Habitabilidade: O caso das estrelas mais quentes da classe F

Gráfico plota o tamanho das zonas habitáveis (em verde) para as diversas classes de estrelas da sequência principal. Crédito: PHL @ UPR Arecibo

Gráfico plota o tamanho das zonas habitáveis (em verde) para as diversas classes de estrelas da sequência principal. Crédito: PHL @ UPR Arecibo

Quando se trata de planetas habitáveis​​, nos focamos naturalmente em estrelas como o nosso Sol. Mas, cada vez mais atenção tem sido dada para estrelas menores e mais frias do que o Sol. Anãs vermelhas de classe M têm zonas habitáveis próprias diminutas mas interessantes e certas vantagens quando se trata de detetar planetas terrestres. As estrelas anãs laranjas, classe K, também são notáveis, com um candidato de destaque, Alpha Centauri B, existente no nosso quintal estelar. O que não se examinou até agora com a mesma intensidade, porém, são as estrelas um pouco mais massivas e quentes do que o Sol e agora um novo trabalho sugere que isso é uma falha…

Manfred Cuntz (Universidade do Texas em Arlington), trabalhando com o estudante de graduação Satoko Sato, tem liderado um trabalho que estuda as estrelas de classe F. Os cientistas pensam que este tipo é em geral problemático para sustentar a vida por causa dos altos níveis de radiação ultravioleta que as estrelas classe F emitem. Junto com pesquisadores da Universidade de Guanajuato (México), Cuntz e Sato sugerem que devemos dar uma olhada mais de perto nas estrelas F, especialmente considerando que elas oferecem uma zona habitável muito mais ampla onde os exoplanetas que sustentam a vida poderiam florescer.

Cuntz acha que trata-se de um caso forte:

Os sistemas solares com estrelas tipo F não são habitats sem esperança. Há uma lacuna na atenção da comunidade científica quando se trata do conhecimento sobre as estrelas classe F e é isso que nossa pesquisa está trabalhando para preencher. Pensamos que elas podem de facto ser um bom lugar para procurar planetas habitáveis.

A amplitude da zona habitável (região verde) como visualizada em torno de diferentes tipos de estrela. Quanto mais quente (de baixo para cima no desenho), mais larga é a área habitável. Crédito: NASA

A amplitude da zona habitável (região verde) como visualizada em torno de diferentes tipos de estrela. Quanto mais quente (de baixo para cima no desenho), mais larga é a área habitável. Crédito: NASA

O artigo publicado no International Journal of Astrobiology defende este argumento com base em seus estudos sobre os danos que a radiação ultravioleta poderia causar nas macromoléculas necessárias para a vida baseada em carbono, a “vida como a conhecemos”. Os cientistas estimaram o dano que caberia ao DNA em planetas em sistemas estelares da classe F ao realizar diversos cálculos sobre o comportamento destas estrelas em vários pontos na sua evolução. Planetas nas regiões ultra periféricas da zona habitável experimentariam níveis muito mais baixos de radiação ultravioleta.

Este comunicado à imprensa da UT- Arlington cita o artigo:

Nosso estudo é uma contribuição adicional para a exploração da adequação exobiológica de estrelas mais quentes e, por implicação, mais massivas que o Sol … pelo menos nas partes exteriores das zonas habitáveis ​​de uma estrela F, a radiação UV não deve ser vista como um intransponível impedimento à existência e evolução da vida.

As estrelas mais quentes classe F representam 3% das estrelas na Via Láctea, em comparação com as da classe G (anãs amarelas tipo Sol) que respondem por cerca de 7% e as de classe K (anãs laranjas) em cerca de 12%. E depois há as anãs vermelhas, classe M, que representam mais de 75% de todas as estrelas da sequência principal. Em qualquer caso, quanto mais ampliarmos as perspetivas de astrobiologia para além de estrelas como o Sol, mais endereçamos a possibilidade de uma galáxia repleta de vida, mesmo que ainda não tenhamos uma evidência direta. O que nos intriga é: Se a vida for efetivamente abundante, a inteligência seria abundante também?

O papel assinado por Sato et al., intitulado “Habitability around F-type Stars“, foi publicado em 25 de março de 2014 no International Journal of Astrobiology.

Leia também: Pode haver vida em exoplanetas que orbitam estrelas maiores que o Sol?

Fontes

Centauri Dreams: Habitability: The Case for F-Class Stars

UTA: DON’T FORGET F-TYPE STARS IN SEARCH FOR LIFE, UT ARLINGTON RESEARCHERS SAY

Artigo científico

Habitability around F-type Stars

._._.

4 comentários

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  1. toda a estrela tem uma zona habitavel se tiver planetas nessa sona habitavel vale a pena explorar qualquer estrela

  2. eu acho que venus seria habitavel se nao fosse gases do efeito estufa e marte tanbem seria habitavel se nao fosse tao pouco gases do efeito estufa entao acho que deviao aumentar um pouco mais essa sona habitavel e considerar mais a atmosfera do planeta

    • Samuel Junior on 02/04/2014 at 23:00
    • Responder

    O maior problema de estrelas de classes deste tamanho não é nem a radiação na minha opinião, mas é o tempo de vida delas, bem mais curto que do nosso sol. Nosso planeta demorou 4 bilhões de anos para produzir as primeiras formas de vida com alta capacidade de raciocínio, nós, se fosse em uma estrela gigante desta acho que já estaríamos atualmente em uma fase de gigante prestes a explodir em uma supernova.

    1. Sem dúvida, Samuel, embora a vida na Terra (microbiana) tenha se estabelecido após o término do bombardeamento tardio (ver aqui: http://eternosaprendizes.com/tag/ultimo-grande-bombardeamento/ ), há 3,8 bilhões de anos, a vida complexa animal só eclodiu há 550 milhões de anos, na “explosão cambriana” (ver http://eternosaprendizes.com/2010/08/14/o-deslocamento-continental-e-suas-implicacoes-na-evolucao-da-terra/ ).

      Será mesmo que um planeta habitável precisa de 3 a 4 bilhões de anos para a vida complexa se estabelecer?

      Se for verdade então as estrelas classe F não são bons lugares para a vida animal complexa, mesmo que haja excelentes habitats planetários. As menores da classe F ficam 5 bilhões de anos (F5 em diante) na sequencia principal, mas sabemos que o último bilhão de anos é bem intenso… ou seja, a vida animal pode até surgir, mas terá muito pouco tempo para se desenvolver.

      As estrelas classe F0 (1,7 massas solares), por exemplo mal chegam aos 2,5 bilhões de anos…

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