Ser comentador

Não é fácil ser comentador televisivo ou radiofónico. E falo da astronomia. Para já, porque não é fácil lá chegar. Depois porque o comentário implica que o comentador esteja bem preparado, seja um bom divulgador e tenha um conhecimento razoável sobre a diversidade de temas que a astronomia comporta. Mesmo com estas características, o comentador pode falhar. E se não estiver bem preparado falha mesmo.

Á partida quem tem formação académica tem mais obrigação de não falhar. A formação académica dá-nos uma base importante para percebermos do que estamos a falar. Mas os académicos também não estão isentos de falhas. Já vi muito académico a meter os pés pelas mãos. Já vi muita coisa, mas a coisa mais hilariante que vi foi há uns anos, um académico da área da robótica, a fazer uma palestra sobre exploração planetária e sondas espaciais. Uma palestra inacreditável. Começa logo mal quando confunde Úrano com Neptuno e depois é uma tragédia de erros que nunca mais acaba. E era um académico! Pois era, mas não percebia nada do assunto.

Num registo mais sério em 2009. Três investigadores a falar da conquista da Lua na TV. Todos se enganaram mais coisa menos coisa, como na altura registei. Nenhum era da área e estavam os três a falar de um tema que conheciam por alto, mas até gostei do programa.

Depois há os comentadores sem formação académica. Tivemos um desses durante muitos anos na RTP. O Eurico da Fonseca e raramente cometia erros. E porquê? Era uma pessoa muito bem preparada e habitualmente falava do que sabia, ou seja, exploração espacial. Tinha vivido a época, tinha acompanhado toda a exploração do espaço, era uma pessoa bem informada e era difícil enganar-se. E, no entanto, não tinha formação académica.

Portanto, em resumo, diria que além da formação académica é importante a preparação informal e também uma certa rodagem a falar destas coisas, mas ninguém está isento de erros. O importante é perceber que erramos e aprender com os erros.

ze matos

7 comentários

Passar directamente para o formulário dos comentários,

  1. Zé, no Facebook não coloquei a tua imagem, porque acho que é muito raro colocarmos as nossas imagens no FB do AstroPT.
    Em vez disso, só para brincar com o assunto, coloquei a imagem dos possivelmente mais famosos comentadores de TV (pelo menos, para pessoas da minha era adolescente): os velhotes dos Marretas 🙂
    http://www.facebook.com/photo.php?fbid=630775356933760&set=a.518070441537586.127548.518068711537759&type=1

  2. A tua reflexão sobre os comentadores é acertadíssima e aplica-se a todas as áreas. Não podemos comentar tudo porque é impossível saber tudo.

  3. Viva Carlos

    Por falar no Sagan e apesar de toda essa preparação que tinha meteu várias vezes os pés pelas mãos. Os Dragões do Éden é um caso típico, meteu-se num tema do qual percebia pouco…Mesmo no Cosmos tem ideias completamente erradas sobre a Idade Média ou sobre Hipácia…enfim algumas das coisas de que me lembro…ou seja, falava de muita coisa sem uma preparação cuidada…mas era o Sagan, eh, eh….

    Ab

    1. O livro mais criticado do Sagan não é esse. Mas sim O Cérebro de Broca 😉

  4. Bem, já percebi que te estás a referir a este post 😛
    http://www.astropt.org/2013/06/29/super-lua-so-daqui-a-18-anos/

    Basicamente dizes que é possível especialistas serem maus comunicadores e não-especialistas poderem ser bons comunicadores.
    Exacto.

    Como eu disse no meu post:

    “A pessoa pode não ser da área e produzir um excelente trabalho. Mas isso é muito mais raro e muito mais difícil. Por isso é que os trolhas não são convidados para fazer cirurgias. Não é porque as cirurgias não possam sair bem aos trolhas. E não é porque os cirurgiões nunca se enganem. Mas é porque a probabilidade de um cirurgião se enganar é muito menor que um trolha. Novamente, entramos em aspectos de literacia funcional: escolher sempre aqueles que têm uma maior probabilidade de estarem correctos, e esses são sempre os especialistas, aqueles que têm o conhecimento dos assuntos.”

    E tal como disseste no fim, o certo é que o mais provável é que para as pessoas se saírem bem, têm que ter:
    1. Formação Académica.
    2. Preparação.
    3. Experiência em divulgação/comunicação de astronomia.

    E lá está, estes 3 pontos, a dita pessoa não tem. É amadorismo. E porque quer. Porque nem tinha necessidade disso.

    Gostei também desta tua frase final: “O importante é perceber que erramos e aprender com os erros.”
    O problema é que a pessoa que nem sequer reconhece erros claros, obviamente não pode aprender.
    E pior, nota-se pela forma de ser agora com a quando eu o conheci há quase 10 anos atrás… nada mudou. Infelizmente.
    Os problemas continuam os mesmos: fraca formação académica, preparação em cima do joelho, fraca experiencia em divulgação astronómica, e protagonismo mediático.
    Infelizmente, nada me parece ter mudado, até porque lá está, a área profissional dele desde esse tempo até agora foi livrarias e editoras, não astronomia.

    O que me surpreende mesmo é ele não reconhecer erros claros, e passar o tempo com justificações e mais justificações.
    Lembras-te como eu te conheci? Programa Gregos e Troianos, no século passado!!! Critiquei-te fortemente e violentamente porque tu, que devias ter falado muito mais e explicado as coisas, estiveste montes de tempo calado e quem dizia os disparates eram os pseudos!!! E que fizeste tu? Reconheceste o erro. Ponto final. Acabou logo a discussão. Tu viste o programa e realmente “entraste” muito tarde nele e quem se aproveitou foram os pseudos. Assumiste. Reconheceste. Aprendeste para programas seguintes.

    E acabo com o que é considerado o topo da comunicação/divulgação astronómica: Carl Sagan.
    1. Licenciatura e Doutoramento. Uma formação académica completa!
    2. Uma preparação invejável para o que ia fazer. Há histórias sobre alguns dos seus “quirks”. Mas não dava erros básicos por falta de preparação.
    3. Enorme experiência em divulgação/comunicação de astronomia, que começou a ser conseguida como professor universitário.
    😀

  5. Olá Sónia

    É verdade essa palestra do Pimentão foi demais, mas penso que o Máximo não estava lá.?? mas voltando ao Pimentão tenha pena que não exista um filme disso é fartar de rir…é a única palestra em que vemos que o orador engana-se muito, toda a gente vê, mas o rapaz é tão divertido que no fim toda a gente adora…uma coisa mesmo excepcional…Grande Pimentão…

    Bjs

  6. Grande José Matos, saudades do cursos da SAC que frequentei em Coimbra! Aprendi muito consigo.
    Este post fez-me lembrar uma palestra no Observatório de Coimbra com o Máximo Ferreira em que o Pimentão se fartou de meter os pés pelas mãos, mas com uma atitude tão divertida que todos adoraram 😀
    Cumps
    Sónia Pisco

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.