Pelo Menos 100 Mil Milhões de Planetas na Via Láctea

Acaba de ser publicado um artigo que produz uma estimativa impressionante para o número de planetas na Via Láctea, cerca de 100 mil milhões, e trata-se de um número conservador ! Os autores, liderados por Jonathan Swift, do California Institute of Technology, chegaram a esta conclusão espantosa através do estudo de um sistema detectado pelo telescópio Kepler. Situada a cerca de 980 anos-luz, Kepler-32, como é agora conhecida, é uma anã vermelha típica com cerca de 50% da massa, 50% do raio e 5% da luminosidade do Sol. A sua temperatura fotosférica de 3800 Kelvin, bem inferior à do Sol (5800 Kelvin), dá-lhe a sua cor vermelha característica. A análise das observações do brilho da estrela realizadas com o telescópio Kepler permitiu detectar trânsitos de 5 planetas que orbitam a estrela, agora designados de Kepler-32b, -c, -d, -e e -f. A tabela seguinte, extraída do artigo, sumariza a informação relativa aos planetas.

tabela
(As características dos planetas do sistema Kepler-32. Crédito: Swift et al.)

Como se pode ver pela quinta coluna, o raio dos planetas situa-se entre 0.8 e 2.7 vezes o raio da Terra, pelo que se trata certamente de planetas do tipo Terrestre, Super-Terra, ou Sub-Neptunos (como parece ser o caso dos planetas -b, -c e -d). O sistema é incrivelmente compacto. O período orbital mais curto, do planeta -f, é de apenas 17 horas, o mais longo, do planeta -d, é de 22.7 dias. Se o sistema fosse colocado no centro do Sistema Solar caberia todo sem qualquer dificuldade no interior da órbita de Mercúrio.

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(A estrutura do sistema planetário de Kepler-32. Crédito: Swift et al.)

Note-se que, como a estrela Kepler-32 é muito menos luminosa do que o Sol, a maior proximidade dos planetas não implica que eles sejam “rochas incandescentes” sem potencial para o desenvolvimento de vida. De facto, apesar desse ser o cenário mais provável para o planeta Kepler-32f, com uma temperatura estimada de 1700 Kelvin, o planeta mais distante, o Kepler-32d, tem uma temperatura estimada de 340 Kelvin (66 Celsius) e encontra-se na zona habitável da estrela.

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(A zona habitável de estrelas anãs de tipo espectral M – anãs vermelhas, tipo espectral K e tipo espectral G – como o Sol. Crédito: Living with a Red Dwarf Program)

O que torna este sistema notável é o facto de, por um mero acaso, o plano das órbitas dos planetas estar quase perfeitamente alinhado com a nossa linha de visão, possibilitando a observação de trânsitos para os 5 planetas. A probabilidade de tal acontecer é ínfima e isso implica que, por cada sistema destes observado pelo Kepler existirão muitos outros de características semelhantes mas que não podem ser detectados por não se encontrarem alinhados com a Terra da mesma forma. Para além disso, existem também as limitações do próprio telescópio Kepler que, apesar da sua precisão magnífica, não consegue detectar planetas demasiado pequenos, ou em estrelas com um brilho demasiado débil ou com fotosferas demasiado activas. De referir também que o Kepler observa apenas uma pequena fatia do céu. No resto do céu haverá muitos sistemas semelhantes. Tendo em consideração todas estas limitações, os autores calcularam uma estimativa do número total de planetas em torno de anãs vermelhas que devem existir para o Kepler poder detectar um sistema perfeitamente alinhado como o Kepler-32 e ainda por cima com 5 planetas. O valor, extrapolado para toda a galáxia é simplesmente esmagador: pelo menos 100 mil milhões de planetas, uma média de 1 planeta por cada anã vermelha na Via Láctea. Trata-se de uma estimativa muito conservadora. De facto, o número é baseado apenas em planetas detectados nas proximidades das anãs vermelhas. Se houver planetas mais exteriores ainda não detectados no sistema Kepler-32, a estimativa aumentará. Na realidade, várias linhas de evidência actuais apontam para uma média mais próxima de 2 planetas por anã vermelha. Note-se ainda que esta estimativa diz respeito apenas a planetas em torno de anãs vermelhas, não têm em conta ainda estrelas de outros tipos espectrais, incluindo as de tipo solar. No entanto, as anãs vermelhas contribuirão certamente com a maior fatia de planetas pois constituem cerca de 75% do total de estrelas da Via Láctea.

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(A proporção de estrelas de tipo espectral M – anãs vermelhas -, relativamente a estrelas dos outros tipos espectrais, na Via Láctea. Crédito: Infografia de spaceanswers.com)

O artigo “Characterizing the Cool KOIs IV: Kepler-32 as a prototype for the formation of compact planetary systems throughout the Galaxy” pode ser visto aqui e a notícia original aqui.

