Na palestra de 21 de Dezembro de 2012, aquela antes de o mundo acabar, explodir, incendiar, inundar, implodir ou ser engolido, apresentei uma imagética sobre o funcionamento do método científico vs o pensamento nada científico.
Como estamos no Inverno, costumo pensar muito em praia. Pode não ser normal mas são as saudades. Assim, criei uma imagem engraçada e redutora mas explicativa daquilo que é a ciência.
Vamos lá à praia:
Estão a ver aquele ponto? Sim, aquele ali! O que é?
Aqui podemos reparar numa diferença curiosa. À esquerda temos a personagem que pensa em imaginações, em algo que gostaria que fosse verdade. À direita temos a personagem que se lembra de imagens reais. Temos, então, imaginação vs lembrança.
Os três objectos usados nesta imagética correspondem aos avanços científicos que possibilitam ver mais perto, mais nítido. Temos a afinação da ciência. Teorias e mecanismos mais avançados permitem-nos desvendar substituindo o que pensávamos ser, no passo anterior, por algo mais idêntico ao real, no passo seguinte. Nas imaginações não interessa o avanço científico, a ideia é sempre a mesma.
Reparem que do cão ou do pinguim passamos para o que parece uma silhueta humanóide. A partir daí a ciência nunca volta a questionar se é um cão pois essa fase já passou. No outro pensamento, aquele que imagina sempre a mesma coisa, não interessa o aspecto mais nítido da figura real final. Será sempre, durante todo o processo, um ET ou um OVNI.
“Na ciência o que é verdade hoje poderá não o ser amanhã” é o que ouvimos muita vez. Ou “Hoje é uma coisa e amanhã é outra.”. Para leigos, a ciência é altamente mutável e toma posições opostas tornando-se, assim, imprevisível. Esta ideia errada abre caminho a uma aceitação geral de tudo, incluindo coisas impossíveis.
Para quem não pratica pensamento científico tudo é possível. OVNIs, velocidade superior à da luz, seres de outros planetas, apenas porque há mistérios e, quando se desconhece alguma coisa (ao mesmo tempo que a pessoa acha fantástico e incompreensível o conhecimento científico), as lacunas são sinónimos de toda a crença infundada. Esta ideia já é conhecida no meio religioso como sendo o “deus das lacunas”. Agora temos as “pseudices das lacunas”. Tudo passa a ser possível dentro de um gap de conhecimento. De facto, a ciência não muda drasticamente de opinião, a não ser em casos muito raros mas muito bem explicados. A ciência sofre um processo de refinação, afinação, melhoria que, de fora parece uma alteração abrupta.
Quando ocorre um evento podemos afirmar a nossa opinião de que se trata de algo fantástico, ou podemos questionar e refinar a nossa opinião com base no processo de análise científica. Obviamente que o resultado final é de amargura para quem não analisa convenientemente o evento.
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