Ayres Britto diz que sua visão espiritualista é confirmada pela física quântica, mas não é disso que ela trata. O analfabetismo científico é um risco à sociedade!
Em entrevista recente à Folha, o recém-aposentado ministro do Supremo Tribunal Federal, Carlos Ayres Britto, afirmou que sua visão espiritualista de mundo seria confirmada pela física quântica, citando diversos autores, entre os quais Einstein (“A vida começa aos 70”, em 18 de novembro).
Cito dois trechos:
1) “Depois, de uns 12 anos para cá, comecei a me interessar por física quântica, e ela me pareceu uma confirmação de tudo o que os espiritualistas afirmam. A física quântica, sobretudo os escritos de Dannah Zohar [especializada em aconselhamento espiritual e profissional].”
2) “Einstein, físico quântico que era, cunhou uma expressão célebre: ‘efeito do observador’. Ele percebeu que o observador desencadeava reações no objeto observado. (…) Claro que quando você joga teoria quântica para a teoria jurídica, se expõe a uma crítica mordaz. O sujeito diz: “Mas isso não é ciência jurídica’.”
Na verdade, a fascinante física quântica aplica-se somente a sistemas físicos na escala atômica, jamais a questões profissionais ou jurídicas. As analogias podem ser exercícios criativos ou poéticos até interessantes, mas não passam disso.
Ao buscar a palavra “quantum” em qualquer livraria virtual, é assombroso notar que a maioria das obras listadas refere-se a supostas explicações quânticas dos mais diversos aspectos da vida – da memória à cura de enfermidades, passando pelo sucesso no amor e na carreira.
Como físico, acredito em coisas incríveis, como entes que são ondas e partículas simultaneamente, universos multidimensionais, tempos e comprimentos que dependem da velocidade do objeto, estruturas nanoscópicas que podem atravessar verdadeiras paredes e muitos outros fenômenos que certamente não são nada intuitivos e continuam sendo impressionantes, mesmo após anos e anos de estudo.
Mas em ciência o importante é que as teorias sejam comprovadas seguindo critérios rígidos, metodologias adequadas e publicadas em periódicos de circulação internacional, para que outros pesquisadores possam tentar repetir os experimentos e modelos, verificando possíveis falhas e buscando explicações alternativas, com certo ceticismo. Não é o caso das ideias citadas pelo ministro.
Ocorre que, diariamente, somos inundados por inúmeras promessas de curas milagrosas, métodos de leitura ultrarrápidos, dietas infalíveis, riqueza sem esforço. A grande maioria desses milagres cotidianos são vestidos com alguma roupagem científica: linguagem um pouco mais rebuscada, aparente comprovação experimental, depoimentos de pesquisadores “renomados”, alardeado acolhimento em grandes universidades. São casos típicos do que se costuma definir como pseudociência.
A maioria das pessoas vive perfeitamente bem sem saber diferenciar ciência de pseudociência. Mais cedo ou mais tarde, porém, em alguns momentos da vida esse conhecimento pode ser muito importante. Seja para decidir um tratamento médico, seja para analisar criticamente algum boato, seja para se posicionar frente a alguma decisão importante que certamente influenciará a vida de seus filhos e netos.
A sociedade como um todo deve assimilar a cultura científica. É importante a participação de instituições, grupos de interesse e processos coletivos estruturados em torno de sistemas de comunicação e difusão social da ciência, participação dos cidadãos e mecanismos de avaliação social da ciência.
Em uma sociedade onde a ciência e a tecnologia são agentes de mudanças econômicas e sociais, o analfabetismo científico, seja de quem for, pode ser um fator crucial para determinar decisões que afetarão nosso bem-estar social.
É impossível tomar uma decisão consciente se não se tem um mínimo de entendimento sobre ciência e tecnologia, como funcionam e como podem afetar nossas vidas.
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Este é um artigo de Marcelo Knobel, 44 anos, físico, professor do Instituto de Física Gleb Wataghin e pró-reitor de graduação da Unicamp.
Este excelente artigo foi originalmente publicado no jornal Folha de S. Paulo, aqui, e desde aí tem sido reproduzido em vários websites.
13 comentários
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Era isso mesmo que estava procurando, achei diversos vídeos e artigos sobre Mecânica Quântica que não passavam de pseudociência, achei que isso passaria despercebido entre os especialistas, e que, como consequência, muitos fascinados felo universo mas que nem sequer sabem oque são derivadas acabassem sendo “enganados”.
