Movimento Anti-Vacinação está a ganhar a batalha contra a Humanidade

Ler algumas opiniões na internet não é considerado fazer-se pesquisa. A ciência já não funciona dessa forma desde a Idade Média.

Ler algumas opiniões na internet não é considerado fazer-se pesquisa. A ciência já não funciona dessa forma desde a Idade Média.

Suponha que o sr. A tem um filho chamado Joãozinho. O sr. A leva o Joãozinho para o infantário. Todas as 200 crianças no infantário estão vacinadas, incluindo as 20 crianças que pertencem à mesma turma do Joãozinho.

O sr. A é contra as vacinas. Sem qualquer evidência – a não ser websites conspiradores que encontra na internet e o que ouve de celebridades que nada entendem de medicina – o sr. A opina (sem entender que os factos não dependem de opiniões pessoais) que as vacinas podem matar o seu Joãozinho. Por isso, tem medo. Um medo irracional, sem evidências, mas mesmo assim é medo.
Por isso, decide não vacinar o seu filho Joãozinho.

O Joãozinho frequenta o infantário durante 1 ano. Nunca teve problemas de saúde. O sr. A atribui isso a não ter vacinado o seu filho. O sr. A “esquece-se” que 199 alunos do infantário também não tiveram qualquer doença, e no entanto foram vacinados.

No entanto, o Zézinho, que também anda no mesmo infantário, começou a ter uma forte gripe durante um fim-de-semana fora com os pais. O sr. A atribui isso ao Zézinho ter sido vacinado antes do fim-de-semana (sem entender que causalidade, correlação, e nenhuma causa direta entre fenómenos chegados no tempo são coisas diferentes).

O sr. A gaba-se que o seu Joãozinho não teve qualquer doença e nem foi vacinado. O sr. A gaba-se que, ao contrário de todos os outros pais de alunos do infantário, decidiu “pensar por ele próprio”. O sr. A “esquece-se” que “pensar por si próprio” não é seguir crenças de net sem evidências. O sr. A “esquece-se” que “pensar por si próprio” não é tomar decisões sem ter a informação credível sobre o assunto. E, sobretudo, o sr. A “esquece-se” que o seu filho não teve qualquer problema porque esteve no meio de outras crianças sem problemas – desta forma, nenhum outro miúdo poderia contagiar o seu filho (chama-se a isto Imunidade de Grupo, que o Joãozinho, mesmo sem se vacinar, teve direito porque todos os seus colegas se vacinaram – ou seja, ele beneficia das vantagens dos outros).

Assim, o sr. A resolve convencer o sr. B e depois o sr. C, que os filhos destes também não deviam ser “sujeitos” às vacinas. Estes 3 pais resolvem posteriormente convencer mais 6 pais, que posteriormente convencem mais 12 pais. Ao fim de um mês, dos 200 alunos do infantário, cerca de metade não foram vacinados.

O Luisinho, filho do sr. B, foi uma das crianças não vacinadas. Na brincadeira com um amigo seu vizinho, o Luisinho apanha sarampo. No dia seguinte vai para a escola. Está numa turma com 8 crianças vacinadas e 12 não-vacinadas. As 12 crianças não-vacinadas também apanham sarampo. Rapidamente elas espalham ao resto das crianças não-vacinadas no infantário. E posteriormente a todas as suas vizinhas da sua casa, com quem brincam, mas que também não foram vacinadas pela crença do sr. A. E até contagiam as crianças não-vacinadas com quem brincam no parque. De repente temos um surto de uma doença que já tinha sido erradicada em países de 1º mundo que têm um plano de vacinação nacional.

Devido a este surto, temos algumas dezenas de crianças a morrer. Outras sobrevivem devido aos cuidados médicos (médicos esses que os irresponsáveis pais não quiseram ouvir de início). O sr. A limpa as mãos e diz que não tem qualquer responsabilidade no assunto…

(leiam agora a mesma história, mas em vez do Luisinho, temos o Huguinho, filho do sr. C, que apanhou tosse convulsa desta forma. E seguidamente, leiam a mesma história, mas coloquem outra criança que apanhe uma outra doença contagiosa para a qual existe vacina)

Perceberam toda a história?
Parece-vos demasiado rebuscada, fantástica, ficcionada?

Pois é isto que tem acontecido nos EUA, onde celebridades sem nada entenderem de medicina têm feito uma tal campanha contra as vacinas, que as pessoas com mais falta de pensamento crítico têm caído na esparrela.
E quais são as consequências?

