Uma das nossas leitoras, no nosso Facebook, fez-nos esta excelente pergunta:
“É só a mim que a ideia “planeta com água = hipóteses de vida” vs. “planeta sem água = planeta morto” faz comichão no cérebro? Senhores do AstroPt especialistas em astrobiologia, digam-me se as hipóteses de químicas alternativas para a Vida são assim tão escassas que as coisas sejam tão preto e branco…”
Como penso que esta poderá ser uma pergunta muito comum entre a população, então cá fica uma resposta:
A lógica neste caso é: se já sabemos que existe de determinada forma, então devemos procurar essa forma. Por exemplo, nós sabemos que na Terra os elefantes têm 4 patas. Não vamos andar toda a vida a procurar um com 13 patas só porque nos parece possível. O mais provável será encontrarmos elefantes de 4 patas. Por isso, serão esses que tentaremos encontrar. Há uma maior probabilidade de vermos esses do que outro qualquer número (infinito) de patas que nos lembremos.
Costumo dar este exemplo para os meus alunos: se sabemos que temos uma chave e a perdemos a caminho de casa, então o que fazemos? Procuramos por coisas que podem parecer chaves no percurso de volta por onde passamos. Não vamos procurar unicórnios para a Índia. Porquê? Porque é mais provável encontrarmos aquilo de que temos conhecimento (em vez de infinitas outras possibilidades) nos sítios/condições que pensamos ser mais provável se encontrarem.
A mesma coisa para a água. Nós sabemos pelo que conhecemos (Terra) que água é sinónimo de vida. Então porque iremos procurar outros líquidos (e qual deles?) quando pelo que sabemos a água terá maior probabilidade de desenvolver vida?
Pelo que temos conhecimento, é mais provável encontrarmos vida na presença de água. Por isso, como o recurso financeiro é escasso, então utilizamos esse financiamento da forma que nos parece mais apropriada tendo em conta as probabilidades.
Mas, claro, isso não quer dizer que descartemos as outras hipóteses (ex: Titã com metano liquido).
Simplesmente colocamos mais probabilidade naquilo que já sabemos que pode existir.
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Recomendo fortemente que leiam este artigo, publicado no periódico Química Nova, de autoria do pesquisador Pabulo Henrique Rampelotto, do Centro de Pesquisas em Biotecnologia, Universidade Federal do Pampa, Brasil.
Neste artigo ele faz considerações sobre a busca de uma definição precisa da Vida, e como essa questão tem impactos sobre a Astrobiologia.
Por fim, faz uma revisão de literatura sobre as principais hipóteses envolvendo as possíveis químicas alternativas para o surgimento e manutenção de seres vivos, como à base de amônia, metano e ácido sulfúrico.
A QUÍMICA DA VIDA COMO NÓS NÃO CONHECEMOS – Pabulo Henrique Rampelotto:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-40422012000800023&script=sci_arttext
olá a todos
só quero deixar umas linhas em termos geológicos
segundo a teoria existente é a água que permitiu o aparecimento de rochas granitóides na Terra… sem ela não haveria substrato que permiti-se a existência de vida, uma vez que a crosta terrestre divide-se em continental (com granitos) e oceânica (sem granitos), que nas zonas de subducção passam para baixo das primeiras, para regiões no manto onde são recicladas…
n sei até q ponto o metano líquido permite isso pois n tem as características e propriedades da água…
a provável água que deu origem à vida seria também muito diferente da que existe nos oceanos hoje em dia uma vez que as condições seriam redutoras, sendo hoje oxidantes… se fossem oxidantes a probabilidade de existir vida na Terra seria muito diminuta uma vez que o oxigénio serve para degradar a matéria orgânica e reduzi-la aos seus compostos e elementos básicos, para além de precipitar elementos químicos como o Fe… isto quer dizer que a água em condições redutoras consegue conter mais sais que talvez fossem essênciais para o surgimento e manutenção da vida primitiva (sem oxigénio)…
Tem também que Titã por exemplo, lá a agua é uma pedra..
E pode ter vida devido a outros elementos que ocupariam o lugar da agua nos seres vivos que conhecemos..
Author
No Nosso Facebook fizeram mais alguns comentários interessantes que penso que merecem estar aqui para vocês também poderem dar uma olhada neles:
1 – Compreendo a ideia de racionalizar a busca mas vou aproveitar e insistir um bocadinho: temos também seres cá na Terra que vivem em meios que, sendo líquidos, são incrivelmente extremos. Estou a pensar naquelas bactérias nos lagos e geysers de Yellowstone e outras do género. Será muito descabido afirmar que, com um meio líquido, pouco importa o que o líquido contém para ver se há lá vida? Recordo-me do quão descabido me parecia a hipótese de haver vida em Trenco quando li a Patrulha Galáctica ainda miúdo mas depois de ver alguns documentários sobre formas de vida extremófilas…
2 – Em termos de probabilidade vê mais vida em Yellowstone (que continua a ser água) ou noutros locais da Terra?
Se tiver uma certa quantia de dinheiro, limitada, vai procurar pela existência da venda de iogurtes numa mercearia ou num talho?
(no entanto, ninguém tá a dizer que não haja nenhum talho que até venda iogurtes 😉 )
abraços!
3 – Bem, daí a minha pergunta, vejo-me com a dúvida sobre se os meios líquidos em que se observa uma grande diversidade de vida nos documentários são constituídos por água ou por outros líquidos e ainda se essa diversidade é assim tão grande quanto isso ou apenas surpreendentemente grande para as condições em que se apresenta. Ainda bem que estão aqui vocês… imagino que o tempo limitado desses programas televisivos não permita, muitas vezes, explorar bem cada assunto abordado.
4 – Bem, penso que o exemplo clássico é Titã: temos lagos de metano e especula-se que pode haver vida, quiçá microbiana, e certamente muito diferente da nossa. Ou não. Ou seja, não se sabe. Mas não se põe de parte essa hipótese, até se poder testar indo lá (o que neste caso quer dizer, enviar umas sondas que possam procurar por vida nesses lagos) 😀
abraços!
Bom tópico e concordo. É tudo uma questão de probabilidades.
Tendo por base que o hidrogénio é o elemento químico mais simples e que existe em maior quantidade no universo e os únicos seres complexos que conhecemos são à base de água, é mais provável de encontrar outros seres que vivem deste elemento, do que qualquer outro.
Por outro lado, (e unicamente minha opinião) outros departamentos procuram planetas habitáveis, pelo que estes devem cingir esforços entre si na pesquisa destes planetas à base de hidrogénio.
Contudo, as outras hipóteses não estão a ser descartadas.
Vi à alguns meses um programa onde tratava exactamente desse tema. Cientistas descobriram vida em locais inóspitos no nosso próprio planeta, nomeadamente, seres microscópicos. São denominados de “extremófilos”.
Após estas descobertas, alguns assumem que existe a possibilidade de vida microscópica em Titã, baseada em metano. Isto prova que procuram e ponderam outros tipos de vida.
Mas acima de tudo, o importante não é qual se encontra. É o “Encontrar”. É a descoberta.
P.S.: Sou um mero curioso, pelo que sigo-me pela intuição e programas que vi. Agradeço que me corrijam e complementem com outras informações. Dessa forma, também aprendo mais qualquer coisa com quem sabe.
Cumprimentos,
Sérgio Martins
Author
Precisamente 😉
O facto de haver maior probabilidade em certas condições não quer dizer que descartemos completamente outras condições onde ainda não sabemos se existe 😉
abraços!
Author
Podem completar esta resposta com outras ideias, claro 😉
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