“São apenas 28 neutrinos, mas a mera existência destes “mensageiros do Universo”, vindos dos confins da nossa galáxia e além, inaugura uma nova era da astronomia.
Após quase meio século de tentativas, uma colaboração científica internacional detectou pela primeira vez, graças a um “telescópio” construído nas profundezas de um glaciar na Antárctida, 28 neutrinos de altíssima energia vindos de fora do nosso sistema solar. Os resultados desta façanha científica – e técnica – são publicados na revista Science com data desta sexta-feira.
“É gratificante termos finalmente conseguido ver o que estivemos a procurar este tempo todo. Este é o amanhecer de uma nova era da astronomia”
(…)
Os neutrinos são partículas subatómicas muito estranhas. A cada segundo que passa, milhares de milhões de neutrinos atravessam cada centímetro quadrado da Terra, mas tudo para eles é “transparente”. Quase sem massa e desprovidos de carga eléctrica, os neutrinos interagem muitíssimo raramente com a matéria e não são desviados da sua trajectória pelos campos electromagnéticos.
A esmagadora maioria dos neutrinos que passam por nós é gerada na atmosfera terrestre ou no Sol. Fora do sistema solar, apenas foram detectados, em 1987, neutrinos vindos de uma supernova próxima. Mas os neutrinos agora registados pelo IceCube são diferentes, porque a sua energia é muitíssimo mais elevada. Pensa-se que foram criados no interior de “aceleradores cósmicos” tais como buracos negros, pulsares, núcleos galácticos activos e outros fenómenos cósmicos extremos.
Quanto ao IceCube, como o seu nome indica, não é nem mais nem menos do que um cubo de gelo. Com um quilómetro de lado, situado a uma profundidade de 1500 e 2500 metros nos gelos eternos do Pólo Sul, contém 5160 detectores ópticos que foram inseridos furando o gelo com jactos de água quente – e que, suspensos de 86 cabos de aço à razão de 60 detectores por cabo, formam uma rede tridimensional subterrânea. Os detectores são sensíveis aos ténues impulsos de luz azul gerados pelas interacções dos neutrinos com o gelo. (…)”
Este é um artigo da jornalista Ana Gerschenfeld no jornal Público, que podem ler na totalidade, aqui.
Esta descoberta foi reportada em Maio deste ano, sendo que o artigo científico saiu hoje na revista científica Science.
6 comentários
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Oi sou leigo no assunto, mas curto mto seu blog. Poderia explicar pq será o início duma nova era da astronomia e o q da pra fazer com esses nutrimos detectados!?. Tipo, pq serve essa descoberta? Abraços e sucesso!
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http://www.astropt.org/2013/05/20/o-icecube-neutrino-observatory-relata-a-primeira-evidencia-de-neutrinos-de-alta-energia-extraterrestres/
“Porque raramente interagem com a matéria e não são influenciados pela força gravítica, os neutrinos podem carregar informações sobre o funcionamento dos fenómenos de maior energia e mais distantes do universo. ”
abraços!
Carlos, o primeiro artigo que li sobre a Matéria Escura citava o Neutrino no grupo das WIMPs, junto com as partículas da supersimetria (fotinos (alter-egos supersimétricos dos fótons) e gravitinos (alter-egos supersimétricos dos grávitons) – ambas são teóricas, existentes só na teoria da supersimetria).
Eu gostaria de entender porque os neutrinos, partículas que já sabemos que existe, já sabemos que tem alguma massa e é muito abundante e borbulha de todos os cantos do Universo para todos os cantos desse Universo – foi meio que abandonado ou pelo menos é pouco citado para explicar a Matéria Escura do Universo.
Abraços.
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Antes que eu diga asneiras, chamei o Manel que tem mais conhecimento de física de partículas que eu 😉
Olá Jonatas, deverá haver aí uma pequena confusão entre neutrinos e os hipotéticos neutralinos, que estão propostos na hypothesis da Supersimetria (Susy). Serão 4 partículas (+ as suas 4 anti-partículas) das quais a mais leve ( e mais estável) se destaca como candidata a explicar a actual matéria-escura num Universo frio. Seria o decaimento desta hipotética partícula que veríamos hoje, indirectamente, como matéria-escura.
Como se a matéria-escura de hoje fosse um fóssil do decaimento desse neutralino.
Este candidato , o Ñ|0|1, será um WIMP e será um fermião de majorama, com spin do dobro dum fermião, logo um spin inteiro de bosão.
Abraço.
Manel, fantástica explicação, ao mesmo tempo que esclareceu despertou-me muito mais curiosidade, hehe. Você teria alguns artigos seus, incluindo aqui mesmo no AstroPT, falando mais desse assunto?
Abraços, obrigado.
[…] si fica a cerca de 1,6 km abaixo da superfície do continente gelado, e revelou no início de 2013, 28 neutrinos tão energizados que só podem mesmo ter vindo de fora do Sistema Solar. Dois deles possuem uma carga tão elevada […]