Pessoal. Independente das inclinações esotericas, a Mecânica quântica é um teoria que descreve sistemas quânticos.
Mas oque é um sistema quântico? É o sistema microscópico, onde os fenômenos mecânicos se distanciam dos fenômenos clássicos, simplemente pela diferença de escala.
O mundo dos fenômenos clássicos são observáveis por nós diretamente, enquanto que os quanticos não. Ou seja, nós não temos nenhuma experiência cinestésica dos fenômenos físicos quânticos, oque temos são analogias matemáticas que nos dão distribuições de frequência para um espectro de possíveis eventos mediante experimentação.
Um sistema macroscópico não apresenta fenômenos quanticos, mas dependem destes. Exemplo:
Um copo de água é um sistema apreciável aos nossos sentidos, fisicamente podemos conceber alguns fenômenos do copo de água, como a viscosidade. Mas a viscosidade só surge quando tratamos de conjunto grande de materia. Não existe viscosidade em uma molécula de água, mas o comportamente quantico de um conjunto de molécula de água faz emergir a viscosidade, mas essa mesma viscosidade não é mais algo quantico, mas clássico (macroscópico).
Será que dá pra perceber esse pensamento? O mundo quantica determina o mundo clássico, mas o clássico ainda continua valendo. As leis de Newton aplicam. Aplicam para sistemas macroscópicos, clássicos. As leis da quantica aplicam, mas para sistema quanticos. Um não exclui o outro, eles se complementam.
Isso ocorre a medida que seu sistema esteja no chamado limite clássico. Quando h “cortado” tende a zero.
Onde h cortado é a constante de Dirac, que deriva da constante de Plank.
Se os senhores não tem noção desses elementos básicos da mec. quântica, vão carpir um lote.
Se querem entender algo sobre antes de dalar, leiam um bom livro sobre o assunto, façam as contas, resolvam os exercícios… Recomendo o livro de J.J. Sakurai: Mecânica Quântica moderna.
Esse negócio de associar espiritismo com quântica é ilusão. No máximo não passa de algum simbolismo materialista. Fruto da mente de pessoas que buscam fundar sua espiritualidade em algo sólido como a Teoria da Mecânica Quântica.
Algo espiritual nunca vêm do imanente (coisas terrenas), mas do transcendente. Consigo uma teoria científica como algo puramente imanente, logo uma coisa não justifica a outra.
att.
pedro
Author
“Se os senhores não tem noção desses elementos básicos da mec. quântica, vão carpir um lote.”
Quais senhores?
“Se querem entender algo sobre antes de dalar, leiam um bom livro sobre o assunto, façam as contas, resolvam os exercícios… Recomendo o livro de J.J. Sakurai: Mecânica Quântica moderna.”
ahhh ok… está a dizer a mesmíssima coisa que o artigo.
Ou não terá lido o artigo?
abraços
Carlos,
O Pedro J. Miranda não está se dirigindo à nós; está a se dirigir para os pseudos que inventam coisas estrambólicas acerca da Física Quântica.
Abraços.
Author
ahhh ok.
Sinceramente, foi o que me pareceu, porque passou a maioria do comentário a defender a ciência…
Mas depois ao dizer “se os senhores”… fiquei na dúvida 😉
Lei de Poe… 😛
Obrigado por ter esclarecido Cavalcanti 🙂 e peço desculpa pelas minhas dúvidas 😉
Prego.
Tem toda razão, não passou pela minha cabeça que a nuvem de probabilidades independe de nós. Peço desculpas por minha ignorância 🙂
Author
Não tem que pedir desculpas.
Estamos numa área (quântica) que ainda é mal compreendida 😉
abraços!
Acho que eu não soube me expressar muito bem, Carlos Oliveira. Não tenho crença alguma, muito pelo contrário, também sei que fenômenos sobrenaturais não existem. O que eu tentei dizer é que aquilo que os espiritualistas chamam de ”sobrenatural” talvez seja o resultado de uma observação quântica. Ou seja, por exemplo, se você procura observar que uma partícula tome determinada direção desejada por você, talvez ela tome, já que pela quântica existem infinitas possibilidades de direção que uma partícula pode tomar. Ela tomaria essa direção não porque você possui “poder da mente” ou algo do tipo, mas sim devido ao efeito do observador descrito por Einstein. Então haveria essa estreita ligação prática (prática! Jamais física ou sequer filosófica) entre a mecânica quântica e fenômenos esotéricos como esse “poder da mente”.
