN.

Com o ano de 2012 a acabar, o céu nocturno também terá fogo de artifício para nos oferecer. Na próxima noite de 13 para 14 de Dezembro, acontece o pico de actividade das Geminídeas, com a hipótese de se poder testemunhar a maior chuva de meteoros do ano, tal como sugere o seguinte vídeo.

 

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=ElQ3iOCjsTw]

O céu de Lisboa, às 23h00 do dia 13 de dezembro. Carregue na imagem para aumentar.

A chuva das Geminídeas recebe este nome por se poder identificar a radiante (ponto a partir do qual parecem surgir os meteoros) na constelação de Gémeos. Esta chuva tem uma longa duração de actividade, podendo ser observada entre os dias 30 de Novembro e 18 de Dezembro, sempre com uma grande produção de ‘bolas de fogo’.

Durante o pico de actividade, sem a luz da nossa Lua a ofuscar os meteoros mais pequenos, prevê-se uma das melhores chuvas dos últimos anos e, provavelmente, a melhor “chuva de estrelas” deste ano. Lembramos que não é necessário material astronómico para observar uma chuva de meteoros, bastando um local escuro, alguma paciência e vontade de se deslumbrar. Se estiver interessado em observar este fenómeno em casa, basta que na noite de 13 para 14 de Dezembro, localize a constelação de Gémeos, mesmo ao lado da facilmente detectável constelação de Órion, virando o seu olhar para o horizonte sudeste.

Mas há algo muito curioso nas Geminídeas, como explica o astrónomo Bill Cooke, da NASA. Mais do que ser uma das melhores “chuvas de estrelas” para se observar, esta chuva parece escapar a uma explicação sólida para a sua origem.

 

Ilustração artística mostra o impacto no asteróide Pallas que dá origem ao 3200 Phaethon. Crédito: B. E. Schmidt and S. C. Radcliffe of UCLA.

A maioria das chuvas de meteoros resultam de fragmentos de cometas, os quais são atraídos para a atmosfera da Terra quando o nosso planeta cruza com eles durante a sua interminável órbita à volta do Sol. No entanto, as Geminídeas não são detritos de um cometa, tendo a sua provável origem num objecto rochoso com o nome 3200 Phaethon. Em 1983, este objecto rochoso foi descrito, pelo satélite IRAS da NASA, como um asteróide. Todos os dados indicavam esta definição: não tinha uma causa, a sua órbita intersectava a cintura de asteróides e a sua cor era muito semelhante aos restantes asteróides. Melhor, o 3200 Phaethon era tão similar ao asteróide Pallas, que provalmente seria um fragmento de 5 km deste gigante de 544 km.

Após o parágrafo anterior, a origem das Geminídeas parece já determinada. Numa conclusão lógica, as Geminídeas seriam as poeiras resultantes da separação do fragmento 3200 Phaethon do enorme asteróide Pallas. Resposta dada? Nem por isso. Bill Cooke explica que ” de todos as correntes de detritos que a Terra encontra durante a sua órbita anual, a corrente das “Geminídeas” é de longe a mais massiva. Quando somamos a quantidade de poeiras da corrente Geminídea, esta ultrapassa o peso de todas as outras correntes num factor de 5 para 500″. Bem, como explicar que um pequeno asteróide que gera tão poucos detritos de poeira possa criar uma chuva de meteoros tão intensa?

Investigadores da NASA procuraram a resposta propondo outra teoria: tendo em conta que a órbita muito excêntrica do objecto 3200 Phaethon leva-o bem para o interior de Mercúrio, a cada 1,4 anos, a chuva poderá, então, não ser o resultado da sua separação do asteróide Pallas, mas de poeiras que este pequeno objecto liberta em resultado das explosões solares de que é vítima durante a sua aproximação ao Sol. Para confirmar esta hipótese, estes investigadores utilizaram as sondas STEREO da NASA, desenhadas para estudar a actividade solar.

