Mr. Nobody lida com várias ideias interessantes:
– a hipótese do multiverso,
– a hipotética existência de realidades paralelas,
– o possível Big Crunch,
– a Teoria do Caos,
– a Teoria das Cordas,
– o Gato de Schrödinger,
– a entropia,
– o efeito borboleta (uma simples escolha/ação poder causar diferentes consequências),
– a consciência,
– a suposta existência de um Deus que tudo observa,
– e sobretudo passa a ideia que o tempo e o espaço são ilusões da nossa limitada perceção.
O filme é assim muitíssimo interessante.
O filme ajuda-nos a refletir filosoficamente sobre as nossas próprias escolhas, e as consequências que poderão ter.
O filme é todo sobre isto: as nossas escolhas.
Tudo pode ser mudado. Tudo pode ser diferente. A realidade é feita por nós, pelas nossas escolhas.
Tudo é possível, até fazermos uma escolha. Se preferimos não escolher, isso também é uma escolha.
O filme mostra-nos como o passado inevitavelmente molda o nosso futuro (colapsando uma realidade, em face de diferentes possíveis futuros).
Cada escolha, por mais insignificante que seja, pode ter um enorme impacto no futuro, alterando-o consideravelmente, levando mesmo a que toda a nossa vida seja completamente diferente… e não temos qualquer controlo sobre isto (somente sobre a nossa escolha).
O filme conta a história de Nemo Nobody, um homem de 118 anos, que é o último mortal na Terra, sendo que a Humanidade já atingiu o patamar da imortalidade (através da contínua renovação celular). Estamos no ano 2092.
Nemo conta os 3 momentos mais importantes/críticos da sua vida: o divórcio dos seus pais quando ele tinha 9 anos de idade, quando se apaixonou aos 15 anos de idade, e aos 34 anos de idade quando já era um adulto.
Histórias alternativas partem desses momentos, e o desenrolar da sua vida é examinado a partir dessas circunstâncias (caso ele tivesse feito escolhas diferentes).
Ele “lembra-se” de diferentes futuros que podia ter tido.
Em primeiro lugar, ele tem que escolher sob que pais quer nascer.
Depois, aos 9 anos, com o divórcio dos pais, tem que decidir se quer ir viver com o pai ou com a mãe (num dos casos, fica com o pai; no outro caso, fica com a mãe).
Na realidade alternativa em que ele vive com a mãe e o padrasto (Harry), ele rebela-se contra a família. Na escola, ele apaixona-se por Anna. Certo dia, Anna pergunta-lhe se ele quer ir nadar com ela e com os seus amigos.
Numa realidade, Nemo responde que os amigos dela são idiotas e que ele não nada com idiotas. 19 anos mais tarde, ele encontra Anna e os dois filhos dela. Têm uma conversa breve e cada um vai para o seu lado.
Noutra realidade, ele diz a Anna que não sabe nadar, e ela fica com ele na praia. Eles começam a namorar. No entanto, Anna é filha de Harry. Quando a mãe de Nemo e Harry acabam o relacionamento, Nemo e Anna separam-se (Anna vai viver para NYC). Anos mais tarde, eles reencontram-se, continuam apaixonados, Anna dá a Nemo o seu número de telefone e diz-lhe que depois combinam como se encontrarem no farol. Mas Nemo perde o número de telefone. Espera todos os dias por Anna no farol, mas Anna nunca aparece. Ele fica um sem-abrigo.
Noutra realidade, Nemo e Anna ficam juntos, casam e têm filhos. Um dia, a vir do trabalho, ele tem um acidente rodoviário e cai num lago, morrendo.
Na realidade alternativa em que ele vive com o pai, ele cuida do pai (que fica incapacitado fisicamente), escreve em casa histórias de ficção científica sobre viagens a Marte, e apaixona-se por Elise.
Numa realidade, ele descobre que Elise tem um namorado. Frustrado, vai passear na sua mota, tem um acidente, e passa a viver no hospital num estado vegetativo, com o corpo paralisado.
Noutra realidade, apesar de saber que Elise tem namorado, ele não desiste dela, e anos mais tarde Nemo e Elise casam.
Numa realidade, quando voltam do casamento, Elise morre num acidente. Ele tinha-lhe prometido espalhar as suas cinzas em Marte, e é o que faz. Na viagem de volta de Marte, ele conhece Anna, mas imediatamente a nave espacial é destruída pela colisão de meteoroides.
