Iliteracia Americana?

Foi realizado um inquérito pela Universidade Estadual de Michigan, nos Estados Unidos, a 2.200 americanos. As 9 perguntas versavam temas da física (incluindo astrofísica) e da biologia.

Mais de 90% norte-americanos questionados declararam que os cientistas trabalham para o bem da Humanidade, considerando que os benefícios da ciência ultrapassam os perigos do seu desenvolvimento.
74% sabe que a Terra orbita o Sol (daí que 1 em cada 4 americanos não o saibam).
60% dos americanos já visitaram um jardim zoológico, um oceanário, um museu de história natural ou um museu de ciência.
48% sabe que humanos e macacos têm um antepassado comum (ou seja, mais de metade não o sabem).
45% acredita que a astrologia é uma ciência, sendo que a percentagem maior foi entre jovens (18 a 24 anos). Curiosamente, na China, 92% dos chineses dizem que a astrologia é uma vigarice.
39% sabe que o Universo começou no Big Bang.
33% considera que a ciência deveria ser mais financiada.

Apesar de alguns valores parecerem baixos, parece-me que tem estado a melhorar…

Outros valores sobem e descem consoante os anos, e, penso eu, dependente dos estudos.

Leiam no jornal Público e Discovery News.

Após vos dar os dados, deixem-me agora analisar 4 coisas.

A primeira é que as perguntas do inquérito me parecem mal feitas.
Por exemplo, a pergunta: O Universo começou numa grande explosão? Eu responderia que não. Porque o Big Bang não foi uma grande explosão, na definição de explosão. No entanto, eles assumiram que quem disse que não, é porque não concordava com a Teoria do Big Bang.
Por outro lado, nós não evoluímos dos macacos. Essa é uma conceção errada da evolução. Mas a partir dessa conceção errada, foi assumido que as pessoas que responderam que não, não concordavam com a Teoria da Evolução.

Por outro lado, tudo que pareça mal que venha dos EUA tem uma grande repercussão mediática e nas redes sociais. Se algum destes valores fosse em Portugal, certamente que a imprensa americana não quereria saber nada disso. No entanto, se é um valor americano, então a imprensa portuguesa (e não só) dá-lhe logo grande relevância.

Em terceiro lugar, esta notícia foi vendida na comunicação social e nas redes sociais desta forma: “1 em 4 americanos não sabe que a Terra orbita o Sol”. Poderia também ser vendida desta forma: “3 em 4 americanos sabe que a Terra orbita o Sol”. Ou até poderia ter como título: “Quase todos os americanos apoiam a ciência e consideram-na como benéfica”.
Mas enfim, os títulos sensacionalistas a dizer mal dos EUA “vendem” mais (despertam mais curiosidade nas pessoas)…

Por fim, deixem-me comparar alguns destes valores com Portugal, Brasil e outros países.

Segundo um estudo de Miller (Miller, J. D. (2006), Civic Scientific Literacy in Europe and the United States. World Association for Public Opinion Research, Montreal, Canada), esta é a percentagem de pessoas cientificamente literadas em cada país:

Note-se isto quer dizer que somente 6% de pessoas em Portugal consegue entender um artigo de ciência no jornal Público, por exemplo, ou um dos nossos artigos no AstroPT… como este. Ou seja, 94 pessoas em cada 100 não o entendem.

Veja-se também os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA):

O Brasil não aparece nos 30 primeiros. Já Portugal aparece timidamente em 27º na secção de leitura.

E se nos concentrarmos ainda mais em literacia e não só em decorar conteúdo, então vejamos:

Portugal e Brasil fazem quase o pleno de estarem na secção inferior dos gráficos.
Curiosamente, os EUA estão sempre acima de nós.

Claro que o melhor seria sermos a Finlândia, a China, o Canadá, a Austrália, ou a China.
E deveria ser com esses países que nos deveríamos comparar, de modo a aspirarmos ser melhores.
Não é certamente a apontar o dedo a outros que têm problemas similares aos nossos que evoluiremos…