Neste post vamos ver uma ideia mudar, quando dá jeito à crença. Os criacionistas nunca acreditaram que as adaptações dos progenitores passavam para a geração seguinte – como teorizado por Lamark, a chamada lei do uso e do desuso. De facto, o processo evolutivo não é tão grosseiro mas que existe passagem de caracteres para a chamada geração F1 é um facto provado por Mendle já há séculos. Mas agora os crentes em milagres acham que esse evento ocorre nos homossexuais. Assim, se fores “normal” – seja lá o que isso for – o grosseirismo de Lamark não se aplica; se fores dos “diferentes” então o lamarkismo entra com toda a força nas equações da tua vida e dos descendentes. Penso que ainda não foi encontrado um gene da homossexualidade mas é conhecido o da loucura de quem é egoísta e não aceita a felicidade alheia.
O que é ser normal? A discussão é extensa mas simples – é fazer parte da maioria. Mas ser normal nem sempre é ser correcto. Um exemplo: A maior parte dos portugueses acham que a homeopatia funciona. É um pensamento usual mas não é normal porque peca pela falta de boa argumentação e provas.
A votação da adopção por casais homossexuais terminou com maioria a favor, mas soube a um empate e cheirou a século XV – cheirou a lenha. Afinal ainda existe homofobia… Ainda bem que não estamos em tempo de fogueiras – Infelizmente houve apenas 99 votos a favor vs 94 estrondosos votos contra. Em séculos evoluímos 99 votos mas continuamos com 94 de retardamento. Pelo menos o resultado é positivo mas peço à evolução que acelere um pouco, por favor!
Lembro-me daquela discussão em se decidia se “tu” deves sofrer numa cama, não podes decidir morrer; daquela em que se decidia que “tu” podes ou não casar com quem gostas e agora aquela em que se decide se “tu” podes libertar uma criança pelo estado amoroso que tens com um terceiro. Só nao me lembro daquela em que os bancos reduziam os juros, em que o salário mínimo aumentava e em que acabava o abuso sexual aos contribuintes. Ainda não me lembro de discutirem sobre as crianças saudáveis com país sem condições ou de casamentos que são mais infelizes que um funeral. A seguir, discutir-se-à de que cor devem ser os pratos de comida das pessoas antes de se discutir o direito à comida.
Este post cabe neste espaço de ciência porque podemos pensar – e devemos fazê-lo – como matéria de bioética e de evolução de uma sociedade. Somos humanos, somos uma sociedade mas também temos o nosso espaço. Não me lembro de nenhuma criança filha de homossexuais que se tenha tornado homossexual. E se fosse? Parece haver mais medo de uma família destas do que daquelas famílias onde existem maus tratos e, aí sim, os filhos terão tendência a formar famílias similares. Por outro lado, ninguém deve debater sobre o que devo fazer de acordo com a minha condição fisiológica, religiosa ou clubística. Não vejo o parlamento debater se os sportinguistas não devem beber cerveja, as senhoras que pintam as unhas de vermelho não podem conduzir à segunda-feira ou os senhores de gravata que praticam violência doméstica de não poderem ter filhos.
Os cristãos são contra o homossexualismo pois acham, como referi acima, que essa condição passa para a geração seguinte mas não percebem que os maus tratos e algumas doenças – essas reais – passam para a geração seguinte sem obstáculos cristãos. É a tal ideia do “dá jeito” que Lamark tenha razão quando falamos de homossexuais, aquela doença infecto-contagiosa, e dá jeito que Lamark tenha errado quando se fala de outras coisas.
1 comentário
Gostei deste post. Aponta para muitas crenças irracionais desta sociedade que é preciso combater.
Mais uma vez repito. Não é por acaso que este blog foi o melhor em Ciência.
Cumprimentos.