Já no passado escrevi este post onde explico que pensamos cientificamente/racionalmente milhares de vezes ao dia e sempre com 100% de sucesso.
A lição que podemos tirar é que se temos sucesso a pensar desta forma milhares de vezes ao dia, então devemos continuar a fazê-lo.
Não fazê-lo é não só irracional, como também é apostarmos contra nós (que pode levar a consequências negativas).
O pensamento científico-racional baseia-se em probabilidades.
Mas também noutras características, como a Navalha de Ockham.
Normalmente pensa-se que a Navalha de Ockham diz-nos que devemos escolher a hipótese que pensamos ser mais simples de acontecer.
No entanto, não é assim, porque essa avaliação de “simplicidade” pode ser bastante subjectiva. Por exemplo, qual será mais fácil para explicar a origem da vida? Deus? Extraterrestres? Desenvolvimento natural a partir de compostos orgânicos durante alguns milhões de anos de experiências naturais (ou seja, complexidade gradual)?
Actualmente estou com alguns problemas que me levam a fazer 2 pequenas cirurgias hoje.
Vi nisto uma excelente oportunidade de fazer educação científica…
Neste momento em que este artigo está a ser publicado, mal ou bem, eu estarei a sair das cirurgias.
Como estará então este artigo a ser publicado?
É neste tipo de situações, normais, milhares de vezes ao dia, que se vê o poder e o sucesso do pensamento científico-racional sobre outros tipos de pensamentos (pseudo, mitológico, religioso, etc). Em poucos segundos, aplicamos a Navalha de Ockham sem nos darmos conta.
Daí eu estar a usar o meu exemplo actual, porque penso que mostra perfeitamente como pensamos… se reflectirmos na forma como pensamos.
Voltemos à pergunta: como está este artigo a ser publicado?
Podemos dar inúmeras possíveis respostas, mas vou-me limitar a duas porque tenho que rapidamente sair: uma delas mostra um tipo de pensamento e a outra hipótese mostra um outro tipo de pensamento.
Hipótese 1: estou a escrever este artigo antes das minhas cirurgias, e estou a utilizar a característica do WordPress que permite o agendamento de artigos. Assim, os artigos são publicados posteriormente numa data e hora que nós pretendemos no futuro. Os artigos são assim publicados automaticamente, sem nós precisarmos estar na net.
Hipótese 2: morri, estou no inferno actualmente, e o inferno tem um acesso à internet bastante bom que me permite estar agora a escrever este post.
A Hipótese 2 pode ser chocante, mas foi a que me lembrei rapidamente para demonstrar a diferença em termos de Navalha de Ockham.
A Navalha de Ockham diz-nos que a resposta mais provável é aquela que detém menos premissas.
A Hipótese 1 assume duas premissas: que o WordPress tem essa característica e que eu utilizei essa característica para publicar este post.
Na verdade, uma dessas premissas não é bem uma premissa porque sabemos que é um facto facilmente confirmado por qualquer pessoa: o WordPress tem essa característica.
Ou seja, a Hipótese 1 tem na verdade somente uma premissa.
A Hipótese 2 assume quatro premissas: que as minhas pequenas cirurgias correram estupidamente mal, que o inferno é algo que realmente existe, que os meus comportamentos em vida me levaram a esse local, e que esse local infernal tem acesso à internet.
Todos os dias, milhares de vezes ao dia, muitas vezes em décimos de segundo, inconscientemente tomamos decisões deste género. Escolhemos qual a hipótese que nos parece mais provável. Incluindo utilizando a Navalha de Ockham, escolhendo, sempre, a hipótese com menos premissas.
Infelizmente, não nos damos conta disto. Fazemos de forma inconsciente. Nem sequer nos apercebemos que sabemos e aplicamos a Navalha de Ockham. E nem sequer compreendemos que fazemos isto constantemente com 100% de sucesso.
Se fizéssemos esta auto-reflexão sempre que tomamos este tipo de decisões, talvez noutras ocasiões não caíssemos no erro de ver alguma lógica em escolher o pensamento pseudo.
P.S.: vamos supôr que as pequenas cirurgias correram mal. Mesmo assim a Hipótese 1 continua a ser a correcta, porque tem menos premissas. Além disso, mesmo que uma premissa na Hipótese 2 se prove como correcta, as outras premissas continuam a não se poder comprovar como correctas e a serem em maior quantidade que as da Hipótese 1.
