Este artigo da revista Astrobiology é muito interessante e vai ao encontro do que tenho fortemente defendido.
O artigo pega no exemplo da recente descoberta do exoplaneta Kepler-186f, que foi tão mal divulgada na comunicação social, para fazer uma análise crítica à nomenclatura que se utiliza na astrobiologia.
O famoso Geoff Marcy – o maior descobridor de exoplanetas até à data – pede que as pessoas usem o termo “zona habitável” com muito cuidado. Este termo assume não só que estamos na presença de condições para a habitabilidade por seres terrestres, mas, ainda pior, por habitabilidade de seres humanos.
Um planeta com enxofre seria o paraíso para alguns seres que habitam na Terra atualmente, mas não para seres humanos, por isso consideraríamos esse planeta habitável? Pelas nossas definições atuais, dificilmente consideraríamos como habitável a Terra há 3 mil milhões (bilhões, no Brasil) de anos. Mas o facto é que era.
Por outro lado, Marte e Vénus estão nos limites da zona habitável. Mas não são habitados, e, mais importante, são bastante diferentes do nosso em termos de composição atmosférica.
Por fim, Europa, Titã, Encélado, etc, são locais do sistema solar fora da zona habitável em que existe alguma probabilidade de existirem condições para a vida como a conhecemos.
Assim, estar na “zona habitável”, diz pouco. O termo “habitável” é enganador.
A verdade, como diz Marcy, é que não sabemos as condições para a existência (origem e evolução) da vida no resto do Universo.
Em termos de super-Terras, Marcy refere que planetas somente 50% maiores que a Terra normalmente têm uma atmosfera acentuada de gás e uma menor densidade. Assim, são semelhantes a Neptuno. Chamar-lhes super-Terras é enganador.
No nosso sistema solar, ninguém se lembraria de dizer que Neptuno é semelhante à Terra, sendo somente um pouco maior.
A verdade é que planetas como Neptuno são diferentes da Terra em termos de gravidade, atmosfera, tamanho, massa, etc.
O melhor seria chamar mini-Neptunos ou sub-Neptunos, mas não super-Terras.
3 comentários
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Podemos ter super-terras e mini-neptunos. São classes diferentes de planetas. Um planeta com densidade próxima da da Terra mas, por exemplo, com uma vez e meia o diâmetro da Terra é uma super-terra,não um mini-neptuno. Por exemplo Corot-7b pode (eventualmente) ser um desses planetas. Por outro lado, podemos ter um planeta com, por exemplo, uma vez e meia o diâmetro da Terra, mas densidade próxima da de Neptuno e teremos um mini-neptuno.
O que é um erro é chamar super-terra ou mini-neptuno a um planeta como Kepler-186f, para o qual existe uma estimativa do diâmetro mas nada se sabe acerca da sua massa. Esta é a situação para a grande maioria dos planetas descobertos pelo Kepler.
Abraço.
Carlos, um pequeno detalhe. Se seu posicionamento pessoal é favorável ao que diz a Astrobiology, aqui no Brasil nós usamos “vai AO encontro de”. Aqui quando se usa “vai DE encontro a” é uma opinião oposta. É quase uma bobagem esse comentário, mas quem se dá conta dessas coisas aqui lê o seu texto e vê uma contradição.
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Obrigado 🙂 . Já corrigi 😉
Em Portugal provavelmente é igual.
Muitos anos fora de Portugal faz com que por vezes algumas expressões me saiam um pouco desfasadas 😉
[…] porque Zonas Habitáveis é uma expressão que deveria deixar de existir na astrobiologia. É uma expressão enganadora. Terceiro, estamos sempre a falar de “vida tal como a conhecemos”. Parece-me uma forte […]