O pico central da cratera Bullialdus numa vista oblíqua obtida pela sonda Lunar Reconnaissance Orbiter, a 08 de Agosto de 2012.
Crédito: NASA/GSFC/Arizona State University.
Cientistas americanos descobriram evidências da presença de água de origem magmática na superfície da Lua. Usando dados recolhidos pelo instrumento da NASA Moon Mineralogy Mapper (M3), que seguia a bordo da sonda lunar indiana Chandrayaan-1, Rachel Klima e colegas encontraram concentrações relativamente elevadas de iões hidróxilo (OH–) no pico central da cratera Bullialdus, em rochas formadas no interior da crusta e do manto lunares. Esta foi a primeira vez que uma sonda na órbita lunar detectou água proveniente do interior do satélite natural da Terra.
Bullialdus é uma cratera de impacto com cerca de 60,7 quilómetros de diâmetro, situada na parte ocidental de Mare Nubium, nas proximidades do equador lunar. Esta área é particularmente interessante porque se encontra numa região com um ambiente desfavorável para a interacção das partículas do vento solar com a superfície lunar dar origem a quantidades significativas de moléculas de água.
“Durante muitos anos, os cientistas pensaram que as rochas da Lua se encontravam completamente secas, e que qualquer água detectada nas amostras das Apollo tinha de ser contaminação terrestre”, afirmou Klima, geóloga planetária do Laboratório de Física Aplicada da Universidade de Johns Hopkins. “Há cerca de cinco anos, novas técnicas laboratoriais usadas para estudar as amostras lunares revelaram que o interior da Lua não é tão seco como se pensava. Pela mesma altura, dados obtidos a partir da órbita lunar conduziram à detecção de água na superfície lunar, no que se pensa ser uma fina camada gerada pelo impacto do vento solar na superfície da Lua.”
“Infelizmente, esta água superficial não nos dá qualquer informação acerca da água magmática, que existe em camadas mais profundas na crusta e no manto”, disse Justin Hagerty, cientista da U.S. Geological Survey e co-autor deste trabalho. “No entanto, conseguimos identificar os tipos de rocha [certos] no interior e nos arredores da cratera Bullialdus.”
Arrancadas das profundezas da Lua pelo impacto que formou Bullialdus, as rochas que constituem o seu pico central foram cristalizadas em condições muito particulares. “As rochas que formam o pico central da cratera são de um tipo denominado norite, que frequentemente cristaliza quando o magma ascende, mas fica preso no subsolo, em vez de ser libertado na superfície sob a forma de lava” explica Klima. “Este tipo de rocha não se encontra apenas na cratera Bullialdus. No entanto, a sua exposição combinada com uma abundância relativamente baixa de água nesta região permitiu-nos quantificar a concentração de água de origem magmática nestas rochas.”
A água magmática providencia aos cientistas importantes informações acerca da composição interna da Lua e dos processos vulcânicos que moldaram a superfície lunar. “Compreender a composição interna ajuda-nos a formular perguntas acerca da formação da Lua, e de como os processos magmáticos mudaram à medida que esta arrefecia”, disse Klima.
Com esta detecção remota de água magmática, os cientistas podem agora começar a enquadrar alguns dos resultados obtidos nas amostras laboratoriais num contexto mais alargado, incluindo em regiões que se encontram longe dos locais de alunagem das missões Apollo. “Precisamos agora de olhar para outros locais na Lua, e tentar testar as nossas descobertas acerca da relação entre elementos vestigiais incompatíveis (como, por exemplo, o tório e o urânio) e a assinatura do hidróxilo”, afirmou Klima. “Nalguns casos, isto envolverá contabilizar a água superficial que é produzida por interacções com o vento solar, pelo que será necessária a integração de dados provenientes de diferentes missões.”
Este trabalho foi publicado no passado fim-de-semana na revista Nature Geoscience. Podem encontrar o artigo aqui.
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