Os dados das sondas STEREO, longe de ajudar, só complicaram uma possível explicação lógica para a chuva das Geminídeas. Realmente, o intenso calor do Sol obriga 3200 Phaethon a libertar poeiras, já que as rochas na superfície são alvo de deterioração, devido às fracturas térmicas e à decomposição de minerais hídricos. Apesar da surpresa de ver o pequeno asteróide aumentar o seu brilho num factor de dois, o encontro do 3200 Phaethon com o Sol, resultou apenas num pequeno acréscimo de 0.01%  de massa à corrente de detritos das Geminídeas, não chegando sequer ao mínimo necessário para manter a enorme corrente que constantemente encontramos nesta “chuva de estrelas”. Será que no seu início libertava mais detritos? Não sabemos.

O mistério das Geminídeas continua, assim, por explicar, mas a obscuridade da sua origem não afecta em nada a sua beleza. Até ao dia que os cientistas nos surpreendam com mais uma fantástica solução de um “mistério” científico, ficamos cá nós para aproveitar a esmagadora experiência que a física e a química liberta nos nossos sentidos.

No serão de 13 para 14, tire uns minutos para si, e aproveite o melhor que os céus têm para oferecer. Se tiver um céu nublado, siga todos os acontecimentos aqui.

Se estiver nos Açores, e gostar de companhia, poderá visitar-nos no Observatório Astronómico de Santana – Açores, onde teremos todas as condições para observar o fenómeno, bem como outras actividades astronómicas para passar uma noite diferente. Se quiser saber como participar, carregue na imagem em cima.

10 comentários

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  1. Será que na noite de 14 para 15 também vai dar pra ver?

    1. Olá Marcelo,

      As Geminídeas manter-se-ão activas até ao dia 17 de Dezembro, embora com uma frequência cada vez menor.

    • Rodrigo Teixeira on 14/12/2012 at 13:22
    • Responder

    Cara, ontem eu tinha lido que poderia ser visto aqui do Brasil. Com a falta de energia, fui pra rua. Era umas 23:00 h
    por aí, fiquei olhando, quando passou dois! Cara, muito lindo! achei que era pequeno, muito grande!
    quando vi levei um susto, achei que iria cair aqui.
    Pelas fotos e vídeos, parece que são pequenos, mais eu vi grandes e vão a mil kkkk
    Coisa mais bonita que eu vi.
    Moro em São João do Sul, SC

    Abraços!

  2. Se me permitem.

    Quando vale a pena passar toda a noite em claro para observar uma chuva de meteoros e não ir dormir decepcionado? Resposta: Quando temos uma chuva com alta taxa horária, quando o pico dessa chuva ocorre em plena Lua Nova, quando você pode ir a um local escuro e aberto, e claro, com noite sem chuva ou nebulosidade. Melhor ainda se o pico ocorre num final de semana, e você está de férias! Ok, nem tudo está perfeito. O pico ocorre de quinta para sexta (dia 13 para o dia 14), eu ainda não estarei de férias, e a chuva… bom é melhor nem falar muito, pois as nuvens “têm ouvido”..rsrs…

    Essa chuva costuma não decepcionar, com Taxa Horária Zenital em local ideal de 120 meteoros, segundo o IMO – International Meteor Organization, ela é provavelmente a mais confiável chuva do ano. O radiante nasce no horizonte próximo das 23h, e estará alto às 3h30 da manhã. Geminídeos são meteoros brilhantes de velocidade média (35 Km/s).

    A maioria das chuvas de meteoros são originárias dos restos de cometas, os geminídeos são diferentes. Eles são fragmentos de um asteróide, o 3200 Phaethon que foi descoberto pela NASA em 1983, e segundo estudos, pode ser um pedaço (5 Km) do grande asteróide Pallas (544 Km).

    A última chuva dos geminídeos com condições favoráveis foi em 2007, quando vi minha melhor chuva de meteoros. Cinco anos depois, melhor preparado para fotografar, vamos aguardar e torcer por uma noite sem nuvens.