Outra coisa, parabéns pelo blog, não o conhecia, é realmente excelente.
Author
” por exemplo, se você procura observar que uma partícula tome determinada direção desejada por você, talvez ela tome,”
Pois, mas isso já não é quantica 😉
Isso são desejos pessoais contrários aos ensinamentos da quântica.
Isso é determinismo, com base naquilo que queremos; não é a nuvem de probabilidades independente de nós.
Ou seja, o que você disse, é precisamente o oposto do que a quântica nos ensina.
abraços
Eu, como mero entusiasta do assunto e sendo um cético, discordo em partes do professor Marcelo Knobel e acho que a afirmação de Ayres Britto não deve ser totalmente ignorada do ponto de vista prático.
Inicialmente achei estranho um professor tão renomado afirmar que “a fascinante física quântica aplica-se somente a sistemas físicos na escala atômica”. Isso porque observações recentes comprovam que a física quântica também interfere em sistemas macroscópicos (exemplos e explicações detalhadas na edição de julho de 2011 da Scientific American Brasil). A Física Newtoniana é uma mera aproximação útil de um universo absolutamente quântico, uma imagem em preto e branco de um mundo multicolorido. Não existe essa divisão conveniente entre a física em escala microscópica e em escala macroscópica.
Então, na minha opinião, se um espiritualista diz que “seu pensamento tem poder”, graças ao efeito do observador, talvez tenha mesmo. Não da forma esotérica que ele acredita que seja, claro, mas sim devido à capacidade que um observador possa ter em definir qual “caminho” deveria ser tomado, já que a mecânica quântica prevê que as partículas podem tomar diversas direções simultaneamente.
Concluindo: desse meu ponto de vista, a mecânica quântica seria a explicação racional do porquê de tais fenômenos ditos sobrenaturais acontecerem.
Author
Nós temos artigos sobre a Quântica e o sistema macroscópico.
É possível sempre interpretar as coisas de acordo com a nossa crença. Mas a verdade é que os espiritualistas estão errados. Como estavam os alquimistas, por exemplo.
Os fenómenos sobrenaturais não existem e não podem ser explicados pela quântica.
A mecânica quântica explica aquilo que é natural e que existe.
abraços
Crença:
A crença é um Drone – A curiosidade é um vaga-lume
Crença; Não pergunte o que seu país pode fazer por você, pergunte o que você pode fazer por seu país:
Realidade;
Não pergunte o que é o totalmente Inútil – Multinacionais Patriótica (Negócio é negócio) pode fazer por você, pergunte o que você pode fazer ou morrer, pelas multinacionais. Essa é a síntese dos ministros e ex do Supremo.
Então, segue-se;
Todos direta ou indiretamente invoved, nos atos vis e covardes de b Urning mulheres vivas inocentes, sua gestação e seus filhos com napalm e infligir sobre aqueles sobreviver;
O horror de presenciar seus filhos dilacerado ou mutilado por minas terrestres, ou nascer com defeitos congênitos horrendos, devido ao uso vil e covarde de neuro – agentes tóxicos, desfolhantes e passou barras de combustível nuclear. Pode de fato dizer: ” Em Deus – Alá – Divindade we Trust “, para qualquer divindade Assim, certamente, para enviar-nos todos para o inferno, independentemente de cor, religião ou cultura.
Criação:
Energia pode ser “convertida” , mas energia não pode, nem ser criada nem destruída. A Energia de um pensamento é, posteriormente, a Energia da Criação. A Energia da Criação é Posteriormente, a energia de um pensamento
Portanto, cada um é tanto o Princípio e o Fim do outro. Crença: Qual é a diferença entre a inteligência e a Crença ?
Creio que esta questão é um caso aberto, e, em seguida, fecho-o, para que a minha crença por si só não seja capaz de responder. ” CURIOSIDADE ” Força Motriz e criadora . A curiosidade matou o gato ? Sem a curiosidade do gato estaria morto de qualquer maneira. Logica: Sem curiosidade não / nova vida jamais, estariamos ainda a comer e rastejar, e a vida nunca teria avançado. Eu não compro pareceres ( em campo algum, seja do Direito ou outra ciência ) muito menos de ex ministros, aos quais eu não confio, visto nunca terem represnetado meus interesses “LEGITIMOS”, não me rendo aos absurdos deste ou de outro, seja o que possa vir a proferir.
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