“Zonas de emissão de gases no fundo do mar sustentam ecossistemas biológicos que obtêm nutrientes através da síntese de elementos químicos, em vez da luz solar. É o caso de certas amêijoas.
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Frente a Portugal e Espanha, a alguns milhares de metros de profundidade, o chão do golfo de Cádis está pejado de vulcões de lama. A esses vulcões juntam-se agora outros três, um deles coberto por amêijoas gigantes. Mas, teremos ouvido bem? Vulcões de lama e amêijoas gigantes?
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É isso mesmo: estes vulcões expelem materiais argilosos, muitas vezes carregados de gases vindos do interior da Terra, essencialmente metano, que depois fica aprisionado nas moléculas de água congelada nos sedimentos. Os hidratos de gás, uma combinação de metano e outros gases presos nos cristais de gelo, são conhecidos no mar desde os anos de 1970. No golfo de Cádis, a sua detecção, e logo com hidratos de gás, deu-se em 1999, na área marroquina.
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Foram investigar as falhas geológicas que ligam a zona do golfo de Cádis aos Açores e a ocorrência de comunidades biológicas típicas de zonas de emissão de gás no fundo do mar. Os hidratos de gás não ficaram de fora: “São um potencial recurso energético futuro, porque um centímetro cúbico de hidratos de gás corresponde a 160 centímetros cúbicos de gás natural. São uma forma altamente concentrada de gás”, explica um dos elementos da equipa, o geofísico Luís Pinheiro, da Universidade de Aveiro. “Para já, estamos a identificar as zonas onde existem os depósitos. O passo seguinte é fazer trabalhos detalhados, para ver se são exploráveis.”
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Mas aqui a geologia anda de mãos dadas com a biologia: os elementos químicos nos fluidos no fundo do mar são usados por microrganismos para extrair os nutrientes necessários. Em vez da fotossíntese, em que a luz solar é usada para se obter energia, há a síntese de elementos químicos. Que comunidades de organismos quimiossintéticos existem ao longo daquelas falhas tectónicas é outra das perguntas do projecto.
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Mas se as comunidades quimiossintéticas do golfo de Cádis vivem em ambientes frios, nos Açores encontram-se outras em fontes hidrotermais, com água quente carregada de gases e até metais e à sua volta há oásis de vida, como mexilhões e camarões. (…) “Como todos esses ecossistemas estão baseados na produção quimiossintética, tentamos encontrar um fio condutor que permita saber como estão relacionados. Estas falhas ligam uma zona de vulcanismo de lama a uma zona de hidrotermalismo.”
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“Per si, estas falhas podem ter vulcões de lama e fluidos carregados de metano. Isso não se sabia. Podem servir como uma auto-estrada para as comunidades [biológicas] atravessarem o oceano através do fundo do mar”, diz o geólogo, referindo que já ficou demonstrado que um troço dessa via está fora do prisma acrecionário.
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Foi na cratera de um dos vulcões descobertos na expedição que se viram amêijoas gigantes, com seis centímetros de comprimento. Marina Cunha pensa que são de uma espécie que existe ao largo de Angola, em zonas quimiossintéticas próximas de reservas de petróleo e gás, e aí têm até 15 centímetros. “Têm bactérias simbiontes nas brânquias, que utilizam a energia química destes fluidos para produzir alimento para estes organismos”
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Se está a pensar que as amêijoas dariam uma boa refeição, esqueça. Num ambiente desses, só podem ser tóxicas.
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Este é um excelente artigo da jornalista Teresa Firmino, no jornal Público. Leiam o artigo completo, aqui.
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