Michael Krepon escreveu um artigo para a Space news, onde afirma que as políticas e os programas das principais potências espaciais têm priorizado cooperação sobre a competição. Este é um bom augúrio para iniciativas conjuntas entre os EUA e a China com “a mudança climática e asteróides” entre os potenciais pontos de base para uma parceria construtiva.
As grandes potências competem e cooperam no espaço. Quanto mais cooperarem no espaço, menos provável é que a sua concorrência na Terra resulte num confronto militar. O inverso também é verdadeiro.
Os Estados Unidos e a União Soviética disputavam a vantagem geopolítica e produziram dezenas de milhares de armas nucleares. Ambos testaram periodicamente armas anti-satélites, e o presidente Ronald Reagan, na década de 80, propôs a implementação um sistema de defesa no espaço, que ficou conhecido como Guerra das Estrelas. Mas, no geral, a competição no espaço entre as duas superpotências nucleares foi notavelmente comedida. Já em 1972, eles concordaram em não interferir com os satélites de recolha de informações, e, em 1975, realizaram um acoplamento da Apollo e cápsulas espaciais Soyuz. Apesar dos altos e baixos das relações EUA-Rússia, a cooperação continua no espaço, de forma mais vísivel na estação espacial internacional.
Há cinquenta anos atrás, o presidente John F. Kennedy deu uma lição sobre como grandes potências poderiam mudar do confronto para a cooperação. Menos de 10 meses depois da crise dos mísseis cubanos, Kennedy lutou por um tratado de proibição de testes nucleares.
Kennedy proferiu um discurso importante numa universidade americana onde afirmou: “Muitos de nós pensamos que é impossível. Muitos pensam que é irreal. Mas isso é uma perigosa crença derrotista. Isso leva à conclusão de que a guerra é inevitável, que a humanidade está condenada, que são agarrados por forças que não podemos controlar. Não precisamos aceitar esse ponto de vista. Os problemas são sintéticos e, portanto, eles podem ser resolvidos pelo homem “.
Kennedy argumentou que “podemos alcançar um alivio das tensões sem baixar a guarda.”
Apesar do presidente Kennedy e o líder soviético Nikita Khrushchev não terem sido bem sucedidos em acabar com todos os testes nucleares, conseguiram chegar a acordo sobre um tratado que proibia-os na atmosfera. Esta foi uma conquista significativa. Nos dois anos que antecederam o Tratado de Proibição de Testes de 1963, a União Soviética e os Estados Unidos juntos realizaram 179 testes atmosféricos – uma média de duas nuvens de cogumelos por semana. Estes testes atmosféricos trouxeram riscos para naves espaciais e voos espaciais tripulados, bem como para a saúde pública.
A receita de JFK para o sucesso na obtenção de um fim de testes nucleares na atmosfera também pode ser aplicada à importante iniciativa de cooperação espacial entre Washington e Pequim. Kennedy utiliza os seguintes ingredientes fundamentais:
– Transmitir mensagens privadas para o seu concorrente indicando que pretende mudar de rumo.
– Fazer uma declaração pública de alto nível pedindo um resultado específico, notável.
– Assumir um risco calculado, mas evitar fazer uma oferta susceptível de ser rígida e pouco flexível
– Dispensar a retórica de oposição. Usar um tom de respeito e empatia.
– Dar um passo verificável e significativo, politicamente arriscado, como um sinal de intenção séria.
– Chamada de contenção recíproca.
– Enviar um negociador de alto perfil que conhece o seu caminho em torno de ambas as capitais para fazer um acordo.
– Aproveitar o momento. Não perder oportunidades.
O presidente Barack Obama tem o dom de Kennedy para a retórica idealista, mas precisa de replicar a receita de Kennedy para o sucesso. Ele tem a oportunidade de fazê-lo, propondo um empreendimento cooperativo simbolicamente fretado entre os Estados Unidos e a China no espaço.
Uma iniciativa conjunta do espaço US-China enfrenta muitos obstáculos. Alguns, como os signatários do relatório da Comissão Rumsfeld para o Espaço em 2000, acreditam que o ataque surpresa e guerra no espaço são inevitáveis, assim como alguns especialistas durante a Guerra Fria defendiam que se a dissuasão falhasse a guerra entre as superpotências nucleares era inevitável. Alguns em Capitol Hill não concebem discussões bilaterais úteis com a China sobre o espaço e as mudanças climáticas. Eles aprovaram a legislação que proíbe a NASA e o Gabinete dos EUA de Política Científica e Tecnológica de participar, colaborar ou coordenar os intercâmbios bilaterais com os seus homólogos chineses. Alguns preocupam-se com a perda de segredos dos Estados Unidos numa joint-venture colaborativa no espaço. Preocupações semelhantes revelaram-se infundadas sobre a Apollo-Soyuz.
O presidente Obama e o presidente chinês, Xi Jinping passaram dois dias em Junho a discutir formas de gerir com sucesso uma mistura entre cooperação com competição entre os EUA e a China. Os relatos da imprensa sobre este encontro não incluem qualquer menção à cooperação espacial. A ser verdade, este facto reflete a pobreza de imaginação entre os seus conselheiros e uma agenda que está demasiado cheia de questões polémicas que dê para incluir a conversação sobre cooperação no espaço.
Embora não haja escassez de questões que requerem uma boa gestão das relações EUA-China – incluindo disputas de ciber-espionagem, marítimas e insulares, e as preocupações de proliferação – esta lista não é nada em comparação com o que Kennedy e Kruschev tinham. Ou inclusivé a agenda que o Presidente Richard Nixon e o líder soviético Leonid Brezhnev tiveram de lidar quando concordaram com a acoplagem Apollo-Soyuz.
A joint venture no espaço entre os Estados Unidos e a China não precisa ser tão caro ou de tão alto perfil como a acoplagem Apollo-Soyuz para ter valor simbólico e significativo. Esforços conjuntos para monitorizar as mudanças climáticas, as ameaças planetárias de asteróides e outras iniciativas úteis podem ser identificados como sendo úteis e demonstrativos de cooperação. Durante a Guerra Fria, os empreendimentos em cooperação no espaço esmoreceram atividades competitivas na Terra. A receita do Presidente Kennedy está à espera para ser replicada.
(esta é uma tradução/ resumo do artigo do Michael Krepon que foi inicialmente publicada aqui.)
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