No final de Setembro passado, a comunicação social portuguesa dava conta da suposta descoberta de uma pirâmide submersa nos Açores, entre a ilha Terceira e a ilha de S.Miguel.
Com 60 metros de altura e com 8 mil metros quadrados de base, tinha sido detectada por aparelhos de navegação de um velejador português quando andava à procura de sítio para pescar.
Com um sonar GPSMAP 520, ele calculou que o topo da pirâmide estaria a 40 metros de distância da superfície.
Imediatamente se especulou que poderiam ser evidências de ruínas da Atlântida, e pronto, a partir daí, o sensacionalismo galopante imperou em todo o lado, fosse na internet fosse na comunicação social (em que os jornalistas deveriam ter o dever de não enganar a população com especulações da treta).
Até se colocou em dúvida a história dos Açores! Só porque alguém detectou uma figura geométrica normal abaixo do nível do mar. Enfim…
Veja-se a reportagem da RTP:
Note-se desde já algumas incongruências:
– ele *acredita* que é X ou Y. Ou seja, é uma crença e não evidências factuais.
– ele alega que é uma “pirâmide perfeita” alinhada Norte-Sul, como se existissem “significados ocultos” (ser feito por humanos).
– não *acredita* que tenha origem natural.
– o sonar GPSMAP 520 é de baixa resolução, extrapola as medidas sem grande precisão, e utiliza linhas rectas quando deveriam ser curvas.
– o resto é pareidolia. A pessoa vê aquilo que quer ver. Olha-se para uma nuvem e vê-se um coelho no céu. Olha-se para linhas rectas num sonar de baixa resolução e vê-se uma pirâmide que certamente só poderia ser feita por deuses extraterrestres quando construíram a Atlântida.
– em nenhum momento desta reportagem, investigadores portugueses nos Açores são convidados pela RTP (ou por outra comunicação social) para transmitirem o seu conhecimento sobre esse assunto. Simplesmente, encontra-se alguém que não é especialista no assunto, dá-se tempo de antena, e promove-se o sensacionalismo das suas crenças pessoais.
Semanas depois, a Marinha explica tudo com base em evidências de um levantamento hidrográfico (com instrumentos de maior precisão).
O que existe é uma cordilheira montanhosa, obviamente tendo uma causa natural.
O Instituto Hidrográfico afirmou também num comunicado público que “nos modelos batimétricos gerados não é visível qualquer estrutura com a profundidade mínima de 40 metros, registando-se nessa posição profundidades da ordem dos 540 metros”.
Ou seja, como sempre, a realidade da natureza foi superior às crenças pessoais.
Vejam a cadeia montanhosa:
A Marinha também disponibilizou um vídeo com imagens de alta resolução do fundo do mar na zona em causa (chamada banco D. João de Castro). Podem vê-lo, aqui.
Uma imagem simplificadora de aspectos do relevo submarino (certamente que podem incutir pareidolia):
As minhas questões são:
Porque antes de se enganar os leitores e espectadores com especulações sem sentido baseadas em crenças pessoais, não se pergunta aos especialistas?
Porque não se pesquisa sobre o assunto?
Porque se dá credibilidade a opiniões pessoais e não ao conhecimento já existente sobre esse assunto?
Ao ignorarem as investigações já feitas por especialistas no local, preferindo o sensacionalismo, promoveram tretas infundadas.
Nós temos portugueses altamente qualificados a pesquisar o fundo do mar com sondas bastante avançadas.
A comunicação social ignorou-os, ignorou a ciência e os cientistas, ignorou o trabalho científico feito por cientistas portugueses especialistas neste assunto, para promover a ignorância e o sensacionalismo.
A comunicação social contribui para uma diminuição da literacia funcional na população ao dar “megafones” a fantasias.
Mesmo após darem a resposta com base no conhecimento dos especialistas, o mal já estava feito: a mentira divulga-se muito mais que a verdade. A treta da suposta pirâmide foi muito mais publicitada que a noção de que são somente montanhas naturais submersas a muito maior profundidade do que o erro inicial do velejador.
Como diz este artigo:
“Creio que está na hora de começarmos a esboçar um 11º Mandamento, este destinado a jornalistas que relatam ciência:
Não anunciarás “descobertas” mirabolantes sem que estas tenham sido validadas pela comunidade de especialistas.”
7 comentários
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Historia——————-é bem aceite qualquer especulação sobre a hipotese de ja ter havido por aqui que nos tenha antecido———————–contudo, ate agora ,nada de versonibel parece ter sido encontrado
Estou a lembrar-me da ilha da Pascoa que foi encontrada sem ninguém, mas certamente alguém la esteve antes do dia do achado, não restam quaisquer dúvidas ..
Eduardo Santos
Coimbra
Não é uma civilização, mas é uma das descobertas submarinas, mais surpreendentes. A 40 milhas da costa da Virgínia, EUA:
http://www.youtube.com/watch?v=pY01NjND1jc
Abraços
Mudando de assunto, mas não de tema …The Oscar goes to…
http://www.youtube.com/watch?v=uzJi2KcTnf8#t=47
Tem muitas formações naturais que se parecem muito com pirâmides;
Mas também não podemos duvidas que existam uma ou outra evidência de civilizações antigas submersas.
A pouco tempo se achou uma cidade afundada no Egito.
E tem gente que fala que achou até os “Jardins suspensos da Babilônia”
http://noticias.terra.com.br/ciencia/pesquisadora-diz-ter-localizado-jardins-suspensos-da-babilonia,3b7ad0da51a82410VgnVCM10000098cceb0aRCRD.html
Outra coisa interessante, é sobre as recentes descobertas a respeito do Antropologia.
Houve uma verdadeira revolução nesta área, que em 2013 se reescreve praticamente tudo a respeito da formação da humanidade primitivamente.
Resumindo, a humanidade é a mesma dos últimos quase 2 milhões de anos para cá.
Ou seja a nossa capacidade cerebral para formar civilizações é muito mais antiga doq pensávamos.
Portanto poderemos ainda encontrar muitas civilizações antigas e pode ser que a humanidade tenha passado por várias fazes de aumento da civilização e decaimento.
Author
Não conheço nenhuma evidência de civilização antiga submersa.
Investigadores acharem ou dizerem algo nos jornais é irrelevante. Têm que provar.
Não vi qualquer reescrita da história da Humanidade.
abraços
Acho que exagerei quanto as descobertas recentes da antropologia.
E não falei em civilizações exclusivamente submarinas.
São “nossas” cidades mesmo que acabaram ficando subersas
Também tiveram de provar que o planeta não era plano! 🙂
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