“Movimento “antivacina” gera onda de doenças nos Estados Unidos (…).
O chamado movimento “antivacina” que se regista nos Estados Unidos há alguns anos, caracterizado pelo facto dos pais se recusarem a vacinar os filhos por temerem efeitos colaterais, tem-se repercutido na saúde dos norte-americanos, de acordo com especialistas.
Surtos de doenças como o sarampo, papeira e tosse convulsa, normalmente associadas a países empobrecidos da África, Ásia ou América do Sul, têm-se feito sentir em maior número de casos naquele país.
Só no ano passado, registaram-se mais de 24 mil casos de tosse convulsa, 438 casos de papeira e 189 de sarampo, doenças para as quais existe vacinação disponível. Os números chegam a ser mais altos do que taxas de incidência de 1955, alertam os cientistas.
Estes últimos casos “estão relacionados com o movimento antivacina” (…)”
Leiam no Sapo – Saúde, e na BBC.

Neste momento, o surto de sarampo está já tão alarmante que se tornou numa crise de saúde pública!

As pessoas “esquecem-se” que as vacinas existem precisamente para não termos mais este surto de doenças, que eram comuns no passado.

Neste artigo, já explicamos como uma fraude deu início ao movimento anti-vacinação.

Penn & Teller também explicaram o porquê da vacinação… salvar:

Deixo-vos agora alguns cartoons divulgados pela página Refutations to Anti-Vaccine Memes:

refutations

dismiss

aviation school

ignorance

Como diz este cartoon, infelizmente ainda não existe vacina contra a ignorância…

Por fim, deixo os números que a Fundação Bill Gates tem conseguido ao promover a vacinação em populações de países menos desenvolvidos (que os EUA).
Na Índia, 2,5 bilhões (americanos) de dólares foram investidos em campanhas para erradicar a poliomielite – motivo de enorme mortalidade infantil. 170 milhões de crianças foram vacinadas desde que a campanha começou. 99% do território indiano foi abençoado com esta campanha. Há 3 anos que não existe qualquer caso de poliomielite na Índia.

polio

16 comentários

6 pings

Passar directamente para o formulário dos comentários,

    • leonardo diamante on 02/02/2016 at 17:03
    • Responder

    Aqui no Brasil não vacinar os filhos pode dar multa por negligencia, alem de o individuo que não vacinou seus filhos perder diversos beneficios sociais promovidos pelo governo federal,o governo brasileiro tem uma forte campanha de vacinação feita de forma gratuita no pais inteiro com vacinas para a praticamente todas as doença infectocontagiosas graves(incluindo poliomelite e sarampo que estão erradicados daqui há varios anos)

  1. Não deixe de ler o post……http://adorandonanet.blogspot.com.br/2014/09/texto-usando-um-episodio-da-serie-law.html

    Episódio 19: SELFISH da 10ª temporada da serie LAW & ORDER: SPECIAL VICTIMS UNIT…
    Trecho copiado do link:
    http://teleseries.uol.com.br/review-law-order-special-victims-unit-selfish/
    “Selfish foi um desses episódios que viram de cabeça para baixo completamente em sua segunda metade, trazendo temas inimagináveis a princípio. Afinal, o que começou como um caso de ocultação de cadáver por uma mãe adolescente irresponsável se transformou num pânico em massa envolvendo uma epidemia de sarampo que pôs na mesa mais uma daquelas discussões ‘Cidadão versus Estado’ que são marcas registradas da franquia Lei & Ordem: até que ponto temos o direito de fazer escolhas sem sermos censurados pela sociedade? No caso da mãe que decidiu não vacinar seu filho e acabou infectando outras pessoas da área e levando à morte um bebê (…) [diz o personagem Elliot à ré:]
    Se ela quiser morar com seu filho numa cabana isolada no meio de uma floresta, ela pode estipular as regras que quiser. Mas quando se vive em sociedade, certas regras são fundamentais para uma convivência menos caótica.” [Diz o personagem…]

  2. Law and Order SVU chegou a ter um episódio (não sei se tiveram mais) onde tratam justamente disso, um menino não vacinado numa escola, porque a mãe não confiava em vacinas e que acabou matando um coleguinha. A mãe acabou sendo acusada de assassinato, pois sua atitude negligente contra algo comprovado pela ciência levou à morte de outra criança e à infecção de várias outras.

    Mesmo adulta, eu tenho minha carteira de vacinação em dia. Fui num posto de saúde e pedi que a enfermeira atualizasse todas elas. E no hospital cheguei a tomar contra meningite depois de uma complicação em uma cirurgia.

