A Ucrânia, a Rússia, o Mundo e o Espaço

A decisão da Rússia de retaliar contra os Estados Unidos, a União Europeia (UE) e outros países que impuseram sanções por causa das actividades russas na Ucrânia não tem, neste momento e ao que parece, qualquer impacto sobre a cooperação espacial existente.

O presidente russo, Vladimir Putin, anunciou que iria impôr as suas próprias sanções em resposta às sanções impostas pela UE e pelos EUA. No passado dia 7 de Agosto foram revelados os detalhes da contra-resposta russa e verifica-se que concentra-se sobretudo no sector agrícola. Durante um ano, a Rússia vai proibir a importação de carne bovina, suína, aves, carne, peixe, queijo, leite, legumes e frutas dos Estados Unidos, União Europeia, Canadá, Austrália e Noruega. As importações de álcool dos Estados Unidos e da União Europeia não são afectadas. A Rússia planeia aumentar as importações de outros países para compensar.

A Rússia estará ainda e supostamente a considerar sanções acessórias, como a proibição de voos americanos e europeus atravessarem o espaço aéreo russo, bem como sanções para as indústrias de produção de automóveis, construção naval e de aviões, mas não há nenhuma indicação neste momento que a cooperação espacial será prejudicada.

A deterioração das relações em 2014 entre os Estados Unidos e a Rússia, depois da anexação russa da Crimeia (Ucrânia) tem gerado preocupação na comunidade política espacial por causa da dependência dos EUA em relação à Rússia para o transporte de tripulação à Estação Espacial Internacional (ISS) e ainda, por causa dos motores russos RD-180 para o veículo de lançamento US Atlas V. Os Estados Unidos emitiram sanções contra a Rússia várias vezes no passado, mas não parecem ter tido qualquer impacto negativo sobre a cooperação espacial.

Putin reclamou contra as sanções impostas pelos Estados Unidos e aliados, e advertiu que poderão ter um efeito “boomerang”. Ao anunciar as suas sanções retaliatórias, Putin afirmou: “Naturalmente, isso tem que ser feito com muita precisão, de modo a apoiar os produtores nacionais e a não prejudicar os consumidores.” Se o seu desejo de apoiar os produtores nacionais se aplica de forma ampla (e não apenas para o sector agrícola), poderá significar que tentará evitar que empresas russas sejam lesadas, como a Energomash, que produz os motores RD-180, ou as empresas que constroem e lançam o Soyuz à ISS. Contudo, os desejos de Putin não são ainda totalmente claros. A NASA paga a Rússia cerca de 450 milhões de dólares por ano para que os EUA e os outros membros da tripulação não-russos possam voar de e para a ISS. Os dois países, EUA e Rússia, operam conjuntamente a ISS.

A NASA insiste que nada mudou em relação às operações da ISS por causa das tensões geopolíticas, e o lançamento United Alliance (ULA) (que constrói e lança o Atlas V) e o seu cliente Força Aérea vieram já a público dizer que é “business as usual” com os russos . Quanto ao que a ULA paga pelos RD-180s não é público e o senador John McCain solicitou essa informação ao Departamento de Defesa, em Junho passado. Presumivelmente, no entanto, é receita que a Rússia não gostaria de abrir mão…

(artigo parcialmente traduzido daqui.)

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