Representação artística da Terra do Hadeano.
Crédito: Simone Marchi/SwRI.
Uma equipa de investigadores criou um novo modelo que ilustra como a superfície da Terra foi repetidamente remodelada pelo impacto de gigantescos asteróides nos seus primeiros 500 milhões de anos de existência. Baseado em recentes estimativas do fluxo de impactos na superfície da Lua, o novo modelo evidencia o efeito profundo que as colisões de asteróides tiveram na evolução da crusta terrestre durante o Hadeano. Os resultados deste trabalho foram divulgados ontem num artigo publicado na revista Nature.
Criada a partir da acreção de planetesimais, a Terra passou nos seus primórdios por uma sequência de fases de crescimento que culminou com o Bombardeamento Tardio, um período em que os planetas interiores do Sistema Solar foram periodicamente atingidos por objetos com dezenas a centenas de quilómetros de diâmetro. Os cientistas estimam que esta última fase contribui com apenas 1% da atual massa do nosso planeta, no entanto, as violentas colisões tiveram ainda assim um efeito dramático na evolução geológica da jovem Terra.
Baseados no novo modelo, os investigadores descobriram que a superfície terrestre foi sucessivamente remodelada nos seus primórdios por volumosas quantidades de rocha fundida geradas pelos violentos impactos que continuamente fustigavam o nosso planeta. Os primeiros oceanos teriam entrado repetidamente em ebulição, saturando a atmosfera com vapor de água.
Simulação mostrando a distribuição espacial e tamanho das crateras formadas na superfície da Terra nos primeiros mil milhões de anos da sua história. O diâmetro de cada círculo é proporcional ao tamanho da respectiva cratera. As cores indicam a altura em que ocorreu o impacto.
Crédito: Simone Marchi/SwRI.
“Nenhuma grande região da superfície da Terra poderia ter sobrevivido intacta aos impactos e aos seus efeitos”, afirmou o primeiro autor do trabalho, Simone Marchi. “A nova imagem da Terra do Hadeano, que emerge a partir deste trabalho, tem importantes implicações na sua habitabilidade.”
Os impactos mais violentos teriam efeitos particularmente devastadores nos ecossistemas existentes. A equipa liderada por Marchi estima que, durante os primeiros 500 milhões de anos, a Terra terá sido atingida por um a quatro objetos com mais de 960 quilómetros de diâmetro. Tais eventos teriam provocado a esterilização global do nosso planeta. No mesmo período, a superfície terrestre terá suportado ainda o impacto de 3 a 7 objetos com mais de 480 quilómetros. Estes impactos libertariam energia suficiente para vaporizar os oceanos a nível global.
“Naquela época, a separação entre as colisões maiores era suficientemente longa para permitir intervalos com condições mais clementes, pelo menos numa escala mais local”, disse Marchi. “Qualquer vida que tenha emergido durante o Hadeano, necessitaria possivelmente de ser resistente a temperaturas elevadas, e poderia ter sobrevivido a um período tão violento da história da Terra, prosperando em nichos subterrâneos profundos ou na crusta oceânica.”
Podem encontrar todos os detalhes deste trabalho aqui.
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