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carlos tu escreves que no dia a dia escolhemos muitas vezes as escolhas que parecem mais claras ou como dizes com menos premissas, mas nas tuas 2 hipóteses, a primeira é a que tem menos, ou seja se dizes que aceitaríamos a 2 por ter mais premissas … mas aqui escreves:
Todos os dias, milhares de vezes ao dia, muitas vezes em décimos de segundo, inconscientemente tomamos decisões deste género. Escolhemos qual a hipótese que nos parece mais provável. Incluindo utilizando a Navalha de Ockham, escolhendo, sempre, a hipótese com menos premissas.
ou seja se escolhemos sempre a 1 hipótese não vejo o erro, pois é a resposta correcta. Depois escreves isto:
Infelizmente, não nos damos conta disto. Fazemos de forma inconsciente. Nem sequer nos apercebemos que sabemos e aplicamos a Navalha de Ockham.
bem, posso ter lido mal. Mas é isso que percebi, as melhoras.
Author
Sim, parece confuso…
Vou tentar colocar por pontos… para ser mais fácil encadear 😉
1 – Todos os dias fazemos milhares de escolhas ao dia, e escolhemos quase sempre a hipótese mais racional, com menos premissas, seguindo a Navalha de Occam.
http://www.astropt.org/2011/05/21/profecias-da-ciencia/
2 – Nessas escolhas que fazemos racionalmente, temos sempre 100% de sucesso.
3 – Este caso é só um exemplo de como certamente qualquer pessoa de bom senso escolheria, sem pensar, mesmo inconscientemente, imediatamente a Hipótese 1. E acertaria, claro.
4 – Nunca, ou muito raramente, pensamos nestas coisas, na forma como pensamos, do porquê de ter lógica pensarmos desta forma, e de acertarmos sempre. Isto é mau para nós, não sabermos como pensamos (daí o infelizmente).
5 – Como não nos apercebemos do que fazemos, ou do porquê de o fazermos, por vezes, decidimos, conscientemente, fazer más escolhas. Escolhemos a maneira de pensar pseudo, damos ouvidos a pseudos e demais vigaristas, pensando que dessa forma até teremos algum sucesso. Fazemos estas más escolhas, porque não nos apercebemos que das últimas 1000 vezes escolhemos de forma lógica e racional, e tivemos sucesso.
Está mais claro, agora? 😉
abraços!
claro como a agua, devias ter tido uns dias de férias, sem sol mas descanso hehe
Author
Toda a gente me diz isso…
Mas teria que “perder” 3 semanas (até ficar completamente recuperado), o que me faria perder um prazo-limite de um projecto que tenho a decorrer 😉
abraços!
que curas depressa, mas nao muito, aproveita as ferias xp
Author
Obrigado 🙂 . Quais férias? Nem Sol nem água posso apanhar 🙁
vai dentro duma gruta 🙂 pode ser que esteja lá o famoso extraterrestre.
As melhoras!
Um grande abraço!
Author
Obrigado 😉
Votos de rápidas melhoras.
Há um erro na hipótese 2: quem tanto faz para espalhar o conhecimento jamais iria parar ao inferno (seja lá o que isso for).
Author
Obrigado 🙂
Bem, é sempre relativo 🙂
Para quem vive das vigarices, aqueles que espalham o conhecimento são o “diabo” em pessoa 😉
Wow Carlos!! Think rationally. Yes!
Author
😀
Genial!
E espero que não estejas no inferno 😉
Já agora, teria mais uma premissa… se existe inferno é porque também existe céu 🙂
Abraço e boa recuperação.
Author
Obrigado 😀
[…] O que se passou? Terá sido algum engraçadinho? Estaria a avó viva? Será que o céu tem rede de telemóvel/celular? Qual será a resposta mais provável? […]
[…] pensamento científico utiliza algumas ferramentas como a Navalha de Ockham. O resultado do pensamento científico entende-se como probabilístico. Poucas pessoas entendem […]
[…] 14º: Probabilidade. Tendo em conta tudo isto, o que é que acham que é mais provável? […]
[…] – a Navalha de Occam não nos diz que a explicação mais simples tende a ser a correta, mas diz sim que a resposta mais provável é aquela que detém menos premissas. […]
[…] é uma hipótese levantada por eles que não passa no filtro da Navalha de Ockham – que deve estar na base de qualquer pensamento […]
[…] da Matemática. Professor. Literacia. Bananas. Burro e Feliz. Correlação e Causalidade. Navalha de Ockham. Falácias com Dragões. 24 Falácias Lógicas. Teoria. Só teoria. Somente teoria. Lei vs. Teoria. […]