Noutra realidade, Nemo e Elise têm um casamento longo, com 3 filhos. No entanto, o casamento é infeliz, já que Elise tem graves problemas psicológicos. Ela deixa o casamento com Nemo, para ir atrás do seu primeiro amor, Stefano.
Ainda noutra realidade, após Elise rejeitar Nemo por ter namorado, Nemo decide casar com a primeira mulher que dançar com ele. Nemo conhece Jeanne, dançam juntos, casam e têm 2 filhos. No entanto, Nemo sente-se infeliz e aborrecido com a vida que leva. Nemo decide deixá-la. No aeroporto, vê um motorista com um sinal a dizer Daniel Jones. Ele faz-se passar por esse passageiro e é levado para um hotel. Enquanto toma banho, é assassinado e o seu corpo é largado na floresta.
Tudo isto é contado por Nemo a um jornalista, como se fossem memórias de Nemo.
Mas claro que todas as diferentes avenidas da vida, não podem ser memórias de Nemo.
Na verdade, nem ele nem o jornalista existem. O jornalista é somente uma memória de Nemo, quando tinha 9 anos de idade, e foi obrigado a escolher entre o pai e a mãe, e viu o jornalista dentro do comboio na estação onde ele teve que fazer a escolha.
Percebendo que todas as possíveis escolhas que poderia ter feito, deram errado, ele volta ao momento da escolha aos 9 anos de idade. Ele decide por uma 3ª opção: não escolhe qualquer dos pais. Ele abandona ambos os pais e foge. Já adulto, sendo um sem-abrigo, ele espera por Anna no farol. Ela aparece.
5:50 da manhã do dia 12 de Fevereiro de 2092, é a data e hora da morte do último humano mortal, Nemo.
Nessa altura, o Universo para a sua expansão e começa a contrair. O cosmos reverte o sentido do espaço-tempo.
Nemo torna a viver e percebe que vai ficar mais novo. Também percebe finalmente que vai ser feliz, porque encontrou o seu único amor: Anna.
Pessoalmente, gostei bastante do filme, apesar da sua complexidade me deixar confuso algumas vezes.
Provavelmente gostei também derivado disso: por ser um filme estranho pelos padrões normais.
Adorei ter visto os jornais em 2092 com imagens que se movem – como em Harry Potter.
Gostei de terem acertado na gravidade de Marte.
Gostei bastante de no início terem falado na “superstição dos pombos“, para mostrar que todos nós cremos em padrões que não existem, criando rituais supersticiosos que nada influenciam o resultado final (mas que nós pensamos que sim).
Não gostei da narrativa não ser linear. Torna o seguimento do filme bastante confuso…
Não gostei de algumas ideias pseudo que o filme promove, como por exemplo a ideia de que “anything is possible” ou a ideia de que podem existir realidades “sobrepostas”.
Mr. Nobody é atualmente considerado um filme de culto, neste género de filmes de reflexão filosófica.
9 comentários
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Já escrevi algures uma opinião sobre este filme de acordo com o que li, pois não o vi. Mas é uma opinião muito limitada, pois limita-se às possíveis escolhas de um futuro, quando são abordados assuntos igualmente importantes que eu gostava de ver tratados em filmes de ficção científica ,pois alguns já têm explicações bem comprovadas.
Vou procurar o filme e tentar vê-lo.
Falando em boas ideias
THE SLOW SCIENCE MANIFESTO
( http://slow-science.org/ )
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😀
Eu não partilho bem da vossa opinião. Quando vi o filme, escrevi a seguinte crítica:
“Esperava melhor deste filme. Embora em geral seja bom, acaba por ser aborrecido, por desenvolverem em demasia as várias novelas, sendo que o “mistério” fica praticamente resolvido nos primeiros 15 minutos do filme, o que me parece um grande erro no enredo, pois caso assim não fosse o filme poderia ser bem mais interessante. Além disto, há ainda o “detalhe” da originalidade, que é quase nula.”
Author
Marinho,
Mas se o Nemo não tivesse explicado desde o início como seria o filme… aí é que eu não perceberia nada 🙂
Se já é confuso, sabendo como vai ser… imagina que não sabia 😛
Ou seja, o Nemo fez isso, contou as coisas, para pessoas como eu poderem perceber 😀 ehehehehehe 😀
abraços 😉
Um dos filmes mais interessantes que eu já vi.
Author
Segui sua sugestão 🙂
http://www.astropt.org/2014/08/06/correndo-contra-o-tempo/comment-page-1/#comment-417324
Pois é, eu lembro haha
Muito boa a análise, venho assistindo quase todos os filmes (que eu ainda não assisti) que você analisa aqui.
Author
🙂