Lembram-se deste artigo? Relata a descoberta de dois planetas gigantes em torno da estrela HIP11952 (número do catálogo de estrelas obtidos com dados da missão HIPPARCOS) por Setiawan et al.. A relevância da notícia, numa altura em que a descoberta de exoplanetas se tornou quase banal, consiste no facto da estrela hospedeira ter uma abundância em “metais” sensivelmente 100 vezes inferior à do Sol. A teoria de formação planetária mais aceite, designada de “Core Accretion”, prevê que estrelas como estas não têm “metais” em quantidade suficiente para formar os núcleos maciços de planetas gigantes. Estes núcleos, quando atingem uma massa crítica de cerca de 10 vezes a massa da Terra, têm gravidade suficiente para formar atmosferas maciças de hidrogénio e hélio, elementos muito leves e por isso difíceis de capturar. A observação de 2 planetas gigantes em torno da HIP11952 correspondia portanto a uma violação clara das previsões da teoria.
Com a entrada em funcionamento do espectrógrafo HARPS-North, em Agosto do ano passado, uma equipa de astrónomos liderada por Silvano Desidera, do Osservatorio Astronomico di Padova, aproveitou a oportunidade para medir a velocidade radial da estrela com maior precisão. O resultado, um dos primeiros obtidos com o HARPS-North, é uma não detecção. Isto quer dizer que a equipa de Desidera, utilizando um instrumento mais preciso, não conseguiu observar nenhum dos planetas descritos pela equipa de Setiawan. A confirmação independente das observações é um princípio fundamental do processo científico. Só assim é possível garantir que o nosso conhecimento é baseado em factos sólidos. Este resultado lança fortes dúvidas sobre a detecção original e elimina a dificuldade de explicar a existência desses planetas à luz da teoria de “Core Accretion”. Por enquanto a teoria resiste…
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