5 comentários

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  1. Eu penso que o nosso conceito de “vida inteligente” é muito restrito. Um ser vivo inteligente, para nós, é uma porção de matéria orgânica que tem consciência de si mesma e que é capaz de pensar e resolver rapidamente problemas que levariam milhões de anos para serem resolvidos através da simples evolução espontânea. Só que esse ser vivo inteligente vive um curto espaço de tempo, muito raramente passando de um século, no nosso caso.
    O nosso planeta tem, estimadamente, 4 bilhões de anos. E devem existir outros planetas bem mais antigos, no universo.
    Um século em 4 bilhões de anos representa, relativamente, 8 milissegundos em um ano.
    Mas quanto é, exatamente, 8 milissegundos? É o tempo que uma bala de revolver leva para percorrer 2 metros, após sair do cano da arma. Rápido, né?
    Um ser inteligente cuja vida tivesse essa duração, demoraria quantas gerações para atingir um alto grau de desenvolvimento tecnológico, sabendo-se que o conhecimento recomeça a ser aprendido a partir do nascimento de cada nova geração? As nossas crianças primeiro aprendem aquilo que já se sabe, depois avançam um pouco mais nas descobertas e em seguida morrem, recomeçando um novo ciclo.
    Tudo isso dentro daqueles 8 milissegundos que a bala levou para percorrer os 2 metros. Complicado, né?
    Que tal uma forma de “vida” não orgânica, ou seja, consciência e inteligência residindo em algo que não seja um corpo orgânico perecível como o nosso? Ou talvez não residindo em nada, mas “vivendo” sob forma de energia pura, que, segundo os cientistas atuais, não pode ser destruída?
    Bilhões de anos para evoluir continuamente, requerendo um mínimo de energia, sem sofrer ação considerável de agentes físicos como calor, frio, luz ou ausência dela, etc.
    Seres que, através da evolução, aprenderam a controlar forças que os cientistas mais brilhantes da atualidade ainda nem imaginam que possam existir ou seriam capazes de compreender.
    Seres que descobriram, durante milhões e milhões de anos de aprendizado, que do lado de lá de um buraco negro existe energia acessível e inesgotável, para ser utilizada para alguma finalidade que nem conseguimos imaginar atualmente.
    E aprenderam a controlar e utilizar essa energia, da mesma forma que nós aprendemos a controlar e usar a energia da água e dos combustíveis, para construirmos a nossa civilização moderna e suprir as suas necessidades.
    Talvez a forma de comunicação desses seres avançados não tenha nada a ver com aquilo que nós imaginamos, tipo ondas de rádio, laser, etc. Nós podemos estar procurando algo que simplesmente não sabemos o que é porque nem sabemos que existe. E também pela possibilidade desses seres inteligentes avançados não estarem interessados em “trocar idéias” conosco, assim como nós não nos interessamos em “trocar ideias” com vírus, bactérias e protozoários.
    Com a diferença que nós possivelmente estamos em um grau de evolução muito mais próximo dos vírus, bactérias e protozoários do que desses seres inteligentes avançados.
    Nós ficamos inventando nossas teorias limitadas e fazendo pesquisas infrutíferas durante décadas, porque ainda somos incapazes de vislumbrar o “todo”.
    Mais ou menos como uma bactéria que vive dentro do nosso corpo, cuja visão limitada do ambiente que a cerca não permite que ela vislumbre o “todo”. E muito menos o que existe além desse “todo”, onde ela é apenas uma partícula minúscula que, sem se dar conta, pode causar uma grande influência e, inclusive ser exterminada de um momento para outro com um antibiótico, se a sua ação estiver causando problemas ao “todo”).

    1. Aquilo que escreveu fez-me lembrar civilizações do tipo III 😉

      abraços

  2. É isso aê Luis, e ainda mais, algumas destas anãs vermelhas poderiam ter muito mais tempo de existência que o nosso Sol.
    Mais tempo significa que há mais chances de que em algum momento deste tempo houve as condições ideais de formar vida ali mesmo, ou a vida ter chegado ali por Panspermia.
    Analisando assim, as civilizações mais evoluídas da galáxia, devem habitar estrelas anãs vermelhas.
    Que são dificeis de serem localizadas.
    Portanto os planetas mais evoluídos não devem orbitar estrelas bastante visíveis, nem mesmo estrelas “normais” como a nossa, mas sim as menos vísiveis.

    Eu ainda acho que há grandes chances de existir uma anã vermelha (ou mais) ainda a ser localilzada, e mais próxima doq Alfa Centaury.

  3. Durante bastante tempo houve dúvidas sobre a capacidade das anãs vermelhas formarem planetas, em especial as anãs menos enriquecidas em metais do que o Sol. A combinação de discos protoplanetários pouco maciços (porque a pequena massa das anãs vermelhas não consegue capturar tanto material como estrelas de tipo solar ou mais maciças) e com baixa abundância em “metais” (elementos mais pesados do que o hidrogénio e hélio necessários para formar os núcleos de planetas maciços e, em menor quantidade, planetas do tipo terrestre) não parecia prometedora. No entanto, estudo após estudo, nos últimos anos, a evidência é no sentido de que estas estrelas não têm qualquer problema em formar planetas, inclusivé sistemas com vários planetas. As anãs vermelhas, especialmente as com menor abundância de “metais”, têm realmente dificuldade em formar planetas do tipo Júpiter que precisam de núcleos maciços com “metais” para capturar atmosferas de hidrogénio e hélio maciças. No entanto, parecem não ter qualquer tipo de problema para formar planetas menos maciços do tipo Terra, Super-Terra e mesmo até alguns Neptunos. De facto, os estudos existentes, incluindo este, indicam que a vasta maioria destas estrelas será acompanhada de sistemas com planetas destes tipos.

  4. Bem, 100 mil milhões (100 bilhões, no Brasil) é um número mesmo muito grande…

    100.000.000.000 planetas…

    Quantos Carlos existirão? 😛

    E quantos AstroPT? 😛

  1. […] o Sol têm planetas (gráficos). 17 bilhões de planetas terrestres (gráfico). Anãs vermelhas (100 bilhões de planetas, 60 bilhões de planetas habitáveis, planetas terrestres habitáveis). Anãs Castanhas (próximas […]

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