    Pessoas que negam as vacinas não percebem que são vítimas de obscurantismo. É ter uma amostra grátis de Idade Média em pleno século XXI. 🙁

    • lucy von beust on 17/06/2014 at 04:01
    • Responder

    Uma tristeza,aqui no brasil temos vacinacao gratuita contra diversas doencas,lembro de ser vacinada contra meningite na escola (qto tempo hehe) A primeira tirinha da materia e uma verdade medonha 🙁

  3. olá

    obrigado marco pelos esclarecimentos
    tinha quase a certeza que no meu tempo (tenho 42 anos) a vacinação infantil era obrigatória, senão não fazia sentido pedirem o boletim de vacinas actualizado e segundo o decreto lei que referiste ainda está em vigor logo devia haver algum tipo de controlo, não?

    sobre a amniocentese, não referi, mas o meu comentário foi mesmo sobre o grupo etário acima dos 35 anos e aconselhadas a fazer o exame pelos medicos, claro que não faz sentido fazer um exame só pq os pais o querem, mas acho que “ansiedade” que referes, comparada com o risco de uma criança nascer com problemas genéticos não é assim tão relevante.
    é preciso não esquecer que devido a varios factores cada vez mais tarde as mulheres decidem engravidar, e acho que continua a haver um “medo” infundado sobre este tipo de exames.
    falo por experiência própria, quando referi a várias pessoas que a mãe da minha filha foi aconselhada a fazer o exame (tem a minha idade), todas as opiniões foram do género, cuidado, é um exame perigoso, vão enfiar uma agulha na barriga, há muitos abortos devido a esse exame, etc, etc…….e bastou pesquisar um pouco sobre o assunto e perdi qualquer tipo de receio.
    e sinceramente não sentimos qualquer tipo de ansiedade por os resultados demorarem tempo….já não me recordo, mas quando a miuda nasceu, os resultados da “doença dos pezinhos???” tb demoraram 3 semanas.
    (achei interessante que para realizar este exame, deslocou-se uma enfermeira do centro de saude à minha residência, para o efectuar, e no fim deu-me um código para consultar o resultado numa página web.)

    acho que cada um tem o direito de fazer o que quiser com a sua vida ou dos seus, não tem é o direito de meter as vidas de terceiros em risco, e é isso que me assusta como pai.

    abraços a todos
    z.

  4. É muito simples, se são comprovadamente ignorantes e não querem não querem ser vacinados, não sejam, o que eles não podem fazer é obrigar que todos não se vacinem.

    Se não querem ser vacinados, em contrapartida:

    — que assumam todos os custos com os filhos doentes, os hospitais, os médicos, o acompanhamento de paralíticos, etc. Aposto que se fosse feita uma lei obrigando a quem tomou a decisão irresponsável de não vacinar os filhos de arcar com todos os custos financeiros e as seguradoras, livrando o Estado e nossos impostos de pagarem esses custos, muitos desses diriam.. “hei, não é bem assim”.

    — a seleção natural vai fazer um bom trabalho ao eliminar os genes descendentes dos que valorizam a ignorância, é uma pena que os inocentes que morrerem ou sofrerem não terão culpa nem escolha.

  5. mesmo em portugal conheço vários casos de pais que não vacinam os filhos, e por ter sido pai a pouco tempo, abordei essa questão com a pediatra, e fiquei incrédulo quando ela me confirmou que actualmente é bastante comum.
    deixou de ser obrigatório ter o boletim de vacinas em dia para se poder matricular em qualquer estabelecimento de ensino?
    a mim tanto no liceu como na universidade foi sempre obrigatório, as regras mudaram?
    se no futuro conhecer algum caso desses na escola onde a minha filha possa andar à meios de denunciar às autoridades?

    outra questão que a pediatra referiu e ainda me deixou mais alarmado, foi a redução extrema de amniocenteses (exame para detectar anomalias cromossómicas ) e por conseguinte o aumento de nascimentos com mal deformações
    (gostava de saber se foi apenas uma análise pessoal da médica ou se há estudos que o comprovem)

    na altura tb fiquei asustado quando aconselharam este exame, mas bastou ler um pouco sobre o assunto para tirar quaisquer duvidas ou receios infundados que tinha, tb sempre foi referido que é um acto médico bastante simples quando feito por uma pessoa com bastante prática e experiencia profissional.

    mas vir a saber depois que a pessoa que realizou este exame à 4 meses não fazia nenhuma amniocentese devido à baixa procura do mesmo, é bastante preocupante, e estamos a falar de um hospital publico em Lisboa!

    já pensei várias vezes se não estamos a entrar noutra idade média……….

    abraços e continuação do bom trabalho de divulgação.

