Olhos não Lêem, Cérebro não Aprende – Parte I

debateÉ certo que o título faz lembrar um certo ditado popular. Costumo ser contra ditados porque são erróneos e costumam ser usados como um argumento. Além disso, para cada ditado há outro que diz o seu oposto. Mas neste texto parece-me bem incorporar a frase, e verão porquê.

Eu considero-me uma espécie de homem-bala. Sou aquele indivíduo que se intrusa num meio para captar in loco as queixinhas e os pseudo-argumentos dos pseudo ou dos auto-leigos – aquelas pessoas que não querem saber de, por exemplo, biologia mas que falam contra ela com pseudo-argumentos.

Cada vez mais surgem pessoas que parecem saber de ciência apenas com uma pseudo-formação. São pessoas que parecem ter um conhecimento profundo muito lato. Há 300 anos era normal um físico ser matemático, médico, poeta, químico e sabe-se lá mais o quê. À medida que a ciência aprende, torna-se mais complexa e aparecem novos ramos cada vez mais complexos, ao ponto de o biólogo ser especializado numa célula do sistema imunológico, o resto é curiosidade. Mas parece que voltámos ao passado distante ao começar a vislumbrar pessoas que percebem de vários ramos da… pseudo-ciência, com chavões científicos. Parecem autênticos compêndios da ciência.

Voltámos aos alquimistas, às bolas de cristal, aos búzios e a toda a cultura milenar. Do fantástico mundo do “q”, salto para o mundo do “quê?”. Quando uma técnica é milenar e não acabou com a peste negra, com a varíola e outras doenças, algo não correu muito bem. Actualmente não há uma técnica milenar que tenha tido resultados contra a gripe, a sida ou o cancro. No entanto, as técnicas avançadas da ciência – e que produzem resultados – são questionadas… “quê”? Proponho que reparem o que a técnica secular fez em comparação com a milenar.

Mais uma vez assisti a umas queixinhas à ciência. As vacinas da gripe foram um negócio para as farmacêuticas (e aqui começamos a misturar as coisas) porque as vacinas são caras e foram vendidas muitas delas. Mas muitos lotes foram devolvidos e os estados ressarcidos. Além disso, se uma farmacêutica quiser lucrar vende vacinas para potenciais compradores que têm medo de doenças que matam. Então, vender-se-ia uma vacina para o HIV ou para a sorte ao jogo ou ao amor, ou então uma vacina de iões carregados de energia quântica que promovem o equilíbrio energético. Mas a ciência está ligada à deontologia e a pseudo-ciência ligada à aldrabice. A Ciência ligada ao fazer o bem e a pseudo-ciência ligada ao negócio.

O próximo passo foi o célebre “criaram o vírus para vender a vacina” mas esquecem o que é um vírus ou uma vacina… ou talvez não saibam. Mas então porque falam? Porque é fácil. Lançar uma doença para vender uma vacina é tão perigoso como lançar milhares de meteoritos para a Terra para vender chapéus-de-chuva. Nunca se sabe onde podem cair e qual o efeito dos chapéus-de-chuva. Lembro que, quando havia o vírus pelo mundo (já no surto pandémico) muita gente dizia que só os governadores e os mais ricos tinham a vacina e quando ela finalmente surgiu passaram a dizer que a vacina era um veneno (e já escrevi sobre o tema no AstroPT, obviamente que isto é um caso de crime público porque é uma contra-promoção de saúde pública). Perante um vírus mutável e com uma estirpe que causou milhões de mortes em 1918 a comunidade científica optou por vacinar grande parte da população para uma coisa que se chama prevenção. É normal em pseudo-ciência não haver a prevenção pois não há perigo. Nunca ninguém teve problemas em beber água ou ingerir farinha.

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