    Como observar

    Para observar a chuva de meteoros você não vai precisar de telescópio. Procure por um local escuro, longe da cidade (mesmo dentro da poluição luminosa de uma cidade é possível ver alguns meteoros, mas apenas os mais luminosos), leve uma cadeira de praia reclinável, ou um colchonete para estender no chão. O radiante, que é o ponto de onde parecem partir os meteoros, fica na constelação de gêmeos, mas se você não conhece a localização das constelações, não se preocupe, depois das 23h sente-se ou deite-se com os pés virados para o Norte e simplesmente fique atento. Observe desde as ”Três Marias” até a região do Cruzeiro do Sul. Os meteoros devem surgir por todo o céu.

    Fique no escuro, não ofusque sua visão olhando para o celular, notebook, lanterna ou qualquer fonte de luz. Nossos olhos precisam de pelo menos vinte minutos para que as pupilas se adaptem à escuridão. Ao observar essa chuva de meteoros, leve amigos junto, é muito divertido ver alguém gritar: – Alí!! – Outro!! – Mais um!! Não esqueça de uma bebida quente e principalmente vá bem agasalhado (inclusive com chápeu ou boné).
    http://astrono1000sic.wordpress.com/2012/12/05/geminideos-2012-vem-ai-promessa-de-espetaculo/
    CÉUS CLAROS!

    fONTE – http://www.cosmobrain.com.br/cosmoforum/viewtopic.php?f=10&t=15685

  3. Será na noite de 13 para 14 e em Lisboa, será que se poderá ver?

    1. Sim, as chuvas de estrelas podem-se ver em qualquer lado da Terra. Mas convém sítios escuros. Se está no centro de Lisboa, verá muito pouco, devido à poluição luminosa 😉

      abraços

        • Mário on 11/12/2012 at 13:55

        Sim, vou para um local escuro filma-las. 🙂 Obrigado e um abraço

  4. Espero que não chova em Goiás rsrs ,e que seja possível ver alguma coisa deste belo espetáculo.

  5. Saiu uma notícia recente sobre a entrada de um meteoro na atmosfera terrestre, que pode ser visto nos céus do Texas, no dia 12 (http://g1.globo.com/mundo/noticia/2012/12/camera-da-nasa-captura-bola-de-fogo-no-ceu-do-texas.html)
    Será que já é um sinal das Geminídeas? Se for, o espetáculo no dia 13 e 14 promete ;o)
    Aproveito para perguntar se no Brasil vai ser possível observa-las

    1. Foi realmente um meteoro, mas a NASA anunciou que não era uma Geminídea.
      Alerta NASA
      E sim, vai ser possível observar as Geminídeas no Brasil, provavelmente com mais sucesso que no hemisfério norte (muita chuva ao que parece). A partir das 23h00, do Brasil, o céu estará como no link que se segue e provavelmente verá uma taxa horária alta de meteoros.
      Geminídeas no Hemisfério Sul

  1. […] Dezembro, tivemos a chuva de estrelas Geminídeas. As Geminídeas parecem provir (radiante) da constelação de Gémeos. Os meteoros são detritos […]

  2. […] 17 – a 13 de Dezembro teremos o pico da chuva de meteoros Geminídeos. […]

  3. […] 2009). Dracónidas (2012, 2011). Oriónidas. Leónidas (2012, 2009, pirâmide). Geminídeas (2013, 2012, 2008). […]

  4. […] Lembramos que as Geminídeas, ao contrário das outras chuvas, não resulta de detritos de um cometa mas de um objeto rochoso com o nome 3200 Phaethon, sendo a sua corrente de detritos muito superior às outras chuvas, num fator de 5 para 500. No entanto, esta objecto continua envolto em mistério já que foge a uma consensual definição científica há várias décadas. Saiba tudo sobre as Geminídeas e sobre a sua origem nesta ligação. […]

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