Não Há Cérebros Grátis

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Todos sabemos que nada é feito sem que haja alguma troca. “Na Natureza nada se cria nem se perde. Tudo se transforma”. Para correr é necessário energia que vem de alimentação. Para um carro andar, para praticar energia mecânica é necessário pagar o preço de andar com a perda de energia calorífica e sonora, para além da alimentação que é o combustível. Aqui também entra a nossa carteira. Para andarmos de carro não só o carro gasta energia como nós também a gastamos sob várias formas.

O ser humano passou por, pelo menos, 3 estágios para ser o que é hoje. Ergueu-se, perdeu o pêlo e conseguiu guardar informação de forma eficiente. O nosso organismo encontrou uma forma de acomodar um cérebro maior na caixa de volume igual ao que tinha. A proteina β-catenina enruga o cérebro para que tenha mais área superficial mas ocupando o mesmo volume. No entanto isso teve um preço. Ser mais inteligente tem um preço e foi isso que uma equipa de investigação mostrou.

Outra frase bastante conhecida é a de que “não há almoços grátis” e, de facto, nada é grátis. Há muito tempo que se estuda o desenvolvimento dos circuitos cerebrais e o seu custo energético. Uma das hipóteses evolucionárias mais interessantes sobre o tamanho do cérebro é a ‘Hipótese do Tecido Caro’ [The Expensive Tissue Hypothesis]. Por alguma razão o cérebro não cresce indefinidamente. O seu custo energético é tão elevado que limita o crescimento.

No ser humano o cérebro exige 20% das necessidades energéticas apesar de representar apenas 2% da massa. Assim, qual é o preço a pagar? Quem o paga? Uma das respostas é que o contribuinte para o crescimento encefálico sejam os intestinos, “mas que a inteligência levou a uma busca mais eficiente por provisões e caça, superando assim o obstáculo”. (daqui)

Um artigo publicado na Current Biology compara “espécies com razões cérebro-corpo maiores a seus parentes com cérebros menores, eles exploraram a variação natural do tamanho cerebral em lebistes (Poecilia reticulata)“.

Investigadores da Uppsala University criaram, a partir de uma população base, lebistes com cérebros 9% maiores, por selecção artificial. Um dos resultados mostrou que os machos não pareceram ter beneficiado dos cérebros maiores ao contrário das fêmeas. Outro resultado refere-se ao preço desse aumento cerebral. Nos machos, as vísceras reduziram 20% e nas fêmeas 8%.

Qual o prejuízo de um intestino reduzido num meio natural? Como é óbvio, “indivíduos com habilidades cognitivas aumentadas têm maior probabilidade de se reproduzir com sucesso na natureza”. Mas para isso “A redução no tamanho dos intestinos […] nas populações experimentais selecionadas para cérebros relativamente maiores fornece evidências convincentes sobre o custo de cérebros maiores”.

4 comentários

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  1. Neurocientistas brasileiras, recentemente, comprovaram que o cozimento dos alimentos foi importante para o aumento do tamanho do cérebro humano na evolução.

    “Hábito de cozinhar desenvolveu o cérebro humano”

    http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/habito-de-cozinhar-desenvolveu-o-cerebro-humano

    Indo ao encontro do que Richard W. Wrangham já tinha descoberto há alguns anos.

    “Um cérebro maior graças ao cozimento dos alimentos”

    http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/um_cerebro_maior_gracas_ao_cozimento_dos_alimentos.html

    O cozimento de alimentos facilitou enormemente a assimilação de nutrientes e, por consequencia, devido ao aumento da eficiência na absorção de nutrientes, permite que os intestinos sejam menores. Com alimentos exclusivamente crus, os intestinos precisam ser maiores.

    No caso das pesquisas citadas acima, a correlação entre cérebros maiores e intestinos menores tem uma causa inequívoca: o aumento da eficiência na absorção dos nutriente com o cozimento. O intestino não diminuiu para “compensar” o aumento do tamanho do cérebro, mas as duas situações aconteceram ao mesmo tempo.

  2. “…Uma das respostas é que o contribuinte para o crescimento encefálico sejam os intestinos,…”

    Em algumas pessoas é o intestino delgado e em outras o intestino grosso!

  3. “Um dos resultados mostrou que os machos não pareceram ter beneficiado dos cérebros maiores ao contrário das fêmeas.”

    LOLLL 😀

    Não admira… 😛

    Os homens pensam mais com… como direi? … outros cérebros 😛

  4. Um belíssimo artigo, Dário.

    Ao final da leitura deste, surgiu-me uma dúvida – obviamente de um leigo nas Ciências Biológicas:

    A questão do custo energético do cérebro ao longo dos tempos caracteriza-se Evolução propriamente dita? Caso afirmativo, enquadra-se na Lei da Herança dos Caracteres Adquiridos ou na Seleção Natural?

    Abraços.

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