    1. A vacinação infantil em Portugal não é obrigatória. A mim também me pediam sempre o boletim de vacinação, mas já no meu tempo não era obrigatório vacinar (tenho 26 anos). Se quer a minha opinião, os adultos são livres de fazer o que quiserem, se mesmo tendo acesso à informação decidem tomar más decisões não se pode fazer nada. No caso das crianças contudo, para mim é um acto de negligência grosseira. Agora, se fazer queixa às autoridades adianta alguma coisa, provavelmente não, já que a vacinação não é obrigatória. Há inclusive, e foi noticiado há pouco tempo, pais que fazem festas da varicela para exporem os seus filhos ao vírus! Veja-se o nível de irresponsabilidade! Acho que há filhos que são tirados aos pais por razões bem menos graves, mas normalmente não pertencem à classe média alta, que são os que mais gostam de aderir a estes disparates… A lei actual é o resultado directo do sucesso das vacinas, se os níveis de vacinação continuarem a baixar, e voltarmos a ter surtos de doenças já erradicadas no nosso país (mas não em outros países dos quais recebemos emigrantes), não me admirava que a questão da obrigatoriedade tivesse de ser revista.

      Em relação à amniocentese as coisas já não são assim tão simples, primeiro estamos a falar de um exame evasivo, segundo, é um exame que pode criar ansiedade na grávida pois em alguns casos a espera dos resultados pode demorar semanas (primeiro as células têm de crescer em laboratório e só quando existirem em número suficiente é que são analisadas), por isso as boas práticas ditam que seja feito apenas quando existem boas razões para isso e não apenas por o casal querer fazer. Sinceramente não estou ao corrente dos números em Portugal, mas visto o meu estágio de mestrado ter sido num laboratório onde se analisam amostras das amniocenteses, posso-lhe dizer que normalmente esse exame só é pedido se existir na família um historial de doenças genéticas, se outros exames (como uma ecografia) levantarem suspeitas ou se a grávidas tiverem acima de 35 anos (o risco de trissomia 21 aumenta com a idade).

      Abraço

    2. Correcção: Segundo o decreto de lei nº44198 de 1962 a vacinação contra o tétano e a difteria é mesmo obrigatória, inclusive para a matricula nas escolas ou desempenho de cargos públicos. Para as outras vacinas basta assinar um termo de responsabilidade para as poder recusar. Até que ponto a lei a cumprida isso é uma coisa que já não sei…

      Mais info da ordem dos enfermeiros: http://www.ordemenfermeiros.pt/documentos/Documents/Parecer%2011_MCEESIP.pdf

  6. Pena que essa estupidez mate os inocentes, e não os dementes

    • Jorge Almeida on 23/03/2014 at 01:09
    • Responder

    Americans…

    1. Não Jorge… infelizmente, tens tido movimentos similares e resultados similares no Reino Unido e Espanha… 🙁

  7. LOL, o grande problema é que o fato de se estar vivo já implica em risco de morrer, isso os TdCs não falam hehehe. Também não ensinam que a melhor forma de evitar o envelhecimento precoce é parando de respirar, alguém aí se candidata?

    1. Ia para perguntar o que eram os TdCs…

      Mas após pensar durante 5 minutos… penso que cheguei à resposta: Teóricos da Conspiração, né? 😛

        • Bruno on 23/03/2014 at 02:14

        Isso!!! rsrsrs 🙂

      1. custou… mas cheguei lá 😛 rsrsrsrsrsrs 😀

  1. […] meu segundo ponto é que com vacinas estamos a falar de imunidade de grupo e de saúde pública. A segurança coletiva depende de elevadas taxas de vacinação. O direito que […]

  2. […] li quase exatamente a mesma argumentação em relação ao movimento antivacinação. Mais uma vez, não sei como está a situação atual no Brasil, mas ao redor do mundo o movimento […]

  3. […] dos profissionais da informação e da educação, à ciência ser bastante mal tratada, a surtos de doenças devido ao poder dos vigaristas na informação, a crises económicas mundiais, entre diversas outras consequências. Uma coisa é […]

  4. […] Por isso, aplaudo a BBC, não só por finalmente entender isso, mas até por começar um programa de formação aos seus jornalistas (coordenadores) de modo a que eles parem de convidar vigaristas! Os jornalistas devem parar de ser coniventes com as vigarices, devem parar de fomentar as mentiras, e têm que deixar de ser promotores de crimes contra a Humanidade! […]

  5. […] neste artigo dissertei sobre o Movimento Anti-Vacinação estar a ganhar a batalha contra a […]

  6. […] Empty Force. Terapias Alternativas. Leitura de sina. Polícia. Presas. Burlas. Violada. Parvalhão. Movimento Anti-Vacinação (fraude). Graviola (cancro, comentários). Intuitos. Depois da Vida. Telecinética. Terra Plana. […]

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.